quinta-feira, 31 de maio de 2012

Automóvel e caminhão no Brasil são fetiches?





Por Ateneia Feijó (*)

Há brasileiros que embarcam em avião com destino a um país distante, em busca de um lugar “primitivo” para viver uma grande aventura. Geralmente são jovens de férias ou turistas a fim de emoções fortes. Ah... Se viajassem pelas bandas deste Brasil de ônibus, trem ou barco descobririam que os caminhos temerários estão aqui.

Não, não é brincadeira. Nosso sistema de transporte é absurdamente desconfortável e perigoso para a maioria dos viajantes.

No último domingo (27/05) O Globo publicou a primeira reportagem da série “O Brasil que não viaja de avião” realizada por duas duplas: Henrique Gomes Batista e Liane Thedim; e Domingos Peixoto e Márcia Foletto.

De cara fica explícito que além de investir pouco, o governo investe mal em infraestrutura. Afetando a competitividade do país e a qualidade de vida das pessoas.

Essa história, entretanto, começa bem antes: em meados do século passado. Ou melhor, desde a “era” Juscelino Kubitschek. Afinal, o presidente que construiu Brasília também impulsionou a implantação definitiva da indústria automotiva no Brasil. Inaugurou, em 1956, a primeira fábrica de caminhões (Mercedes-Benz) com motor nacional!

Onde? Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Foi daí que surgiu o maior parque industrial da América Latina, no Estado de São Paulo. Quer dizer, uma vantagem e uma desvantagem para os brasileiros.

A partir dele, o sistema de transporte neste país se tornou irracional. Por quê? Porque não houve um plano para integrar as estradas de rodagem a ferrovias e hidrovias. Elas simplesmente passaram por cima do que já existia e funcionava até direitinho.

Ou seja, todos os investimentos e incentivos foram direcionados à cadeia industrial automobilística, deixando a estrutura ferroviária ao léu.

Sem manutenção e renovação, trens descarrilharam e cidadezinhas que existiam em torno das estações acabaram morrendo junto com elas.

Se tivesse sido diferente talvez hoje fossem médias cidades. E as linhas férreas, modernizadas, um meio de transporte bacana beneficiando pessoas e empresas, facilitando crescimento com sustentabilidade etc.

Não dá para ficar no se, se... Mas nestes tempos ecológicos não daria para mudar a situação surrealista do transporte brasileiro?

Seria a indústria automotiva um fetiche?

Por que os técnicos do governo e a sociedade civil não se conscientizam de que é importante fabricar trens, barcos e navios? Construir linhas férreas, portos, eclusas. Metrô! Sem corrupção...

----------
(*) Publicado no Blog do Noblat em 29.05.2102. Fui lendo este texto e lembrando de minha infância em Bom Conselho, quando meus pais criavam coragem e pegavam a “sopa” para ir a Garanhuns. Foi lá que vi um trem pela primeira vez. Era um bicho feio danado, embora me diziam que ele não fazia mal a ninguém. Lembro até do apito, que pela primeira vez ouvido me deu muito medo. Fiquei pensando porque aquele trem morreu. Ora, se ele não fazia mal a ninguém, por que o mataram?

E hoje, só se fala em duplicação de rodovias. Há um vereador em Bom Conselho que quer se eleger tendo como promessa de campanha a duplicação da rodovia que vai de Garanhuns a Bom Conselho. É verdade, a indústria automobilística virou um fetiche. Os outros meios de transporte estão mortos. Por que não se pensa em reativar as ferrovias? Tarde demais? Caro demais? Eu mesma adoraria ouvir outra vez lá em Garanhuns, o apito do trem. Embora eu saiba que hoje, eles nem apitam mais. Mas, em sonho tudo pode (LP)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Vilma e Lula. Mais um dia de faxina...






Ontem foi o dia de faxina aqui em casa. Mais uma vez a Vilma, minha faxineira, adentrou o recinto e limpou tudo bem direitinho e arrumou as coisas todas, inclusive os brinquedos dos meus netos, que agora vivem às turras por causa deles. O mais velho, que já tem incrustado noções do direito de propriedade, dá gritos enormes no mais novo quando ele tenta usurpá-lo. E nesta luta ideológica quem sofre são os brinquedos e sobra para mim e para a mãe, ou mesmo para a faxineira, no dia em que ela vem.

Desta vez não houve a rotina normal na abertura da porta. Esta foi quebrada por um diálogo, que tentarei transcrever abaixo. Se vocês perguntarem ao Nelson Jobim se ele realmente ocorreu, ele vai dizer que sim mas, ele não ouviu nadica de nada.

- Bom  dia, D. Lucinha!

- Bom dia, Vilma, tudo bem?

- Mais ou menos!

- Vá, minha filha “conte seus pecados” [com um ar de riso] porque sei que quando você me responde assim, não está nada bem.

- É que ouvi no rádio ontem que o Lula pisou na bola, fez besteira e parece que foi consequência ainda de sua doença. Mas, ele não tinha ficado curado do câncer, D. Lucinha?

- Vilma, eu tenho quase certeza que isto não tem nada a ver com o câncer de Lula ou com os remédios que o Lula tomou. O negócio foi pouca vergonha mesmo. Dizem que, quem conhece o Lula na política sabe que ele é capaz de fazer besteiras piores. E até agora ele tinha era dado sorte demais. Dizem até que na época do sindicato, era pior. O Zezinho, não sei se você conhece, ficou de me emprestar um livro sobre ele, que conta tudo. O homem é o que se chamava lá em Bom Conselho de “embuanceiro”  que quer dizer encrenqueiro e que não mede as consequências dos atos. Mas desta vez parece que ele se ferrou.

- Quer dizer que o Bolsa Família vai se acabar D. Lucinha? Este é o meu medo!

- Vai não, Vilma! Eu já te disse que quem dá o Bolsa Família não é o Lula, ele até nem é mais presidente, agora é a Dilma, que nem é mais sua colega de faxina. Agora dizem que ela é a “empreguete” do Lula. Mas, com estas besteiras que o Lula anda fazendo eu penso que ela vai pedir demissão, e a Marisa vai voltar a ser a “empreguete”, pois não quer ser mais “piriguete”.

- A senhora tá vendo a novela das “empreguetes”?  Lá no bairro só é em que se fala agora. Mas, eu também presto atenção nas coisas do Lula e fiquei preocupada com o noticiário. O que ele fez mesmo, D. Lucinha?

- Ele marcou um encontro com um ministro do Supremo, que é um “graúdão”, para chantagear ele, dizendo que ele andava com o Demóstenes Torres. Talvez, você não tenha ouvido falar deste senhor. É um senador que pousava de Jesus, e por trás agia como Lúcifer, sendo amigo de um meliante da contravenção. O Lula disse para o graúdo que, se ele adiasse o julgamento do mensalão, ele protegeria o senador. Coisa de Dom Corleone [obrigada Hadriel]. Aí este graúdo deu com a língua nos dentes para a revista Veja.

- Êita!

- Foi, mulher! Deu o maior bafafá. Parece que agora o Lula vai cair do cavalo, e de presidência, talvez ele só consiga a da Escola de Samba Gavião da Fiel. Embora, que este povo brasileiro, e me desculpe a parte que lhe toca, Vilma, esquece fácil, e só lembra das bolsas que o PT anda distribuindo.

- D. Lucinha, por falar em PT, ontem passou um barbudinho lá em casa perguntando se eu era filiada deste partido. Quando eu disse que não, ele fechou a cara e foi se embora sem nem dar satisfação. Depois chegou um baixinho, que eu até já vi na TV, perguntando a mesma coisa, e respondi o mesmo. Então ele disse, então compareça a um lugar, que não gravei, para votar em quem você quer que seja prefeito do Recife. Eu vou nada....

- É Vilma, aqui no Recife, este partido, o PT, está mais enrolado do que o Lula para explicar a tentativa de chantagem. Mas, se conheço bem este povo, ainda corremos o risco deles voltarem.

- Eu lhe confesso que só voto nesse povo pelo Bolsa Família. É uma boa causa, não é D. Lucinha?

- Quem sou eu para dizer que não, Vilma?!

E lá se foi a Vilma para mais um dia de faxina, e eu para curtir meus momentos, não tão desesperada como o Zé Dirceu, pois não corro o risco, ainda, de ser presa. Mas, ficaria mais tranquila, pelo Brasil, se o Lula pegasse pelo menos uma prisão domiciliar, ou até mesmo, uma pena de serviços comunitários, fazendo faxina no que ele sujou este país. Infelizmente, isto é quase impossível, pois para limpar tudo teria que ser um pena perpétua, e não temos esta instituição por aqui.


terça-feira, 29 de maio de 2012

30.000 acessos, e nem um espumante...





Ontem enquanto meditava sobre as peripécias do Lula, que antes, para mim, não valia nem 1,99 e hoje, depois do que aprontou, não vale nem 0,99, eu olhei para o meu contador e vi que havia atingido a marca dos 30.000 acessos. Fiquei toda pimpona. E confesso que seriam mais se o “céu de brigadeiro” que pairava sobre minha cabeça, quando criei este blog, houvesse continuado. Deus assim não o quis e sejam feitos os seus desígnios.

Não há como não fazer comparações, e sempre, puxando a brasa para minha sardinha, eu penso que o Blog da Lucinha Peixoto está dando o recado que eu queria que ele desse, modéstia à parte. Não sendo um blog popular ou de variedades, e sim apenas o fruto do desejo de uma dona de casa, que, quase beirando a boa idade, resolveu se meter ativamente na política, sendo cerceada por muitos, ele é lido e discutido e isto é que é importante, para mim.

Apesar de ser um blog de oposição, de cabo a rabo, procura sempre dá a César o que é de César e a Lula o que é de Lula. Ao César, meu neto, dou carinho e amor, ele merece. Ao Lula e suas apedeutices, críticas e desejos para que ele volte para Caetés, para aporrinhar apenas o Zezinho, e quem sabe, o Rafael Brasil (pelo que leio dele, ele quer distância do conterrâneo, mas, talvez o Roberto Almeida o hospedasse em Garanhuns ou Capoeiras).

Pensando bem, eu não sei como se pode ser da situação neste país. Pensando melhor, eu sei sim. Basta está sendo beneficiado por um programa social, tanto dos pobres (Bolsa Família, Bolsa Miséria, etc.) quanto dos ricos (Bolsa BNDES, Bolsa IPI,  Bolsa Publicidade, etc.). Eu, como já passei da idade para entrar num destes, pois nem no Minha Casa Minha Vida quero entrar pois consegui morar sem ajuda do governo atual (embora tivemos a ajuda, muito tempo atrás do Sarney, que congelou nossas prestações e deu metade de nossa casa de presente), estou livre para fazer oposição.

Então, sempre que vejo um blog, um jornal, uma revista elogiar o governo, ao invés de ir logo lendo qualquer texto, eu procuro logo o patrocinador. E nunca erro, normalmente é algum órgão do setor público, destilando as benesses do lulo/dilmismo. Então eu vou reler a VEJA. E por falar nesta revista, ela cansou de demitir ministros. Agora, seu objetivo é colocar o Lula na cadeia, que, se verdadeiras as acusações, é onde ele deveria estar por tentativa de obstrução da justiça.

Você imaginaram, eu, apenas uma pré-candidata a vereadora em Bom Conselho em 2016, chegando para uma autoridade do judiciário e dizendo que a renúncia da Mamãe Juju não houve, que o Roberto Almeida é que foi um “barrigudo” que o nosso jornalista-mor o Luis Clério havia se enganado, e portanto, vamos deixar a pressão em 12 x 8?  Se esta autoridade fosse honesta e séria, como penso que ainda é o STF, me mandaria para xilindró.

Mas, deixemos isto para lá, por um instante, e brindemos aos nossos 30.000 acessos. Como não estou em perfeita forma, não tive tempo nem de fazer um bolinho ou um pão de mel, e nem mesmo abri um espumante, que já está subindo de preço com a subida do dólar, se não for do Vale do São Francisco. Apenas comemoro sozinha e com meus leitores a quem devo o blog. E continuarei até que a porca torça realmente o rabo, e nem possa se levantar, com o rabo totalmente preso.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Considerações a respeito de um encontro com hora marcada





Por Maria Helena Rubinato (*)

Lula ainda está se recuperando do tratamento contra o câncer, que lhe abateu muito. Mal anda sozinho. Mal fala sem sentir dor na laringe. Está enfraquecido, é visível.

Nota-se, em todas as suas aparições públicas, a preocupação de dona Marisa em conter sua verborragia e em protegê-lo. Confesso minha admiração por ela: mulher vaidosa, deixou de lado vaidade e frescuras para cuidar do marido.

De repente Lula ficou curadíssimo de todos os males que preocupam sua mulher e deita falação à toa, tipo papo furado, faz visitinhas sociais com dia e hora marcados por Clara Ant?

Essa visita não pode ser, portanto, considerada como “eu estava passando e me deu vontade de entrar e ver o amigo Jobim e por acaso lá estava o Gilmar Mendes”.

A chegada do Lula e sua comitiva de seguranças deve estar filmada.

Jobim deve ter em seu escritório alguém que faça as compras de frutas, limpe a área de serviço, que note cascas de frutas na lixeira. Ou é o Jobim que faz isso tudo?

Gilmar Mendes tem filha que mora em Berlim. Ganha bem. É homem livre e pode ir visitar sua filha quantas vezes lhe der na telha.

Demóstenes Torres era, até pouco tempo, um senador como outro qualquer: viajava muito e deve ter se encontrado com pilhas de brasileiros lá fora. Serão todos esses encontros suspeitos?

Uma leitora pergunta se o Blog do Noblat não vai publicar o desmentido.

Desmentido de quem? Do Lula? Ele nega o encontro e a conversa?

Do Jobim?

Dos jornalistas que assinam a matéria da VEJA?

Ou dos animadíssimos blogueiros que em convescote na Bahia falam para o mundo?

Como dizem os americanos, give me a break!

Não sei se há palavras a mais ou a menos na reprodução do diálogo entre Lula e Gilmar Mendes. Mas que houve esse diálogo e que foi a pedido de Lula, disso eu não tenho dúvidas.

E ele só teria um motivo para pedir ao Jobim essa reunião: o julgamento que se aproxima.

E, que eu saiba, Gilmar Mendes não dorme de touca...

--------------
(*) Publicado no Blog do Noblat em 27.05.2012. Meus dedos estão coçando para teclar sobre este assunto, mas, minhas condições ainda não permitem, como ao Lula, andar vagando ao acaso pelas letras. No entanto, o assunto é tão sério que não pode ser esquecido por quem se interessa por política. O Zé Carlos, que parece estar tentando descer do muro, hoje na AGD, comentando um filme disse, com outras palavras, que só a subida do câncer ao cérebro poderia ter levado o ex-apedeuta-mor a uma tal atitude e a outras relacionadas ao tema do mensalão. No fundo ele sabe o sapato onde aperto e o calo que dói. Se não acontecer nada que controle o Lula nós ainda seremos aquela grande Venezuela, mas com a crise do imenso Portugal. (LP)

Lula, Bastos e um coração bobo





Por Mary Zaidan (*)

O silêncio anunciado do principal protagonista, os deploráveis joguetes de governistas e da oposição. Tudo enfadonho. Até agora, o único acontecimento digno de nota na CPI mista que deveria investigar as ilicitudes públicas e privadas de Carlos Cachoeira foi Márcio Thomás Bastos, ex-ministro da Justiça de Lula, sentado, atento e aplicado, ao lado de seu cliente contraventor durante mais de duas horas de interrogatório inócuo.

Na semana, a cena só perde para a do próprio Lula, que voltou a vociferar contra as elites – a mesma que teve e tem benesses e benesses de seu governo e do de sua sucessora – e contra a imprensa, rebatendo na tecla de que o Mensalão não passou de uma invencionice para tentar derrubá-lo.

Disse isso de novo, de cara lavada, desta vez dentro da casa legislativa de São Paulo, onde recebia o título de cidadão honorário da cidade. Sempre vítima - do preconceito das elites contra um operário, e até de seus companheiros, que o traíram, como disse nas desculpas públicas que fez ao país no auge do Mensalão -, Lula já deixou claro que não perderá uma única oportunidade para negar o maior escândalo do país, prestes a ser julgado pelo STF.

Além da desfaçatez, os dois episódios trazem outros pontos biunívocos. Bastos argumenta que todo acusado tem direito à defesa. O óbvio do óbvio. Mas não explica por que decidiu defender, entre tantos encarcerados, logo esse réu, metido com entes públicos de primeira grandeza, a maior parte deles integrante do governo a que ele serviu.

Por que esse réu merece ter como defensor um ex-ministro da Justiça? De onde virão os honorários? Da contravenção?

As frases do compositor e cantor Alceu Valença no Facebook são precisas: “dizem que o advogado vai ganhar R$ 15 milhões para defender Cachoeira. Esta dinheirama, certamente, vem do arrombamento dos cofres públicos e trambiques (…). Honorários pagos com dinheiro desviado, ilustre causídico, não é prática ética e moral”.

E completou: “estudei Direito, poderia ser advogado, mas jamais aceitaria defender Cachoeira, nem por uma enxurrada de dinheiro”.

Grande Alceu.

Por gosto, Alceu, 40 anos de carreira na MPB, continua labutando duro e comandando a alegria nos palcos do país.

Por escolha, Bastos aceita clientes de conveniência do poder a que ele serviu e serve.

Por gosto, escolha, confiança na popularidade e na impunidade, Lula insiste em reescrever a história só para proteger a si e aos seus.

Grande Alceu. Ainda bem que temos o seu Coração bobo.


-----------
(*) Publicado no Blog do Noblat em 27.05.2012. O clipe do YouTube é do texto original. É uma música excelente do excelente Alceu Valença. Como estamos carentes de excelências neste nosso país, principalmente, em nosso meio político. Você viram o que o Lula, o “ex mai Love” de Dilma, fez? Uma vergonha, mas depois eu comento, com mais vagar. (LP)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Estado de Emergência ou Chayene no Forrobóm?





Houve uma tempestade num copo d’água em relação à decretação do Estado de Emergência pela prefeita de Bom Conselho. Eu gostaria que esta tempestade tivesse caído em Bom Conselho e acabado com este diálogo de surdos, mas, com muitos falantes.

Resumindo o que captei. O BBCP, doravante chamado de Mister M, publicou que a Mamãe Juju não havia decretado situação de emergência no município por causa da seca. O Dr. Filhinho, que não perde a oportunidade de sair do seu castigo quando pensa que vai fazer um gol de placa, disse que isto era uma sujeira pois sua mainha havia cometido os decretos muito antes. E aí veio o Poeta, e cometeu um texto onde mostrava não entender nada sobre o que seja decretar estado de emergência e suas consequências, citando links e mais links mostrando que Bom Conselho não estava entre aqueles municípios  em emergência. Veio, então um grupo que se denomina de União por um Bom Conselho melhor e só piora as coisas. Copia o texto do Poeta e não diz mais nada.

Então, o Dr. Filhinho, pegou o seu texto e deve ter telefonado para Mamãe Juju dizendo:

- Mainha, eu sugiro que a senhora faça deste texto uma Carta Aberta, para mostrar que estamos por cima da carne seca!

Penso que sua mainha nem sabia nem em que estava se metendo, pois o Dr. Filhinho já havia trocado as mãos pelos pés e sugerido no seu texto, que mesmo seus blogueiros amigos não checaram as fontes, como se, se eles fossem inimigos isto não seria problema. O caso é que não havia problema nenhum porque todos já sabiam que Bom Conselho não estava em Estado de Emergência e o problema era apenas o engano de alguns que a Mamãe Juju não havia agido para que estivesse.

E aí, mostrando os decretos, o Dr. Filhinho derrubou do cavalo vários concorrentes (Mister M, O Poeta, Geraldo Reinaldo, Washington Azevedo e o grupo que não sei quem é),  pois havia sido decretada, não a escravidão como no Samba do Crioulo Doido, mas o Estado de Emergência, embora fosse inútil para o município, pois os outros órgão não aprovaram.

Estes todos deveriam ter aceitado a queda mas sem desanimar, pedir desculpas pela “barriga” e prosseguir na oposição. Mas, isto não ocorreu até agora. Mister M bate na tecla de “se” estivesse em emergência e o Poeta diz que choveu e que não encontrou Bom Conselho na relação dos 70, o que é óbvio. O Geraldo Reynaldo chegou até a mandar um texto para o Blog do Poeta dizendo que os blogs interpretaram mal o que ele falou, embora eu mesmo tenha ouvido ele dizer que havia uma intenção da prefeita em priorizar as festas. Por via das dúvidas, ontem revi o vídeo que a AGD publicou em sua página “Fotos e Vídeos”  e cada um pode tirar suas conclusões.

O importante é o fato de que Bom Conselho estava sofrendo com a seca e mais uma vez, por falta de força política, nosso município não entrou rol dos contemplados com este estado, embora não se possa dizer que os decretos não tenham sido feitos. O problema é que não é somente os decretos  que levam a obter os benefícios, e sim a liderança dos políticos do município diante do quadro de calamidade. E nenhuma apareceu. E agora, tomara que chova 3 dias sem parar para acabar com a guerra da emergência e se começar a discutir o que vem por ai no futuro.

Será que vai haver um Forrobom daquele que o Poeta tanto elogiou no ano passado, agora trazendo até Chayene e as Empreguetes para a exposição de animais, enquanto o município sofre com a seca? O que foi feito pela Mamãe Juju para que fosse decretada emergência no município, além da burocracia dos decretos? Quais foram os outros lideres que se movimentaram em relação a isto, além de acusar a prefeita de inativa? E assim por diante....

E para o meu estado de emergência já escrevi demais por hoje, mas, depois eu volto...

P.S.: Já hoje, vi no Blog do Dr. Filhinho, que agora é chamado pelo Poeta de "Intelectual Mirim", que vem novidades por aí. Certamente, será o anúncio da Chayene e do Fabian para o Forrobóm. Seguindo o "festival" de bobagens que assola Bom Conselho, a oposição deve anunciar as Empreguetes na Praça Pedro  II, antes que mudem seu nome (LP)




quinta-feira, 24 de maio de 2012

O Estado de Emergência em Bom Conselho: "Barriga" ou "Lambança"



A "Primeira Família" de Bom Conselho



Como todos sabem, ainda não estou em perfeito estado de nervos, e nem sei mesmo o meu estado, mas, ontem, não pude deixar de ver a querela sobre a decretação do estado de emergência (quem sabe eu esteja neste estado?) lá em nossa terrinha.

De um lado, com quilos não sabidos, e identidade idem (nada contra), o Mister M (será ele ainda?), dizendo que a Mamãe Juju prefere que o povo dance o Forróbom do que salvar seus animais da seca. Do outro lado, o Dr. Filhinho, peso pena (por isso o chamam de “Gordurinha”), munido de RG e CPF (para mim não representam nada) dizendo que sua mainha já havia decretado emergência e re-decretado .

Penso que todos já viram os blogs e a repercurssão desta chamada “lambança”, pelo Dr. Filhinho, provando que é um leitor assíduo meu desde o Blog da CIT (é uma pena que não registrei o termo “lambança”, pois iria ganhar muito dinheiro), e que eu só me meto para dizer umas poucas coisas, e citar a mim mesma, há dois anos atrás.

Se é verdade que a Mamãe Juju já decretou emergência, então a oposição e o Mister M é que tem que explicar porque não sabiam do decreto.  Como digo abaixo, fontes (além de não usar camisinha) também geram “barrigas” e a única solução é fazer como eu e pedir desculpas públicas, com eu fiz (vejam texto abaixo). E mesmo porque o problema não é decretar ou não decretar emergência, que deve mover a oposição, e sim fazer com que ela funcione, o que, pelo vídeo que vi na AGD, isto não está acontecendo em Bom Conselho.

O Dr. Filhinho, em seu blog, ficou horrorizado por este fato da seca ser usado politicamente. E eu pergunto: E pode usar a pressão 12 x 8? E a retroescavadeira? E o asfalto ao apagar das luzes do governo? O problema é que o Dr. Filhinho é apenas filho da Mamãe Juju, e apenas isto. Se o que se noticia é bom para a mainha, não é coisa suja, mas se é contra ela, é. A sujeira é não dizer a verdade e isto precisa ser pesquisado e esclarecido ao distinto público.

Alguém vai sair queimado desta história, que pode ter sido uma barriga ou não. Isto não esconde o fato de que o povo está sofrendo com a seca e que uma governante tem que ter sensibilidade política para ponderar as devidas prioridades. Tem que botar os decretos para funcionar e acudir as pessoas que sofrem vendo seus animais morrerem, e não fazer como anos atrás se dançava o Forrobom sobre os escombros gerados pela cheia. Isto é o que a oposição deve estar de olho, ao mesmo tempo que pede desculpa pela “barriga”, se ele houve de verdade.

Abaixo eu reproduzo um texto meu, escrito em 03.06.2010 no saudoso Blog da CIT (aqui), que orienta o distinto público (mesmo com um pouco ainda de vergonha da minha parte, embora, o Dom Fernando Saburido já me tenha perdoado) sobre “barrigas” e “lambanças”.

----------

Se não foi "Barriga" então foi "Lambança"


Acabei de escrever um comentário no Blog do Roberto Almeida, que não sei se vai ser publicado ou não, com o seguinte teor:

“Caro Roberto Almeida,

Realmente seria muito ingênua se quisesse fazer vocês de bobos. Talvez tenha querido chamar vocês de “barrigudos”. Mas, justiça seja feita, o maior “barrigudo” foi o Inaldo Sampaio, que, segundo você: “Os blogs todos saíram na frente, frisando que tudo começou com Inaldo Sampaio.” Os outros citados por você só fizeram a “barriga” crescer, e se não fosse a Nota Oficial da Prefeita, que vocês deveriam ter esperado, ou, pelo menos, dizer que aguardavam sua manifestação, todos já teriam parido um rebento feio e remelento.
Meu artigo, ingenuamente como você diz, não quer chamar nossa prefeita de mentirosa, quando ela diz que “NUNCA HOUVE A POSSIBILIDADE DE RENÚNCIA”, e duvidar de uma frase citada pelo “barrigudo-mor” Inaldo pelo marido da prefeita. No mínimo ele deveria ter informado quem disse isto, ou eu devo acreditar que isto foi dito a ele próprio pelo José Alípio? Eu respeito o sigilo das fontes, mesmo não sendo jornalista com 30 anos de estrada (mas com 50 que os leio), mas fontes também geram “barriga”, e me acredite caro amigo, não houve “renúncia da renúncia”, e sim “barriga da barriga”.
Um abraço

Lucinha Peixoto (Blog da CIT)”

Minutos após fazer isto fui à minha caixa-postal de mensagens e encontrei a seguinte, de autoria do nosso jornalista maior: Luis Clério.

Lucinha,

A verdadeira versão da história da renúncia, que para o bem de Bom Conselho, não se concretizou: A vice-prefeita Cleonides Tenório Cavalcante/Dida foi convidada por Zé Alípio, para uma reunião na sua residencia. O assunto: a renúncia de Judith. Mais tarde os secretários foram chamados e informados da decisão. Tentaram reverter a situação, mas não conseguiram. Então, como não poderia ser diferente, aproveitaram a presença de Dida e colocaram os cargos a sua disposição. Tudo acertado, o secretário de Administração ficou com a responsabilidade de providenciar a carta renúncia para encaminhamento à Câmara de Vereadores para que a posse acontecesse na sexta-feira, 04. É quando a notícia chega ao conhecimento da população e começam os questionamentos, as variadas versões e a satisfação de alguns segmentos oposicionistas.
Por volta das 19 horas a residência de Judith começa a ser invadida por amigos que foram tentar a última cartada. Lá já se encontrava o contador oficial da PMBC conversando particularmente com a gestora, finda a conversa ela vem ao encontro de todos, que de um em um se pronunciam pedindo para que não houvesse a renúncia e que ela poderia cuidar da saúde mesmo no poder. Todos os secretários, ocupantes do segundo escalão presentes, cinco vereadores de um total de nove; prefeito e vice de Terezinha. Com toda essa movimentação Judith e Zé Alípio atendiam ligações telefônicas com apelos para evitar a saída da prefeita. É quando finalmente ela concorda em permanecer no comando, com os nossos aplausos.
Da Nota Oficial que foi divulgada no dia seguinte, discordamos. A verdade poderia ter sido dita e acrescentar que a prefeita atendeu aos apelos do povo. Nunca a versão da Nota Oficial.
Lucinha, os blogs, neste caso divulgaram a verdade e Dr. José Alípio fez realmente a declaração.
Para o bem de Bom Conselho não haverá mudanças no Poder Executivo, até alguns oposicionistas pensam assim.
Abraços,

Luiz Clério”

Aí eu pergunto: E eu, como é que fico? E respondo: Muito mal!!! Terrivelmente mal por ter acreditado numa nota oficial de nossa prefeita. O que me resta fazer tomando como a versão verdadeira esta do Luis Clério, na qual acredito, da mesma forma que acreditava na prefeita até minutos atrás? Pedir desculpas, imensas desculpas aos meus colegas blogueiros, tanto da CIT quanto os outros, principalmente ao Inaldo Sampaio, a quem chamei injustamente de “barrigudo-mor”, e hoje, ir me confessar por este pecado quase mortal. Verei se encontro o próprio D. Fernando Saburido, pois só ele terá poder para me perdoar.

Agora eu quero saber quem escreveu esta nota e qual a responsabilidade da prefeita neste episódio e qual o papel de seu marido e filhos no governo do povo. Se ela estava sabendo de tudo isto, o que houve foi uma verdadeira “lambança”, e nós mulheres e admiradoras da prefeita não merecíamos isto.

Desculpem-me todos pela minha ingenuidade, falada pelo Roberto Almeida, e agora comprovada. Eu fui levada a ficar de “barriga” e cometer uma “lambança” enorme. Perdão, senhor misericórdia!

Lucinha Peixoto

----------
P.S.: 1) A foto que ilustra esta matéria é da postagem onde eu defendia com umas e dentes a Mamãe Juju (aqui), no episódio da renúncia, e queimei a língua e quase não fico boa da "barriga".

P.S.: 2) Depois de haver escrito o texto acima a AGD já publicou outras matérias sobre o fato. Inclusive uma do Blog do Poeta copiada por um grupo de oposição e lançada por outros nomes (quem forma o grupo?). E a prefeita lança um carta aberta à população, escrita pelo Dr. Filhinho, é óbvio, e com suas mesmas ideias. Estas informações não invalidam nada do que eu disse acima. Depois voltarei ao ponto.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Lula, o "ex mai love"




Todos que me acompanham neste humilde blog (e mesmo antes no Blog da CIT) sabem que sou fã de novelas desde os tempos do rádio. Jerônimo o Herói do Sertão, eu não entendia muito, pela minha criancice mas, minha mãe já ouvia, enquanto eu brincava pela sala. Hoje, eu curto as da TV, e pela qualidade de produção e também pelo time que a emissora criou neste setor, eu curto aquelas da Globo.

Há uma novela agora chamada “Cheias de Charme” que é um charme. Ela enfoca a vida de 3 empregadas domésticas, que estão na tentativa de subirem de classe social, através dos meios mais usados atualmente (cantor, compositor, jogador de futebol, maria chuteira, etc.).

A novela mostra gente de todas as classes, mas pelo andar da carruagem, a glória vai ficar com as “empreguetes”, como são chamadas as funcionárias do lar, pelos autores. A novela ainda está praticamente iniciando e não podemos saber com certeza o seu final, mas, até agora, o roteiro é brilhante e o que mais chama atenção é a trilha sonora, que é puro “tecnobrega”, que é um síntese do popular com o meio eletrônico que produz uma mistura explosiva, como a música de abertura cantada pela Gaby Amarantos, que pelo jeito, e sem preconceito, era uma “empreguete” lá no Pará e desceu cheia de glória ao resto do Brasil. Vejam a letra ouçam a música completa no final desta postagem:

Meu amor era verdadeiro,
O teu era pirata
O meu amor era ouro
E o teu não passava de um pedaço de lata
Meu amor era rio
E o teu não formava uma fina cascata
Meu amor era de raça
E o teu simplesmente um vira-lata

Ex my love, ex my love, se botar teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99
Ex my love, ex my love, se botar teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99

Meu amor era verdadeiro,
O teu era pirata
O meu amor era ouro
E o teu não passava de um pedaço de lata
Meu amor era rio
E o teu não formava uma fina cascata
Meu amor era de raça
E o teu simplesmente um vira-lata

Ex my love, ex my love, se botar teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99
Ex my love, ex my love, se botar teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99

Voltei e reli a letra, e não sabendo quem é o autor eu comecei a pesquisar em minha cabeça política que ela poderia ter sido escrita pela presidenta Dilma, pensando no Lula, que a cada dia se comporta como uma das personagens da novela, a Socorro Cordeiro de Jesus, que só entra em cena para fazer lambanças homéricas, e cujo sonho é ser “personal colega” de uma cantora famosa.

Basta ver as lambanças que Lula anda fazendo depois de sair da presidência, como propor um CPI da maioria que fugiu do  controle da presidenta, lançar um poste para prefeito de São Paulo, que talvez nem ele consiga carregar, depois de dois anos com o poste Dilma nas costas.

Eu li que dias atrás ele outra vez disse que o “mensalão” foi uma tentativa de golpe e que o Haddad foi o melhor ministro da educação da história deste país. Não tem jeito, se continuar desta forma nem a Dilma vai aguentá-lo mais como “personal colega”. Ele está mais para um “ex mai Love”, que, também para Marta Suplicy, se botar na vitrine, nem vai valer 1,99.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O Blog de Bom Conselho Papa-caça voltou. Voltou mesmo?





Ontem fiquei um tempo tentando colocar um recado no Mural da AGD. Não houve jeito para fazê-lo. Não sei o que está ocorrendo, mas, resolvi vir aqui para o meu humilde blog e colocar postagens mais curtas ainda. Pois agora só isto estou podendo fazer.

Isto não é um mal, pois meu treinamento no Twitter serviu para alguma coisa, e já escrevo muito menos do que antes e até consigo dizer a mesma coisa.

O que queria escrever lá eu escrevo aqui, dentro minha nova fase de exploradora de textos alheios, mas, que são muito lidos e têm recebido os elogios merecidos. E o motivo principal desta postagem é a volta do Blog Bom Conselho Papa-caça (BBCP). Em janeiro ele prometeu voltar e eu comentei lá:

Como é? Volta ou não volta? Estou doida para tirar o "in memorian" do no meu blog.

Lucinha Peixoto (Blog da Lucinha Peixoto)”

Eu ainda quero tirar o “in memorian” aqui no meu blog, embora ainda vou demorar um pouquinho. Sei lá se ele de repente para de novo!? Pela primeira postagem voltou ainda na oposição a Mamãe Juju. E de uma forma brilhante, pois até eu havia esquecido do Forrobom, e os efeitos que a seca pode ter sobre a festa. Se a denúncia do BBCP é correta, a nobre prefeita está brincando com as pessoas em Bom Conselho, fazendo malabarismo com asfalto, retroescavadeira, e agora com o a festa de São João. Eu acho que a pressão vai passar de 12 x 8.

E eu já vi que o Poeta já está todo pimpão saudando o novo blog e até repetindo as mensagens que vem nele. Quem diria?! Agora o anonimato se tornou bom para ele e para o Xico Pitomba. Como ele viu que do “governo do povo” não saía mais “money”, agora atira flores para todo lado, menos, é claro, para a Mamãe Juju. Pelo menos eu fiquei livre por uns tempos do meliante Xico, pois agora ele está mais ocupado em puxar o saco de qualquer oposicionista que apareça.

Eu sempre, mesmo quando ainda não fazia oposição a Mamãe Juju, mesmo naquele tempo onde seu governo nem existia (embora eu tenha dúvida até hoje se existiu algum dia) , eu já admirava o trabalho do BBCP pelo alto nível com que ele usava o recurso do anonimato e pela inteligência do seu autor. Naquela época o Poeta ainda vestia calça curta e nem sonhava ser o dono de todo o complexo de comunicações, que nem um dicionário pode comprar.

Que seja bem-vindo o BBCP. A oposição séria do município agradece sua chegada. Pois os blogs de Bom Conselho estão como os pré-candidatos, conversam, conversam e não se definem. Menos o Blog do Poeta, é claro, pois já se definiu por todos, e por isso ninguém acredita mais nele, quando trata de política. Que fique apenas nos anúncios sociais, publicitários e policiais. Assim estará sendo mais útil.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A nova classe média é B, de 'batalhadora'





Por Ateneia Feijó (*)

Sem espanto... Projeções de empresas especializadas em medir o consumo urbano detectaram uma queda da classe C. Seria por inadimplência? Nada disso, a “nova classe média” está passando por outro momento positivo: de ascensão à classe B. Seria o nascimento de uma “nova classe média +”?

Pelo critério da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a faixa de renda familiar da classe C é de R$ 1.126,00 a R$ 4.854,00. A partir daí começa a faixa da classe B que vai até R$ 6.329,00. No Brasil, a faixa de rendimentos acima de R$ 6.329,00 pertence às famílias da classe A.

Você e sua família juntos são classe A e não sabiam?! Muitos se consideram classe B, embora tenham rendimentos da faixa A. Confusão compreensível porque nem sempre levam uma vida fácil. Sem esquecer que ainda existe a classe E, onde ficam as rendas familiares menores de R$ 705,00... aprisionando pessoas à simples sobrevivência.

Foi-se o tempo da subjetividade, quando as classes médias se subdividiam em baixa, média e alta. E não surgiam dúvidas sobre quais eram as classes acima delas: a dos ricos e a dos bilionários. Obviamente, sempre houve mais objetividade para classificação de pobres e de miseráveis. Para o bem e para o mal, politicamente correto ou não.

Está em evidência agora a política econômica que aposta no crescimento do país baseado em estímulos ao mercado interno. Ou à gastança com compras, motivando cada vez mais pesquisas e classificações do poder aquisitivo da população.

Para alegria de quem deseja consumir ou para o julgamento crítico dos saciados, aqueles que já adquiriram o bastante para viver confortavelmente. Além do radical desespero dos ambientalistas.

Pelas estatísticas, dificilmente a classe emergente “consumista” brasileira voltará a se preocupar apenas com o que comer e onde morar. Mas, provavelmente, manterá seus valores morais. E brigará para conservar o que obteve com dinheiro vindo de poupança, empréstimo, financiamento... Em geral com sacrifício e honestidade. Por quê?

Diversos estudiosos têm opinado na imprensa. O sociólogo Jessé Souza, por exemplo, não se refere aos emergentes como “nova classe média”, mas como “batalhadores” com uma vida marcada pela ausência dos privilégios de nascimento (capital social e cultural). Pessoas que conseguem se destacar pela persistência, disciplina, autocontrole, pensamento prospectivo...

Quem se origina de uma família “batalhadora” sabe exatamente do que o sociólogo está falando.

------------
(*) Publicado em 15.05.2012 no Blog do Noblat. Como já mencionei várias vezes aqui e alhures, sou Classe C de antes do Lula e hoje, ao invés de tender para a Classe B, estou seguindo para a Classe D. Até hoje, eu e minha família recusamos ficar endividada para mudar de classe social. Ainda penso que é uma ilusão gerada pelos programas e benefícios sociais em termos de subsídio, e que algum dia virão entregar uma conta salgada que espero não o seja tanto quanto a grega. Enquanto isto não ocorre, fico margeando a Classe D, de “danada” com o Lula. (LP).

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A Semana da Escravidão - A atualidade (*




Quando resolvi transcrever aqui um trecho do livro 1808 do Laurentino Gomes, sobre a escravidão no Brasil, eu pensei que isto seria um capítulo encerrado na historia do nosso país. Então encontrei, no Blog do Reinaldo Azevedo a seguinte postagem, que transcrevo e comento depois:

“Pois é… Acreditem em mim, hehe. Lembram-se daquele texto que escrevi anteontem sobre a tal PEC do trabalho escravo? Afirmei que boa parte dos alojamentos dos canteiros de obras de empreiteiras não segue as regulamentações do Ministério do Trabalho. E indaguei se essas empresas seriam, por isso, expropriadas. Ontem voltei ao assunto. Teria eu bola de cristal?

Ontem, fiscais do Ministério Público do Trabalho encontraram 90 operários da construção civil em alojamentos de uma construtora em Fernandópolis, interior de São Paulo, vivendo em condições que consideraram “análogas à escravidão”. Sabem o que eles faziam? Erguia 577 casas do Programa Minha Casa Minha Vida. Pena a Letícia Sabatella não estar lá. Pena o Osmar Prado não está lá. Tivesse sido aprovada a PEC como está, a empreiteira teria de ser… expropriada!

A notícia saiu no Jornal da Globo. Leiam. Volto em seguida:

Fiscais do Ministério Público do Trabalho encontraram 90 trabalhadores vivendo em condições precárias no interior de São Paulo. Eles trabalhavam na obra de um conjunto habitacional do programa Minha Casa Minha Vida, em Fernandópolis. Imagens feitas por um celular mostram a agonia do trabalhador Antônio Marcos Ferreira Silva, de 39 anos. Ele sofreu um infarto depois de caminhar, debaixo de sol forte, por mais de dois quilômetros para receber o pagamento. “Ficaram de trazer a gente e não trouxeram, aí resolvemos vir andando. Ele falou que estava se sentindo mal, foi caindo e morreu… Logo, menos de 10 minutos, ele morreu logo”, conta o amigo da vítima, José Djalma.

Fotos tiradas por fiscais do Ministério do Trabalho mostram a situação dos 90 homens que vieram do Maranhão e do Piauí, há três meses, para trabalhar num conjunto habitacional do programa Minha Casa Minha Vida, em Fernandópolis, interior de São Paulo. Os operários dizem que chegavam a trabalhar até 15 horas por dia. “Recebia R$ 100, depois vinha outro vale, R$ 300, e nunca vinha o pagamento certo, que era o compromisso. Trabalhava todo mundo por produção, tirava R$ 2 mil, R$ 3 mil, recebia R$ 300, R$ 400, e ia acumulando”, conta o trabalhador Marcos César Martins.

“Isso tudo levou ao Ministério do Trabalho a caracterizar este fato como uma condição análoga a de escravo”, afirma o auditor do Ministério do Trabalho, Carlos César Alves. A construtora responsável pelas obras tinha repassado os serviços para outra empresa. O advogado que responde por esta empresa negou as acusações. “Todo esse fato será apurado em eventual processo administrativo e, no transcorrer do processo, será demonstrado que não houve esse trabalho escravo”, declara o advogado Shindy Teraoka.

Nesta quarta-feira (9) foi feita a rescisão do contrato dos trabalhadores, que vão voltar para o Nordeste. A empresa vai ser multada e o caso encaminhado à Justiça. Após a denúncia, a obra foi embargada. A Caixa Econômica Federal, responsável pelo financiamento do projeto Minha Casa Minha Vida, informou que até o momento não recebeu nenhuma notificação do Ministério do Trabalho quanto à prática de trabalho escravo pela construtora que atua em Fernandópolis.

Voltei

Entenderam o ridículo daquelas perorações “contra os ruralistas” feitas anteontem na Câmara? Expropriar a empreiteira e fazer com ela o quê? Doar aos operários ou entregá-la também à JBS? Isso evidencia o caráter daquela PEC. Era só mais uma ameaça aos produtores rurais, que jornalistas que se alimentam de luz chamam de “raralistas”. Ora, é evidente que é preciso punir quem não oferece a trabalhadores, rurais ou urbanos, condições adequadas de trabalho. Há legislação pra isso. A expropriação do bem, no entanto, e só uma tara ideológica.

Por que não expropriar, então, os bens dos ladrões de dinheiro público, dos corruptos, dos corruptores? De todo modo, parece que um pouco de racionalidade tomou conta da questão e se vai, ao menos, tentar definir o que é trabalho escravo ou “análogo à escravidão”.

Parece evidente que os trabalhadores estavam sendo maltratados e tendo seus direitos violados. Mas era escravidão o que se tinha ali? Ora, como pode haver escravidão sem a privação da liberdade? Os operários estavam impedidos de “fugir”, por exemplo, e denunciar os maus-tratos? Não consta! A gente não precisa conferir à realidade um sentido emocional e ideologicamente orientado para que as coisas pareçam graves. Que a Geccom, nome da construtora, pague por seus erros. Se for expropriada, no entanto, quem vai tomar conta dela?

Isso é só mais um delírio dessa turma do miolo mole. O cumprimento da legislação trabalhista — E TEM DE SER CUMPRIDA — não tem de ser pretexto para relativizar a propriedade privada. É simples assim! Mas sei que a estrovenga tende a ser aprovada. Que seja, ao menos, com a devida regulamentação.”

Como vimos em meu primeiro texto que havia escrito em 2009 e que publiquei nesta série, não adiantou as consequências funestas de uma lei sem o devido respaldo social para conter os efeitos de suas consequências. Muitas vezes, um diploma legal mal feito, causa mais mal do que bem àqueles que ele quer beneficiar, como acho da norma das cotas raciais.

Por tudo que lemos (se alguém leu, é claro) o que publiquei no aqui esta semana, não há solução para melhorar as relações entre os homens do que o aperfeiçoamento ético entre eles e isto passa mais pela educação tanto leiga quanto religiosa de nossa gente, do que por diplomas legais mal elaborados.

Espero ter auxiliado mostrando os livros de história e lembrando dos horrores do que foi a escravidão no Brasil. Agora vamos tratar de outras coisas, esperando que esta chaga se acabe para sempre.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Semana da Escravidão - Os negros escravagistas (*)




Havia no Rio de Janeiro centenas de ex-escravos, os chamados negros forros. Luccock estimou em 1000 o número deles no ano de 1808. Eram diversas as maneiras de um escravo conquistar a própria liberdade. Uma delas era comprá-la mediante o pagamento de uma quantia previamente negociada — geralmente igual ao valor que o seu dono tinha pago por ele. Esse dinheiro poderia ter sido acumulado pelo próprio escravo, em trabalhos avulsos para outras pessoas ou obtido mediante a ajuda de familiares ou mesmo uma irmandade. A liberdade também podia ser concedida pela benevolência do dono do escravo. Havia alforrias com prazo determinado. Por exemplo: o escravo deveria permanecer cativo e prestar serviços até a morte do senhor. Depois disso, estava livre. Essas condições às vezes eram registradas em testamento. Uma terceira maneira era pela intervenção do governo, em casos de abandono, doença ou maus-tratos.

Além disso, havia condições especiais, previstas em lei, que autorizavam a alforria. Estava livre, por exemplo, o escravo que encontrasse um diamante de vinte quilates ou mais, sendo que, nesse caso, o seu proprietário receberia uma  indenização de 400000 réis, quantia suficiente para comprar outros quatro novos escravos. O inglês John Mawe descreve esse sistema de alforria por prêmio nas minas de diamantes do Cerro Frio, em Minas Gerais, que visitou em 1810: “Quando um negro tem a felicidade de encontrar um diamante que pese uma oitava (dezessete quilates e meio), cingem-lhe a cabeça com uma grinalda de flores e levam-no em procissão ao administrador, que lhe dá a liberdade e uma indenização ao seu senhor. Ganha também roupas novas e obtém permissão para trabalhar por conta própria. O que encontra uma pedra de oito a dez quilates, recebe duas camisas novas, um terno novo completo, um chapéu e uma bela faca”. Também era considerado legalmente alforriado o escravo que denunciasse seu dono por contrabando de diamantes. Nesse caso, o próprio escravo receberia um prêmio de 200000 réis.

Uma curiosidade é que muitos alforriados chegavam a enriquecer e se tornavam proprietários de escravos, terras e outros bens. Eram casos relativamente raros, mas a simples existência deles torna o mundo da escravidão no Brasil ainda mais surpreendente. O mais famoso é o da mulata Francisca da Silva de Oliveira, a Chica da Silva do distrito diamantino de Tejuco, em Minas Gerais. Celebrizada no filme do diretor Caca Diegues, de 1976, Chica nasceu escrava, mas conquistou sua liberdade em dezembro de 1753, concedida pelo contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, que a comprara do médico português Manuel Pires Sardinha. Embora nunca tenham se casado oficialmente, ela e João Fernandes mantiveram um relacionamento estável de dezessete anos, período em que tiveram treze filhos. Entre os bens de Chica havia um “significativo plantel de escravos”, segundo o historiador Ronaldo Vainfas.

A alforria não era vista com bons olhos pelo poder público, que considerava a escravidão uma instituição e um fator econômico a ser preservado. A historiadora Leila Mezan Algranti cita o caso da negra forra Clara Maria de Jesus, que pede a D. João a libertação do filho, Jorge Pardo, escravo do padre João da Cruz Moura e Câmara. Alega ela que Jorge era filho de um homem livre, tenente-coronel da tropa de linha em Angola, concebido quando a mãe ainda estava no cativeiro. Clara Maria estava disposta a pagar 200000 réis pela alforria do filho, mas o padre se recusava a fazer o negócio. O pedido foi recusado pelo intendente geral de polícia, Paulo Fernandes Viana. Segundo ele, “ninguém pode ser constrangido a vender seu herdamento” porque “um escravo bom é um achado e uma propriedade preciosa”. No documento, Viana desaconselha dar liberdade aos escravos porque o país não poderia correr o risco de ter uma grande população negra livre. “Os males que da gente preta devemos esperar há de vir (mais) pela de condição liberta que da cativa”, advertia. Termina dizendo que não poderia atender ao pedido de Clara Maria porque “as razões políticas são mais poderosas neste país”.

A liberdade não significava melhoria de vida. No cativeiro, a posse e a manutenção dos escravos era regulada com algum rigor pela legislação vigente. Seus donos tinham a obrigação de alimentálos, dar-lhes moradia e assistência mínima para garantir sua sobrevivência. A lei previa que, em caso de maus-tratos comprovados, o senhor do escravo poderia perder sua propriedade, o que representava prejuízo financeiro. Livres, no entanto, os negros forros ficavam entregues à própria sorte, marginalizados por completo de qualquer sistema de proteção legal e social. Em muitos casos, a liberdade era um mergulho no oceano de pobreza composto por negros libertos, mulatos e mestiços, à margem de todas as oportunidades, incluindo educação, saúde, moradia e segurança — um problema que, 120 anos depois da abolição oficial.

-----------
(*) Reproduzimos hoje e nos próximos dias um trechos do livro 1808 do jornalista e historiardor Laurentino Gomes, sobre a escravidão no Brasil. Uma forma de não repetir os erros é sempre está lembrando do passado. (LP)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Semana da Escravidão - Os castigos (*)




Os museus coloniais estão repletos de instrumentos pavorosos de punição e suplício dos escravos. Havia três categorias de castigo no Brasil, segundo a classificação feita em 1938 pelo historiador Artur Ramos. A primeira era o dos instrumentos de captura e contenção. Incluíam correntes e colares de ferro, algemas, machos e peias (para pés e mãos), além do tronco — um pedaço de madeira dividido em duas metades com buracos para imobilizar a cabeça, os pés e as mãos — e o viramundo, espécie de tronco menor, de ferro. A máscara de folha de flandres era usada para impedir o escravo de comer cana, rapadura ou engolir pepitas e pedras preciosas. Os anjinhos — anéis de ferro que comprimiam os polegares — eram usados para obter confissões. Nas surras, usava-se a palmatória ou o bacalhau, chicote de cabo curto, de ouro ou madeira com cinco pontas de couro retorcido. Ferros quentes com as iniciais do proprietário ou com a letra F — de fugitivo — também eram utilizados, além do libambo, argola de ferro presa ao pescoço da qual saía uma haste longa, também de ferro, voltada para cima, até o topo da cabeça do escravo, com ou sem chocalhos nas pontas. Na prática, três instrumentos eram usados com regularidade: o chicote, o tronco e os grilhões. A punição mais comum era o açoite do escravo, nas costas ou nas nádegas, quando fugia, cometia algum crime ou alguma falta grave no trabalho. No começo do século XVII, o frei italiano Jorge Benci recomendava que as chibatadas não ultrapassassem o número de quarenta por dia, para não mutilar o escravo. Mas há relatos de viajantes e cronistas com referência a duzentos, trezentos ou até seiscentos açoites. Quantidade tão absurda de chibatadas deixava as costas ou as nádegas do escravo em carne viva. Numa época em que não havia antibióticos, o risco de morte por gangrena ou infecção generalizada era grande. Por isso, banhava-se o escravo com uma mistura de sal, vinagre ou pimenta malagueta — numa tentativa de evitar a infecção das feridas.

O pintor Jean Baptiste Debret conta que, no Rio de Janeiro, escravos acusados de faltas graves, como fuga ou roubo, eram punidos com cinqüenta a duzentas chibatadas. Seu dono tinha de comparecer ao calabouço munido de autorização do intendente de polícia na qual deveriam constar “o nome do delinqüente e o número de chibatadas que deverá receber”. O carrasco, encarregado de executar o castigo, recebia uma pataca por cem chibatadas aplicadas. Pataca era uma antiga moeda de prata no valor de 320 réis. “Todos os dias, entre 9 e 10 horas da manhã, podese ver a fila de negros que devem ser punidos”, escreveu Debret. “Eles vão presos pelo braço, dois em dois, e conduzidos sob escolta da polícia até o local designado para o castigo. Para esse fim existem, em todas as praças mais freqüentadas da cidade, pelourinhos erguido com o intuito de exibir os castigados. [...] Depois de desamarrado (do pelourinho), o negro é deitado no chão, de cabeça para baixo, a fim de evitar-se a perda de sangue. A chaga escondida sob a fralda da camisa escapa assim à picada do enxame de moscas que logo procura esse horrível repasto. Finalmente, terminada a execução, os condenados ajustam a suas calças, e todos, dois por dois, voltam para a prisão com a mesma escolta que os trouxe. [...]

De volta à prisão, a vítima é submetida a uma segunda prova, não menos dolorosa: a lavagem das chagas com vinagre e pimenta, operação sanitária destinada a evitar a infecção do ferimento.”

Uma diferença entre a escravidão urbana e a do campo era o regime de castigos. Nas fazendas e minas de ouro e diamante, os escravos eram punidos pelo feitor ou diretamente pelas mãos dos seus proprietários. Nas cidades, essa tarefa era delegada à polícia. O proprietário que não quisesse castigar seu escravo podia recorrer aos serviços da polícia, mediante pagamento. Os negros eram punidos em prisões ou nos diversos pelourinhos espalhados pelas cidades. O cônsul inglês  James Henderson testemunhou uma dessas punições no Rio de Janeiro. O seu relato:

O cavalheiro obteve autorização para que um de seus escravos fugitivos fosse punido com duzentas chibatadas. Depois que seu nome foi chamado várias vezes, o escravo apareceu na porta da prisão, onde os negros ficam confinados de forma promíscua. Uma corda foi colocada ao redor do seu pescoço, enquanto ele era levado para junto de um grande poste erguido no meio da praça, ao redor do qual seus braços e pernas foram atados. Uma corda imobilizava seu corpo de tal maneira que tornava qualquer movimento impossível. O carrasco, um negro degredado, começou a trabalhar de forma quase mecânica e a cada golpe, que parecia arrancar um pedaço da carne do escravo, ele assoviava de uma forma particular. As chibatadas foram repetidas sempre no mesmo lugar e o negro suportou as primeiras cem de forma determinada. Ao receber a primeira e a segunda chibatada, ele gritou “Jesus”, mas em seguida pendeu sua cabeça contra um dos lados do poste, sem dizer mais uma única sílaba ou pedir clemência.

Com exceção do crime de homicídio, a falta mais grave que um escravo podia cometer era a fuga. Quase 16% do total de prisões feitas pela polícia da corte entre 1808 e 1822 era de escravos foragidos. Era um problema antigo. Quase um século antes, em março de 1741, em resposta a um pedido dos mineiros da Província de Minas Gerais, a coroa portuguesa tinha ordenado que todos os negros que fossem achados em quilombos, “estando neles voluntariamente”, deveriam ser marcados com um F (de fugido) nas costas sobre o ombro. Os reincidentes teriam, na segunda fuga, uma das orelhas cortadas e, na terceira, seriam condenados à morte. Apesar disso, as deserções continuaram em grande número. Em 1755, a Câmara Municipal de Mariana, em Minas Gerais, chegou a propor que os fugitivos que fossem capturados tivessem o tendão de Aquiles cortado para que não pudessem mais correr, embora continuassem aptos a trabalhar capengando. A corte achou a medida por demais desumana e anticristã e recusou o pedido.

As áreas ao redor da corte no Rio de Janeiro, repleta de florestas e montanhas, ofereciam refúgio para centenas de escravos fugitivos. A floresta da Tijuca, o Morro de Santa Teresa e as regiões de Niterói e da atual Lagoa Rodrigo de Freitas ficaram famosas por abrigar quilombos. Seus moradores sobreviviam dos produtos da própria mata, coletando frutas, raízes e matando pequenos animais e roedores. Seu principal sustento, porém, eram as fazendas e chácaras vizinhas, que assaltavam com freqüência. Algumas vezes os escravos foragidos conseguiam até mesmo vender na própria cidade o produto dos seus roubos.

Ao contrário do que se imagina, porém, o principal refúgio dos escravos foragidos não eram as florestas e lugares ermos das zonas rurais, mas a própria cidade. Como havia muitos negros e mulatos libertos no meio urbano, esse tornava-se o ambiente adequado para que um escravo se misturasse à multidão. Era praticamente impossível à polícia averiguar a identidade de cada negro nas ruas do Rio de Janeiro para descobrir se se tratava de um escravo ou de um alforriado. Por isso, os jornais da época estão repletos de anúncios descrevendo negros fugitivos e oferecendo recompensa pela sua recapturação, prática que perdurou por muitas décadas e continuou observada até pouco antes da Abolição. Exemplo de anúncio publicado na época:

Fugiu há dois meses da fazenda de Francisco de Moraes Campos, da Freguesia do Belém, Município de Jundiaí, Província de São Paulo, um escravo de nome Lourenço, [...] com os sinais seguintes: idade 30 anos mais ou menos, estatura regular, rosto comprido, bonito de feição, cabelos grenhos, nariz afilado, boca e beiços mais que regulares, sendo o beiço inferior mais grosso e vermelho, boa dentadura, cor retinta, pouca barba, fino de corpo, tem a coroa da cabeça pelada de carregar objetos, pernas finas, pés palhetas e pisa para fora, é muito ladino, é roceiro e muito bom tropeiro. Gratifica-se bem a quem pegar o dito escravo e paga-se todas as despesas que tiver feito até a ocasião da entrega.

A tarefa de recapturar os escravos foragidos estava confiada aos capitães-do-mato. Seu trabalho era semelhante ao dos caçadores de recompensas do Velho Oeste. Armados de laço e mosquetão, eles percorriam as florestas e zonas rurais a cavalo em busca de fugitivos. Usavam como pistas avisos publicados em jornais ou pregados em postes ou placas de beira de estrada. O escravo recapturado era amarrado a uma corda e obrigado a seguir a pé atrás do cavalo.

Alguns capitães-do-mato tinham troncos em casa, usados para amarrar os escravos recapturados enquanto o valor do resgate era negociado com o proprietário. “Os capitães andam armados, mas só empregam essas armas se encontram resistência”, relatou o viajante prussiano Teodor von Leithold. “Aos negros mortos em escaramuças com a polícia, cortam-lhes as cabeças. Entregues à Justiça, são elas espetadas em paus e colocadas nas esquinas das ruas principais como advertência.” Em geral, a quantia paga a um capitão-do-mato girava em torno de 15% a 20% do preço estimado do escravo, incluindo a recompensa pela recaptura, a alimentação e a guarda do fugitivo até sua entrega ao proprietário.

------------
(*) Reproduzimos hoje e nos próximos dias um trechos do livro 1808 do jornalista e historiardor Laurentino Gomes, sobre a escravidão no Brasil. Uma forma de não repetir os erros é sempre está lembrando do passado. (LP)

terça-feira, 15 de maio de 2012

A Semana da Escravidão - O transporte (*)




Um risco adicional do tráfico eram os naufrágios e os piratas que infestavam o Atlântico Sul. Dos 43 navios que transportavam escravos para a Companhia do Grão-Pará e Maranhão durante a segunda metade do século XVIII, nada menos que catorze, ou um terço do total, naufragaram. Na década de 1820, os jornais do Rio de Janeiro registraram dezesseis ataques de piratas a navios negreiros, a maior parte de corsários norte-americanos. Um desses navios, o Estrela do Mar, foi roubado ainda no porto de Malembo. Perdeu todos os 213 escravos que tinha a bordo antes mesmo de iniciar a travessia.

Os escravos a bordo dos navios negreiros eram considerados uma carga como outra qualquer. Um exemplo. No dia 6 de setembro de 1781, o navio inglês Zong, de Liverpool, saiu da África rumo à Jamaica com excesso de escravos a bordo. Em 29 de novembro, no meio do Atlântico, sessenta negros já haviam morrido por doenças, falta de água e comida. “Acorrentados aos pares, perna direita com perna esquerda e mão direita com mão esquerda, cada escravo tinha menos espaço do que um homem dentro de um caixão”, escreveu F. O. Shyllon, autor de Black slaves in Britain. Temendo perder toda a carga antes de chegar ao destino, o capitão Luke Collingwood decidiu jogar ao mar todos os escravos doentes ou desnutridos. Ao longo de três dias, 133 negros foram atirados da amurada, vivos. Só um conseguiu escapar e subir novamente a bordo. O dono do navio, James Gregson, pediu indenização à seguradora pela carga perdida. A empresa de seguros, em Londres, recorreu à Justiça. Pelas leis inglesas, se o negro morresse a bordo, por maus-tratos, fome ou sede, a responsabilidade seria do capitão do navio. Se caísse no mar o seguro cobriria. Nesse caso, a Justiça decidiu que a seguradora tinha razão. O capitão era culpado pelas mortes. O caso abriu os olhos dos britânicos para a crueldade do tráfico negreiro e se tornou um ícone do movimento abolicionista no mundo todo.

No Rio de Janeiro, os traficantes de escravos eram empresários proeminentes, reverenciados e respeitados. Tinham influência na sociedade e nos negócios do governo. Na corte de D. João, eles se destacavam entre os grandes doadores, recompensados com honrarias e títulos de nobreza. Um caso bastante ilustrativo é o de Elias Antônio Lopes, o traficante que, em 1808, presenteou o príncipe regente com o palácio que havia construído na chácara de São Cristóvão. Natural da cidade do Porto, Elias chegou ao Rio de Janeiro no final do século XVIII. Ao doar sua própria casa a D. João, Elias fez um ótimo investimento. Ainda em 1808, recebeu do príncipe a comenda da Ordem de Cristo e a propriedade do ofício de tabelião e escrivão da Vila de Parati, em retribuição ao “notório desinteresse e demonstração de fiel vassalagem, que vem de tributar a minha Real Pessoa”. No mesmo ano, o príncipe concedeu-lhe o posto de deputado da Real Junta do Comércio. Em 1810, foi sagrado cavaleiro da Casa Real e agraciado com a perpetuidade da Alcaideria- Mor e do Senhorio da Vila de São José Del Rei, na comarca do Rio de Janeiro. Também foi nomeado corretor e provedor da Casa de Seguros da Praça da Corte. Por fim, tornou-se responsável pela arrecadação de impostos em várias localidades. Ao morrer, em 1815, era dono de 110 escravos e de fortuna calculada em 236 contos de réis, distribuída em palácios, fazendas, ações do Banco do Brasil e navios negreiros.

Despejados aos milhares no porto do Rio de Janeiro pelos navios negreiros, os escravos eram um bem relativamente barato e acessível mesmo às famílias de classe média da corte de D. João. James Tuckey, oficial da Marinha britânica, relatou que, em 1803, um negro adulto era vendido por 40 libras no Rio de Janeiro. Seria hoje o equivalente a cerca de 10000 reais, menos da metade do preço de um carro popular. Uma mulher custava um pouco menos, cerca de 32 libras. Um garoto, 20 libras. Um negro que tivesse sobrevivido à varíola valia mais, porque já era imune à doença e, portanto, tinha chances de viver por mais tempo. “Comprei um negro por 93600 réis”, contou ao pai o arquivista Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, numa carta escrita no dia 21 de julho de 1811, o ano de sua chegada ao Rio de Janeiro. Esse valor correspondia na época a pouco mais de 20 libras esterlinas, preço de um escravo adolescente — numa outra carta, Marrocos se refere ao seu escravo como “o meu moleque”.

Uma forma muito comum de avaliar o preço de um escravo no Rio de Janeiro era compará-lo ao de um animal de carga. Do ponto de vista dos seus donos, a comparação fazia todo o sentido: ambos se destinavam à mesma atividade. Uma besta adestrada custava no Rio de Janeiro cerca de 28000 réis, valor que, segundo o historiador Almeida Prado, o botânico austríaco Karl Friedrich Phillip von Martius teria pago por um animal em 1817. Ou seja, o preço do escravo comprado pelo arquivista Marrocos era equivalente ao de três mulas de carga. Curiosamente, essa mesma paridade de preço entre um escravo e um animal era observada um século antes nos relatos do padre jesuíta João Antônio Andreoni, autor de Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, um clássico da história brasileira. Andreoni, que escreveu o livro sob o pseudônimo de André João Antonil, relata que, em 1711, “um negro bem feito, valente e ladino”, custava em Minas Gerais trezentas oitavas de ouro, três vezes o preço de “um cavalo sendeiro”.

Escravos eram um patrimônio contabilizável, um ativo a ser explorado ao máximo em busca de retorno. No Rio de Janeiro, toda pessoa com alguma projeção social tinha negros cativos. Relato de 1782 do viajante espanhol Juan Francisco de Aguirre registra que os trinta monges do Convento de São Bento, então o mais rico do Brasil, viviam dos rendimentos proporcionados por “quatro engenhos de açúcar, que empregam 1200 escravos, e de algumas casas de aluguel espalhada pela cidade”. Segundo Aguirre, também os monges beneditinos e os padres jesuítas possuíam escravos nessa época.

Alguns proprietários tinham mais escravos do que o necessário para suas atividades. Os cativos excedentes eram alugados a terceiros. Dessa forma, seus donos conseguiam um ganho extra. Havia até corretores especializados em intermediar esse tipo de negócio — num sistema parecido com o funcionamento atual das imobiliárias e locadoras de máquinas e automóveis. O valor do aluguel era inteiramente repassado ao dono do escravo, sem que o cativo participasse do ganho. “Todos os que conseguem adquirir uma meia dúzia de escravos passam a viver na mais completa ociosidade — explorando os rendimentos do trabalho dos seus negros — e a caminhar pela rua solenemente, com grande empáfia”, descreveu o inglês James Tuckey, em 1803. “Assim, qualquer pessoa com fumaças de nobreza podia alcançar proveitos dos trabalhos mais humildes sem degradar-se e sem calejar as mãos”, observou o historiador Sérgio Buarque de Holanda. O viajante alemão Ernst Ebel contou que, ao chegar ao Rio de Janeiro, em 1824, alugou um negro por 700 réis ao dia — o equivalente a pouco menos de 30 reais atualmente. Insatisfeito com o serviço, demitiu-o depois de algum tempo e colocou um anúncio no Diário Fluminense procurando “uma negra que soubesse lavar e passar a ferro”. Conseguiu contratar uma “pretinha”, segundo sua própria definição, de dezesseis anos chamada Delfina, que lhe saía por 11000 réis mensais, sendo 6000 em dinheiro e o restante em comida e outras necessidades diárias. Por esse valor, que hoje eqüivaleria a aproximadamente meio salário mínimo, “eu dispunha de alguém que não somente me lavava a roupa como a consertava e, em caso de necessidade, entendia um pouco de cozinha, ficando em casa, de mais a mais, o tempo todo, para minha maior segurança”, escreveu Ebel.

Outra forma de escravidão que se desenvolveu, paralela ao trabalho de aluguel, foi o sistema de ganho. Eram aqueles escravos que, após fazerem o trabalho na casa de seus donos regulares, iam para as ruas em busca de atividade suplementar. Vendiam seu trabalho de forma avulsa, a diversos clientes, oferecendo serviços que poderiam durar um dia ou mesmo algumas horas. Era um sistema tão popular que existiam até casas de comércio especializadas no aluguel de escravos. Os escravos de ganho faziam de tudo: iam às compras, buscavam água, removiam o lixo, levavam e traziam recados e serviam de acompanhantes para as mulheres quando iam à igreja. O inglês John Luccock conta que eram usados até para rezar Ave-Maria, em frente aos oratórios espalhados pela cidade na intenção de seus senhores.

No final do dia, os escravos de ganho repassavam parte do dinheiro aos seus donos. A quantia era previamente estabelecida. O escravo que a ultrapassasse podia ficar com a diferença. Quem não alcançasse a meta, era punido. “Essa forma de trabalho era conveniente tanto para o proprietário quanto para o escravo”, escreveu a historiadora Leila Mezan Algranti, uma autoridade no assunto. “O senhor não se preocupava com a ocupação de seus empregados, nem com seu controle. Os negros, por sua vez, viviam soltos pelas ruas gozando de uma liberdade jamais sonhada por seus semelhantes no campo.” Segundo ela, o sistema era rentável, pois havia “senhores” que viviam apenas do trabalho de um ou dois “negros de ganho”. Ao mesmo tempo, havia escravos que, no sistema de ganho, não só conseguiam pagar a quantia combinada com seus senhores como acabavam acumulando dinheiro suficiente para comprar sua liberdade.

-----------
(*) Reproduzimos hoje e nos próximos dias um trechos do livro 1808 do jornalista e historiardor Laurentino Gomes, sobre a escravidão no Brasil. Uma forma de não repetir os erros é sempre está lembrando do passado. (LP)