terça-feira, 20 de agosto de 2013

Acima da razão




Por Mary Zaidan (*)

Ninguém é dono da razão. E aqueles que teimam em sê-lo são os que mais frequentemente a perdem. Por descuido, inépcia ou, mais comumente, por soberba.

O governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), réu confesso quanto aos males de o poder lhe ter subido à cabeça, que o diga. Mas nesse quesito poucos são os que escapam.

A presidente Dilma Rousseff é hors-concours: ela sempre sabe mais, sempre tem todas as certezas. Quando erra, o equívoco sempre é dos outros, nunca dela. Mas, imitando a ficção, mais cedo ou mais tarde a arrogância costuma se voltar contra o protagonista.

O dedo em riste da presidente até era tolerado nos tempos de farta popularidade. Agora, pouco consegue, nem mesmo nos raros momentos em que teria a razão como companhia. Uma das provas disso é a aprovação do orçamento impositivo na Câmara dos Deputados.

O exemplo mais acabado do estrago que a soberba causa à razão vem do presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Ainda que na maioria das vezes tenha a razão ao seu lado, ele é expert em perdê-la.

A história se repetiu nesta semana quando, com linguajar impróprio, Barbosa jogou no lixo a correta acusação que fazia de que o ministro Ricardo Lewandowski estaria protelando o julgamento dos embargos do mensalão. Mais do que perder o embate, o presidente da Corte Suprema deixou escapar a razão, substantivo que pode fazer uma falta imensa nos movimentos seguintes do caso.

O sentimento de ser proprietário da razão também dominou as manifestações que chegaram a ser a maior aposta de mudanças no país. Após o sucesso de junho, manifestantes de diferentes origens passaram a se sentir acima de tudo e todos. E, assim, romperam os ditames da razão.

A invasão da Câmara Municipal do Rio mostra isso com absoluta clareza. Se justiça há em se rebelar contra a contaminação por vereadores governistas da CPI para investigar contratos da Prefeitura com empresas de ônibus, nada justifica a ocupação do plenário e, muito menos, os atos de vandalismo.

Goste-se ou não, os vereadores foram eleitos. A não ser que se queira derrubar o regime em vigor, um grupo – ainda que carregue a razão nas suas reivindicações – não substitui o voto da maioria.

Por definição, razão é bom senso. É a faculdade de compreender, de raciocinar. Não raro, é prudência. Algo que, obrigatoriamente, deveria ser observado por aqueles a quem o país delegou responsabilidades.

Na matemática, razão é a relação entre quantidades, conceito também aplicável à democracia, regime em que a razão da maioria é expressa pelo voto. Fora daí, nada é nem mesmo razoável.
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(*) Publicado em 18.08.2013 no Blog do Noblat. Quase sempre transcrevo aqui os textos da Mary Zaidan, e, quase sempre concordo inteiramente com eles, pela sua concisão e objetividade, o que nem sempre acontece com os meus. Hoje, não concordo com tudo.

Não concordo que o Joaquim Barbosa ter usado uma linguagem imprópria com o Lewandowski. A não ser que ela se refira que ele “pegou” muito leve com o chicaneiro-mor. Não há uma pessoa neste país, e que se interesse pelo julgamento do mensalão e por suas consequências políticas, que não tenha, no mínimo, pelo menos, desconfiado das intenções chicanistas do Lewandowski. O que então o Joaquim poderia dizer a ele diante de sua renitência ao fazer chicana. Nada? Dizer que ele poderia falar até a consumação dos séculos, amém?

Soube também que ele o chamou de “moleque”, já nos bastidores do julgamento. E agora o caso é mais grave, porque foi o Lewandowski, segundo a imprensa, que perguntou: “Você está pensando que eu sou moleque?”, e o Joaquim apenas respondeu que o “achava, sim!”. E quem já se viu, como eu, pela minha cor, ser tratada de “moleca” por brancos sem noção, sabe quanto isto é grave, e nos aflora tanto sentimento, desde antes da Princesa Isabel. Por isso acho que o agressor é o Lewandowski, que vem tentando provocar os instintos mais baixos do Joaquim, com a perguntra, e ele apenas está reagindo à agressão.

Dizem que Lula escolheu o Joaquim como ministro do STF, não pelo seu saber jurídico, mas, sim por ser negro. Vindo de um apedeuta-mor como o Lula eu até admito que seja passável se ele realmente ele fez isto. Mas, de um ministro do STF, este tipo de provocação é um achincalhe e mereceu as respostas que vem tomando na cara.


O que espero é que os outros ministros não decidam fazer chicanas apenas para ser solidário com o chicaneiro-mor, e que mostrem ao Brasil que o Joaquim, ao chamar o Lewandowski de moleque, está mesmo é lhe fazendo um elogio, e assim agindo com toda razão. Pelo menos o grande público acha assim. Nas pesquisas ele já tem mais eleitores do que o Coronel Eduardo, que tem os olhos azuis. (LP)

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