sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O humor do poeta



"Atenção! O luar está filmando."


Por Luis Fernando Veríssimo (*)


“O fantasma é um exibicionista póstumo.”

“Pertencer a uma escola poética é o mesmo que ser condenado à prisão perpétua.”

“Os verdadeiros crimes passionais são os sonetos de amor.”

“A coisa mais solitária que existe é um solo de flauta.”

“A verdadeira couve-flor é a hortênsia.”

“A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.”

“A vista de um veleiro em alto-mar remoça a gente no mínimo uns cento e cinquenta anos.”

“Atenção! O luar está filmando.”

“A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.”

“Os clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.”

“‘Le penseur’ do Rodin... Coitado. Nunca se viu ninguém fazendo tanta força para pensar.”

“A natureza é barroca, o sonho é barroco... O que teriam vindo fazer neste mundo as colunas gregas?”

“O mais triste da arquitetura moderna é a resistência dos seus materiais.”

“O crítico é um camarada que contorna uma tapeçaria e vai olhá-la pelo lado avesso.”

“A expressão mais idiota que existe é ‘adeusinho’.”

“Não sou mais que um poeta lírico,/Nada sei do vasto mundo.../Viva o amor que eu te dedico,/Viva Dom Pedro Segundo!”

As frases e os pensamentos acima não são nem do Millôr Fernandes nem do Ivan Lessa, são de outro humorista brasileiro que também já morreu: Mario Quintana.

Estão no livro “Do caderno H”, que a Alfaguara está publicando junto com toda a obra poética do Quintana, uma compilação do que ele escreveu, durante anos, na sua seção do “Correio do Povo” de Porto Alegre.

Quem já gostava do Quintana poeta vai gostar de descobrir que ele era um dos melhores humoristas do seu tempo.

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A Alice é um encanto, mas não posso deixar que o Zuenir Ventura monopolize o gênero crônica-vovô. Também tenho histórias para contar da Lucinda.

No outro dia o pai e a mãe dela brigavam com ela (alguma ela tinha feito) e ela respondia à altura — e terminou, dramaticamente, perguntando aos céus:

— Onde estão meus verdadeiros pais?!

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(*) Publicado em 27.01.2013 no Blog do Noblat. Eu até já usei uma das frases do Mário Quintana em postagem anterior e foi retirada deste texto do Veríssimo. É um escritor genial prestando homenagem a um poeta genial. São frases simples mas que envolvem temas profundos e que produziriam artigos e mais artigos de filosofia. Um exemplo: “Os clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.” Quem gosta de ler e não sofreu, nesta atividade, ao encarar a Divina Comédia ou mesmo o Príncipe (um preferido meu)? E o Ulisses do Joyce? Que, contam,  foi o livro que traumatizou o Lula na infância, levando a seu ódio pela leitura e também por quem lê os clássicos, como o Fernando Henrique?

Outra: “Atenção! O luar está filmando.” Quem nunca foi namorada ao luar e sentiu aquela sensação de estar sendo olhada? Embora hoje os anúncios de filmagem tenham perdido toda a poesia. Estão em todos os lugares, desde os elevadores até as repartições públicas. Não há nada menos romântico do que aquelas carinhas idiotas que encabeçam a frase: “Sorria. Você está sendo filmado”. Eu prefiro o luar e os Poetas (pelo menos aqueles que fazem poesia e não os somente blogueiros).

Tenho algo a dizer sobre a última parte do artido do Veríssimo que não tem nada a ver com os poetas, mas sim com os avós. Eu adoro ler as crônicas-vovô de todo mundo. Em particular gosto das do Zé Carlos, pois o conheço. O meu neto Júlio faz tanta bagunça e é tão espirituoso que eu penso em escrever, um dia, uma crônica-vovó. Não, ele não me chama de Vovó Lulu, mas eu adoraria que chamasse, porém, não chamaria minhas crônicas (e aqui não vai nenhuma crítica) de Testemunhos da Vovó Lula. Poderia pecar por falso testemunho. Quem sabe um dia, com outro título? (LP)

Um comentário:

  1. Muito bom seus textos, e suas postagens. É sempre bom "passear" no seu blog. Logo eu que não passo de um cavalo batizado em poesia. Com todo o respeito pelos equinos, que são uns animais muito bonitos. E não raras vezes mais inteligentes.

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