Mensalão direto do Ministério da Corrupção (Projeto) |
Por Luis Fernando
Veríssimo (*)
Acho que o problema é que
a corrupção é mal explorada no Brasil. São recursos imensos que passam de mão
em mão sem que o país lucre com isto. Muitas vezes os recursos vão para o
exterior, quando podiam ficar aqui, movimentando nossa economia. Pode-se fazer
um paralelo entre o mau aproveitamento do nosso talento para a corrupção e a
exploração do ouro do nosso solo. Que, como a corrupção, também é feita a céu
aberto, com métodos pouco sofisticados e com grandes perdas para os cofres da
nação.
A corrupção é outra
riqueza natural do Brasil que está se perdendo, não por falta de verbas – no
caso, há um excesso de verba – mas por falta de racionalização. Temos alguns
dos maiores corruptos do mundo agindo por conta própria, na inspiração do
momento, sem método e sem orientação. O próprio governo dá mau exemplo. Há
corruptos em diversos ministérios, cada um agindo em faixa própria. Um
hipotético corruptor que precise de favores ilícitos de mais de um departamento
governamental perde tempo e dinheiro indo de um lado para o outro – sem contar,
claro, o tempo que gasta na sala de espera, entre outros corruptores, esperando
a sua vez, muitas vezes para descobrir que procurou o corrupto errado. Tudo
isto seria evitado com a racionalização da corrupção no país. As pessoas se
espantam com as cifras de um caso Coroa-Brastel, por exemplo. Mas é
inimaginável o que poderia ter sido atingido se houvesse uma legislação
específica para o setor. Os corruptos se ressentem da falta de normas. Muitos
não realizam todo o seu potencial porque não sabem até onde podem ir. Como
raramente são denunciados e nunca são punidos, os corruptos brasileiros não têm
parâmetros para julgar o seu trabalho. Não há incentivo. Não há reconhecimento
para o efeito multiplicador da corrupção na economia. Os corruptos formam um
dos segmentos mais empreendedores e imaginativos da sociedade brasileira. O
descaso das autoridades com eles equivale a um desperdício que a nação não pode
tolerar, ainda mais numa época de crise. A solução talvez fosse a criação de um
Ministério da Corrupção que centralizasse esta importante atividade e a
regulamentasse. Existem vários corruptos eminentes que se prontificariam a assumir
o Ministério, até sem receber nada, só para ter o ponto. O Ministério
estabeleceria metas e cotas para a corrupção e, dependendo da disponibilidade,
subvencionaria o pequeno e o médio corrupto, em troca de comissão. A verba para
o Ministério da Corrupção não seria alocada, como para os outros Ministérios.
Seria desviada. O Ministério participaria das reuniões do gabinete, mas embaixo
da mesa.
Etc., etc.
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(*) Escrito em 12/12/83 e
publicado no Livro “Comédias da Vida Pública” (Ed. L&PM – 1995). Certamente,
se o Veríssimo fosse reescrever esta crônica, ele levaria em conta o PT com a perseguição
da “eficiência” que lhe é peculiar,
tentou, a partir de 2002, criar esta ministério que traria tanto progresso ao
país. Basta acompanhar os noticiários da época para ver o esforço que foi feito
pelo Zé Dirceu, José Genoíno, Delúbio, Silvinho Land Rover, et caterva, para
que o Ministério da Corrupção fosse criado. Embora ainda não comprovado, o advogado do Roberto Jefferson, só para aumentar a popularidade do ex-apedeuta-mor, Lula, disse este semana que quem ordenou tudo foi ele. Seria a glória total, mas...
É uma pena que, como
acontece com o PT, as brigas vêm em primeiro lugar. E apareceu o Roberto
Jefferson, que melou toda a ideia, enganando todo mundo, ao dizer que este
esforço para criar esta repartição tão bem descrita pelo Veríssimo, seria um
mero “mensalão” formado por homens
que só queriam o bem do Brasil, como tentam demonstrar os advogados de defesa
de homens do jaez dos citados e de outros, no julgamento, pelo Supremo, de suas
ações que enganosamente, o Procurador Geral da República chama de uma “organização criminosa”.
Quanto injustiça que
vemos neste julgamento. E a maior delas é não está citado entre os injustamente
réus aquele que seria o responsável direto pela criação do Ministério da
Corrupção, que, caso tivesse se concretizado, mesmo que o Brasil não tivesse
melhor, o PT já teria condições de empregar todos os seus membros apenas com
suas receitas: o ex-presidente Lula, que também foi enganado e disse que não
sabia de nada, apenas para mostrar sua virtude maior: a modéstia.
Quanta injustiça, meu
Deus! (LP)
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