Por Luis Fernando
Veríssimo (*)
A melhor observação que
li sobre a crise das dívidas na Europa foi a de um leitor da “London Review of
Books” que, numa carta à publicação, comenta as queixas dos alemães
inconformados com a obrigação de mandar seus euros saudáveis para sustentar a
combalida economia grega.
O leitor estranha que
ninguém se lembre de perguntar sobre as grandes reservas de ouro que os alemães
levaram da Grécia durante a Segunda Guerra Mundial — e nunca devolveram. Só os
hipotéticos juros devidos sobre o valor do ouro roubado dariam para resolver,
ou pelo menos atenuar, a crise grega.
O autor da carta poderia estranhar
também o silêncio que envolve um exemplo mais antigo de pilhagem, a dos
tesouros artísticos da Grécia Antiga levados na marra e de graça para os
grandes museus da Alemanha. Seu valor garantiria com sobras a ajuda aos gregos
que os alemães estão dando com cara feia.
É claro que se, num
acesso de remorso, os alemães decidissem devolver ou pagar o que levaram da
Grécia estaria estabelecido um precedente interessante: a América poderia muito
bem reivindicar algum tipo de retribuição da Europa pelo ouro e pela prata que
levaram daqui sem gastar nada e sem pedir licença, durante anos de pilhagem.
Que não deixaram nada no
seu rastro salvo plutocracias que continuaram a pilhagem e sociedades
resignadas à espoliação. Alguém deveria fazer um calculo de quanto a metrópole
deve às colônias pelo que não pagou de direitos de mineração no tempo da
rapinagem desenfreada. Só por farra.
Quanto às reservas de
ouro levadas da Grécia pela Alemanha nazista, a observação do leitor da “London
Review” mostra como a História não é linear, é um encadeamento. A atual crise
do euro e da comunidade europeia é a crise de um sonho de unidade que
asseguraria a paz e evitaria a repetição de tragédias como as das duas grandes
guerras.
Sua meta era uma
igualdade econômica, que dependia de um equilíbrio de forças, que dependia de a
Alemanha como potência econômica ser diferente da Alemanha que invadiu e
saqueou meia Europa.
Os alemães atuais não têm
culpa pelos desmandos dos nazistas, mas não podem renunciar à força
desestabilizadora que têm, que continuam a ter. Como a Grécia não pode evitar
de ter saudade do seu ouro, do qual nunca mais ouviu falar.
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(*) Publicado no Blog do
Noblat em 12.08.2012. Eu continuo minha saga de escrever pouco, mas, deixar
para os meus leitores textos melhores do que os meus. Por isso não cito aqui o
Zé Dirceu e muitos outros. Já o Veríssimo no passado e no presente é sempre uma
fonte inspiradora para que eu faça estes comentários terminais.
Tratando-se da Grécia,
até que eu concordo que seus tesouros, principalmente, sua civilização valham
mais do que os euros que a Alemanha hoje sonega aos gregos. No entanto, não se
pode generalizar para todas as colônias, principalmente, para nosso país, onde
houve, uma troca mais do que justa, entre nosso ouro e a civilização dos
imigrantes, embora “justiça” neste
caso, não seja uma noção muito precisa.
Penso que, se tivéssemos
ficado aqui, com os nossos habitantes originais, o que teríamos seria uma
grande universidade, pois o sistema de cotas levaria todos a ter curso superior
porque seríamos todos índios. Um dia eu volto a esta lei da cotas, se Deus
quiser. Eu não tenho curso superior, tenho um pé na cozinha, igual ao Fernando
Henrique, estou apta a entrar na Universidade pela cota racial (sou parda), mas
não o farei nem morta. Odiaria sair com meu canudo e ouvir alguém me apontar: “Lá vai a cotista!”. Cruzes! (LP)
P.S.: Quando fui publicar o texto anterior, também do Veríssimo, vi que em meu laptop havia este, também sobre o Veríssimo, que o programei para hoje, enquanto ainda sofro as agruras de um lugar sem conexão e triste.
P.S.: Quando fui publicar o texto anterior, também do Veríssimo, vi que em meu laptop havia este, também sobre o Veríssimo, que o programei para hoje, enquanto ainda sofro as agruras de um lugar sem conexão e triste.
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