quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Eu vou chamar o síndico!





Por Téta Barbosa (*)

Síndico de prédio é como político, um mal necessário.

Lá no edifício dos meus pais, a eleição para renovar o cargo do cara que não vai pagar o condomínio é mais emocionante que final de novela das oito.

A começar pelos moradores, que, assim como os traficantes do Rio de Janeiro, se dividem em três facções criminosas (ou ideológicas, não tenho certeza).

Tem o grupo a favor de Seu Amaral*, tem o grupo do contra, liderado pela galega do primeiro andar, e o grupo do “deixa disso, vamos tomar uma cerveja e resolver depois”.

Quando o partido do Seu Amaral está no poder, os outros dois não pagam condomínio em retaliação. Quando o grupo oposto assume, o do seu Amaral e do deixa disso não pagam por vingança. Quando o grupo do deixa disso assume, pensando bem esse pessoal só assume a cota da bebida da festa do final de ano.

Recentemente a facção do Seu Amaral deu um golpe de Estado e, não podendo o próprio Amaral assumir pela terceira vez consecutiva, colocou um Geraldo Júlio* da vez em seu lugar.

O laranja dele, Seu Roberto, só ganhou a eleição porque, depois que o candidato da facção da galega foi eleito pela maioria, Seu Amaral tirou uma carta premiada da manga: o cidadão tinha colocado o condomínio na justiça num passado remoto. Ou seja, a posse foi impugnada e Seu Roberto Laranja de Oliveira assumiu o cargo.

Já no meu edifício a síndica é ghost, dizem que ela existe, mas nunca vi em carne e osso. Assim como em Atividade Paranormal, ela deixa rastros: bilhetes na portaria, mensagens no hall e, posso jurar, já senti um perfume com cheiro de rose, Emily Rose, que imagino ser dela, no elevador. Tudo que sei é que seu sobrenome é o nome do prédio, o que faz dela, automaticamente, a dona do pedaço.

No prédio do meu irmão, o moço criado com a vó disse, em tom solene, na reunião:

- O condomínio precisa dar um jeito no cheiro do cigarro ilegal que vem de alguns apartamentos.

- Eu não sou policial, Seu Gomes, sou só o síndico.

Pra resolver isso, só chamando Tim Maia.

“cuidado com o disco voador
tira essa escada daí,
essa escada é pra ficar aqui fora
eu vou chamar o síndico
Tim Maia, Tima Maia, Tim Maia”.

*Os nomes são fictícios para evitar a retaliação dos respectivos síndicos.

*Geraldo Júlio parece nome de cantor de brega mas é o atual Prefeito do Recife, indicado pelo todo poderoso senhor de engenho, quer dizer, Governador, Eduardo Campos.

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(*) Publicado no Blog do Noblat em 19.11.2012. Eu sempre considerei um condomínio parecido com um sistema democrático de um país real. Recentemente, por ameaças sofridas pela minha atividade política em Bom Conselho, tivemos (eu e a família que não desgruda de mim) que vender um local bom e aprazível, ainda financiado na farra do BNH do governo Sarney, e comprar um apartamento, mais novo, embora um pouco mais acanhado, em termos de espaço, para viver.

Com a chegada dos meus netos, e com os vizinhos novos, o que antes eu pensei funcionar muito bem, em termos de condomínio, pois já existia um síndico igual ao Fidel Castro em Cuba, pois dominava o prédio desde sempre, agora, aqui, no novo, temos uma democracia, com eleições e até alternância no poder como descreve a Téta Barbosa em seu excelente artigo.

Só não sinto saudade do apartamento antigo porque não gosto muito do Fidel e de coisas que não mudam. Eu, neste ponto sou como a Dilma Roussef (porém, sincera) de que prefiro o barulho do condomínio do que o silêncio das ditaduras. E eu já me meti, com minha mania de política, no Conselho Fiscal do prédio. Meus Deus, existia até mensalão com os funcionários para servir ao Síndico de plantão. Uma coisa horrível.

Mas, eu já estou cuidando do caso e eles não perdem por esperar. Se não houver jeito mesmo, de forma nenhuma eu convidarei o Joaquim Barbosa para morar lá no prédio. Vai muita gente para cadeia, tenho certeza. (LP)

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