terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Dama de Ferro


Margareth Thatcher e Meryl Streep


Deixei um pouco o Che de lado, hoje,  para falar de alguém que merece minhas homenagens como mulher, e de todo o mundo como política. Não senhores, não estou falando nem da Dilma, nem da Marta Suplicy e nem da Mamãe Juju, mas sim, da Margareth Thatcher.

Ontem, num desses arroubos juvenis da terceira idade (estou quase chegando lá), peguei no braço do meu velho e fomos ao cinema. Mais por insistência minha do que pela vontade dele, pois queria ficar vendo futebol na TV. Oh raça! E o filme escolhido, também por mim, foi a Dama de Ferro, que li no Blog do Hadriel (eu não sei porque ele colocou aquele nome tão feio num blog tão bom quanto o dele) a respeito, e até vi o trailler.

Eu admirava e admiro a Dama de Ferro, pelos seus feitos em relação ao socialismo/comunismo, sendo sua atuação fundamental para que todo aquele aparato de hipocrisia e loucura viesse abaixo, junto com o muro de Berlim. Eu já estive na Inglaterra mas não ao ponto de sentir, nos poucos dias que passei lá, já muito depois dela ter deixado o poder, o que ela significou para os britânicos, mas, o que ela significou para o mundo, eu acompanhei.

Eu nunca vi uma atuação tão convincente de uma atriz como aquela vivida pela Meryl Streep no papel da Margareth, quando ainda, com todos os poderes nas mãos. Ainda, hoje, pela distância dos fatos, eu quando penso na Primeira Ministra Britânica, só vejo a atriz. Quando quero distingui-las tenho que recorrer às fotos. A atriz abiscoitou o seu terceiro Oscar e com toda justiça.

Sua atuação foi tão esplendorosa que torna o filme, em si, algo terrivelmente deprimente. E saí convicta do cinema que jamais este filme teria direito a premiação da Academia de Hollywood. As cenas que ela vive, representando a Iron Lady demente e já quase no fim da vida, são perfeitas ao ponto de nos perguntar se alguém que tinha tanta fibra, inteligência e vivacidade poderia sofrer o castigo de viver tais horrores.

Os seus opositores, que  ainda hoje são muitos, devem pensar que é o castigo que veio a cavalo, enquanto seus admiradores, como eu, e com pendores religiosos também como eu, apenas dizem que são os desígnios de Deus. Aliás, um dos grandes momentos do filme é a cena onde ela, no meio dos políticos homens, embasbacados pela sua capacidade, ela diz a Oração de São Francisco de Assis. Sei que isto não tira sua culpa de ser uma líder e ser responsável por milhares de mortes pela causa do seu país. Mas, também a faz sentir um remorso danado por estas mortes, ao ponto de fazer questão, com a mesma determinação, de enviar seus sentimentos a cada família dos soldados mortos.

O que me admira em Margareth Thatcher, em relação a algumas “govern-antas” é que ela, em tempo algum perdeu sua feminilidade, mesmo sem ser feminista. Mesmo, quando dava esporros em seus ministros, ela o fazia, sem perder a ternura contida pela necessidade do momento. Mas, era decidida ao ponto de eu, com meus medos dos Xicos Pitombas da vida, me sentir humilhada.

Eu não sei se o pai dela,  que era um quitandeiro, tenha lhe dito aquilo que o filme diz que ele disse para sua filha quando ela foi estudar em Oxford: “Margareth, não vá atrás da multidão. Siga seu caminho”. Mas, me emocionei, porque faz muito tempo que não sigo a multidão, seja ela chamada povo ou turba. Penso que isto representa toda sua vida política. Lutar pelos seus valores de inglesa liberal de classe média foi sua luta, e sem querer me comparar, da mesma forma é a minha.

Enquanto os sindicatos queriam continuar na mamata, ela queria que os trabalhadores trabalhassem. Enquanto a multidão de socialistas clamavam por igualdade ela agia dentro da suposição correta de que os homens nascem diferente, mesmo que nasçam à imagem e semelhança de Deus. O conflito lógico se esvai quando se tem fé ou mesmo se usa a razão para pensar um pouco e ver que Deus é infinito e envolve todos os “eus”. Enquanto todos queriam que ela contemporizasse com agressão Argentina, partida da ditadura sanguinária, ela, feito um leão solitário, além de manter as Malvinas ou Falklands, fez-nos o favor de derrubar os ditadores de plantão.

Além de tudo isto, dentro do credo liberal lutou bravamente para mostrar ao mundo quão horroroso poderia ser um mundo socialista, onde os homens se igualam não pela semelhança com Deus, mas pelo proselitismo com alguma ideologia de plantão. Se hoje temos ainda uma réstia de liberdade em nosso mundo, onde se possa fazer até filmes desta natureza, sem o mínimo pejo ou censura. Isto nós devemos a ela.

E aí eu entro no filme, e no porque o achei deprimente.

Imaginem vocês se o Lula, sim, este mesmo que nasceu em Caetés, virou paulista e foi homenageado pela Gaviões da Fiel, hoje, curando-se de um câncer, fosse retratado no cinema como um doente terminal, por um ator brilhante, e que a base do filme seriam flashbacks de sua vida antes da doença e em plena glória.

Todos sabem que não sou uma admiradora de Lula, mas nem por isso concordaria que ele fosse assim retratado, a não ser que o filme tivesse como título: O Câncer de Lula. Pois assim, eu não iria assisti-lo. Da mesma forma como não iria assistir ao filme sobre a Margareth Thatcher se ele se chamasse: “A Demência de Margareth”.

E isto é o que ocorre com o filme, mostrando um mulher demente, falando com o marido falecido e lutando contra a loucura. E ainda por cima, se coloca no papel dela uma atriz genial que nos faz duvidar sempre da realidade vivida pela sempre Dama de Ferro. Isto chegou ao ponto do meu marido, depois do filme me perguntar, e eu ficar em dúvida para responder, se a ela ainda seria viva. E ela o é. Mas, no filme tentaram matá-la em vida. Por isso ele é tão deprimente.

Eu sou a favor da liberdade nas artes, e longe de mim censurar o filme, pois vale a pena pelo desempenho dos atores e pelo pouco que tem de história, mas, se eu soubesse que era assim, eu teria usado a única censura que acho válida, a minha própria, e teria economizado R$ 15,00 da entrada. E ainda ser discriminada por não ser idosa ainda, pois o meu marido, que já enveredou, por este caminho pagou R$ 7,50.

De qualquer forma eu não farei nenhuma campanha contra o filme, pois a Thatcher jovem e poderosa que ele apresenta pode até compensar a angústia de vê-la sofrer tanto em sua velhice. Mas, “lembra-te oh mulher, que és pó, e em pó te hás de tornar”.  Principalmente, agora que estamos querendo botar as unhas de fora e tomar o poder dos machões de plantão. Mas, ainda penso que vale à pena ver o filme.

Um comentário:

  1. Que beleza!
    Vc se superou, hein.
    Aquilo que eu gostaria de ter acrescentado no meu pequeno texto, veio a galope neste seu.

    Lucinha, ainda não vi o filme, mas estou ansioso desde que soube que estava sendo gravado.
    A Thatcher é um legado do século XX, um bom legado, uma lição.

    Obrigado por abrilhantar um assunto tão importante!

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