Quando se abordam fatos da história recente, e que talvez nem sejam considerados históricos daqui a alguns anos, sempre haverá dúvidas sobre sua veracidade, pelo envolvimento das pessoas e seus relacionamentos com os indivíduos que nos fazem escrever. Sempre haverá questionamentos de todas as informações.
Um bom exemplo disto é o que dizem os autores do livro que nos guia nesta passada a limpo da vida de um dos maiores mitos do século passado, o Ernesto Che Guevara. Eles avisam para não cairem na roubada de perguntar a um gari em Havana se era mesmo em La Cabaña (forte que serviu de prisão a quase todos os ditadores de Cuba) que Che realizava seus fuzilamentos. A resposta do gari simplesmente será: “Che nunca matou ninguém”.
Há ainda aqueles como o nosso Guerrilheiro das Sete Colinas, que até admitem que ele matou, mas foi por uma causa justa. Agora, dizer que o DNA humanista do Che passou para toda sua filharada, para mim já foi um pouco demais. O humanismo de sua mulher e de seus filhos vem da proteção do Estado Cubano para com eles, que mesmo que não cuidassem dos tubarões no aquário cubano, teriam a mesma vida que o Lulinha tem aqui, com o mesmo DNA do pai.
Mas, é razoável que se considere invenção certos fatos, da mesma forma que hoje se considera invenção os relatos de tortura e morte cometidas pelo regime militar, o que nunca duvidei. A diferença aqui é a postura do Che Guevara diante de sua psicopatia revolucionária, que em plena ONU, em Nova York, 1964 dizia (veja vídeo de postagem anterior que tem esta frase dita com a voz do próprio assassino):
“Fuzilamento? Sim, temos fuzilado. Fuzilamos e seguiremos fazendo isso enquanto for necessário. Nossa luta é um luta à morte.”
O que mais surpreende na história do Che é que os movimentos mais recentes, como o Tortura Nunca Mais, do Brasil; Madres de La Plaza de Mayo, da Argentinha; Verdade e Justiça, do Paraguai; ou como outros do Peru e do Chile, que lutam contra a pena de morte e pelo direitos humanos, grande parte deles professam uma fé inquebrantável na pureza de um homem que segundo o Projeto Verdade e Memória, da organização Arquivo Cuba, se envolveu em pelo menos 144 mortes entre 1957 e 1959.
No Forte de La Cabana, onde provavelmente os turistas do Marlos Duarte, que irão a Cuba no dia primeiro de maio irão, foi o palco de grande parte destes assassinatos depois da vitoriosa “revolução”.
E para me entregar um pouco à vida do Che, em 1952, um filme (Diários de Motocicleta, que não vi pois já sabia de quem se tratava), retratou recentemente, com base em suas anotações, e ele aparece como um personagem que faria usar boinas qualquer jovem garanhunhense. No entanto, o filme deixou de fora certos depoimentos menos simpáticos, e que mostram sua obsessão com a violência justificada em nome de um ideal, e que foi o foco de toda sua psicopática vida. Vejam esta:
“...Sinto minhas narinas dilatadas pelo cheiro acre da pólvora e do sangue do inimigo morto. Agora meu corpo se contorce, pronto para a luta, e eu preparo meu ser como se ele fosse um lugar sagrado, de modo que nele o uivar bestial do proletariado triunfante possa ressoar com novas vibrações e novas esperanças.”
Ainda lá no diário, ele, apesar de não gostar de tomar banho, como já vimos, ele se sai com a seguinte pérola, referindo aos da raça negra, como eu: “mantiveram sua pureza racional graças ao pouco apego que têm em tomar banho”, e vai além, quando, comparando negros e portugueses escreve que “o desprezo e a pobreza os unem na luta cotidiana, mas o diferente modo de encarar a vida os separa completamente; o negro, indolente e sonhador, gasta seu dinheiro em qualquer frivolidade, o europeu tem a tradição de trabalho e economia”.
E ainda tem muita gente que considera o “chancho” Che um humanista. Eu não sei de que ser humano eles estão falando. Todos sabem que sou contra a que, para tudo que sofre uma minoria ou mesmo uma maioria espezinhada, surja uma lei para punir os que comentem atos preconceituosos contra elas. Mas, vendo o Che dizer isto me dá vontade de colocar o Afonso Arinos no filme, andando atrás dele com um motocicleta da polícia. Por menos do que isto o Paulo Henrique Amorim foi condenado a pedir desculpas ao negro Heraldo Pereira, aquele excelente repórter da Globo. Será que ele aprendeu com o Che ou foi com meus contemporâneos em Bom Conselho, que quando queriam elogiar um negro, diziam que ele era “um negro de alma branca”? E tem gente que pensa que o Che foi “um branco de alma cor de rosa”. Cruzes!!!
Mas voltemos ao grande “humanista” argentino, quando ele chegou, em 1956, a Cuba, acompanhando 80 guerrilheiros enrabichados atrás do Fidel Castro, vindo do México a bordo de um iate, o Granma, que hoje dá nome ao jornal oficial de Cuba. (E eu nem sabia que numa reunião de pauta de um grande jornal de Bom Conselho foi sugerida a troca de nome da A GAZETA para O GRANMA. Eu não sei de quem foi a proposta, mas desconfio. E eu só participei da A GAZETA DIGITAL na sua fundação, imagine se eu tivesse ficado).
Um dos seus biógrafos diz o seguinte, em relação ao seu olhar sempre de homem desconfiado:
“Havia um nítido zelo calvinista na perseguição movida por ele aos que se desviavam do “caminho correto”. Che abraçara fervorosamente la Revolución como corporificação definitiva das lições da História e como o caminho correto para o futuro. Agora, convencido de que estava certo, olhava em volta com os olhos implacáveis de um inquisidor em busca daqueles que poderiam por em perigo a sobrevivência da Revolução.”
Eu fico pensando em Hitler matutando sobre a pureza da raça ariana e mandando exterminar os judeus. Ambos estavam tomados por um ideal que podem não serem os mesmos, mas, a sanha assassina para atingi-lo foi muito parecida. E eu não quero nem falar em Stalin.
Contam que o batismo de fogo, pelo menos em termos de cubanos, do “humanista” Che, com assassino, foi o Eutimio Guerra, um camponês que guiava os guerrilheiros por Sierra Maestra. A identidade do assassino deste simples camponês, que havia sido acusado de informante ficou em segredo por 40 anos, até ser descoberta por um biógrafo do Che, através do original do seu diário fornecida pela sua viúva, que além de ser diretora do Centro de Estudos Che Guevara (segundo o Guerrilheiro das Sete Colinas), agora é informante, por uma boa causa.
É o próprio guerrilheiro (não o das Sete Colinas, mas o da Sierra Maestra) a narrativa de que no momento de sua execução, caiu um temporal sobre a serra, e que ninguém se dispunha a cumprir a ordem do Fidel Castro, e, com sua vocação para carrasco de festa medieval, ele tomou a iniciativa. Vejam como agiu o “humanista”:
“Era uma situação incômoda para as pessoas e para [Eutímio], de modo que acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 no lado direito do crânio, com o orifício de saída no temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Ao tratar de retirar seus pertences, não consegui soltar o relógio, que estava preso ao cinto por uma corrente e então ele [ainda Eutímio] me disse, numa voz firme, destituída de medo: ‘Arranque-a fora, garoto, que diferença faz...’. Assim fiz, e seus bens agora me pertenciam. Dormimos mal, molhados, e eu com um pouco de asma.”
Cruzes! Se ele tivesse morrido de asma teria sido muito melhor para a humanidade, do que pela sua luta “humanista”. E, neste diário, não há nenhum sinal de culpa nem pejo pela execução que seria a primeira de muitas.
Segundo o Arquivo de Cuba, foram pelo menos 22 execuções na Sierra Maestra entre 1957 e 1958, cuja causa seriam até por companheiros consumir leite condensado escondido. O Che era o mais fanático executor além de querer acabar os companheiros diante da menor desconfiança.
Por incrível que pareça, Fidel Castro, o chefe da mais longa ditadura deste dois séculos recentes ( e que fez um discurso sobre Che, reproduzido pelo Altamir em um comentário a minha postagem anterior, o que o coloca como um dos maiores mentirosos da idade moderna, rivalizando com Chaves e Lula), era considerado um moderado diante da sanha assassina do Che. Só bastava o Fidel se distanciar um pouco para fazer como fez na cidade de Santa Clara, onde matou ou ordenou matar 17 moradores pela simples suspeita de que eles serviam ao Fulgêncio Batista, sem nem poderem esboçar alguma defesa.
É bom citar aqui o que se passou no Forte La Cabaña, que era uma prisão, e que muitos pensam que só os ditadores anteriores matavam por lá. Os números variam, mas, o Arquivo de Cuba fala de 104 vítimas enquanto o “humanista” chefiava o presídio, embora os cubanos falem em mais de 800. Hoje este forte é um ponto turístico em Cuba e tenho certeza, os turistas do PSB, que Marlos Duarte está arrebanhando para visitar aquele país, deveriam conhecê-lo, e eu os recomendo a ler o seguinte depoimento do José Vilasuso, que trabalhou lá por aqueles dias:
“Muitas pessoas se reuniam no escritório de Che Guevara e participavam de agitadas discussões sobre a Revolução. No entanto, as falas de Che costumavam ser cheias de ironia – ele nunca mostrava nenhuma alteração de temperamento ou dava atenção a opiniões diferentes. Ele dava reprimendas em particular e em público, chamando a atenção de todos: “Não demorem com esses julgamentos. Isso é uma revolução: provas são secundárias. Temos que agir por convicção. Eles são uma gangue de criminosos e assassinos”.
As execuções aconteciam nas primeiras horas da manhã. Assim que uma sentença era transmitida, os parentes e amigos caíam em prantos horríveis, suplicando piedade para seus filhos, maridos etc. Diversas mulheres tinham que ser tiradas de lá à força. Aconteciam de segunda a sábado, e em cada dia um a sete prisioneiros era executados, às vezes mais. Casos de pena de morte tinham carta-branca de Fidel, Raúl ou Che e eram decididos pelo tribunal ou pelo Partido Comunista. Cada membro de esquadrão da morte ganhava 15 pesos por execução. Os oficiais, 20. Em frente ao paredão, cheio de buraco de balas, eram abandonados os corpos agonizantes, amarrados em paus, banhado em sangue e imóveis em posições indescritíveis, com mãos convulsivas, expressões tenebrosas de choque, mandíbulas fora do lugar, um buraco onde antes havia um olho. Alguns dos corpos, por causa do tiro de misericórdia, tinham o crânio destruído e o cérebro exposto.
Testemunhar tal carnificina é um trauma que vai me acompanhar a vida toda – e é minha missão tornar esses fatos conhecidos. Durante aquelas horas as paredes daquele castelo medieval abrigavam ecos dos passos das tropas, o ruído dos rifles, as vozes de comando, o ressoar dos tiros, o gemido dos moribundos e os gritos dos oficiais e guardas depois dos tiros de misericórdia. Um silêncio macabro que consumia tudo.”
Desculpem-me se alguém ao terminar teve seu estômago embrulhado, mas é também minha missão contar isto para, pelo menos avisar aos turistas do Marlos, que ao entrarem em La Cabaña, e depois de ouvirem o cañonazo, lembrem que não foi só o Batista que matou por ali. Uma ditadura de esquerda só difere de uma ditadura de direita pelos bigodes dos ditadores.
Para terminar esta parte, onde tento mostrar como o “humanista” Che zelava pelos direitos humanos, para o deleite dos turistas do Marlos em La Cabaña, conto que não eram só pessoas adultas que eram especialidade do Che nos fuzilamentos. E leiam isto pensando em seus filhos (do Che)que hoje são funcionários público em Cuba, e que segundo o Altamir, são tão humanistas quanto o pai:
Lá pelos fins de 1959, um garoto com idade de 12 ou 14 anos chegou ao “castelo”. Seu crime, teria tentado defender o pai antes que os revolucionários o matassem. O Che, em sua pouse de humanista, com as mãos na cintura, apenas observava os fuzilamentos, mas, diante deste não se conteve. Mandou trazer o garoto e mandou-lhe se ajoelhar diante do paredão. O garoto não o obedeceu e ficou de pé. Che, caminhando por trás do garoto, disse: ‘Que garoto valente’. E deu um tiro de pistola na nuca do rapaz.
Eu diria do Che: ‘Que calhorda valente!’
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Mais alguns filmes ilustrativos da vida Che:
“A fim de conquistar alguma coisa, temos que tirá-la de alguém.” Che Guevara, “Soberania Política e Independência Econômica”, 23 de março de 1960. (ANDERSON, 1997, p.540; TAIBO II, 2008, p.317)
ResponderExcluirApós um dia de trabalho árduo no escritório assinando sentenças de morte, Che se recolhia em sua nova mansão em Tarará, a vinte e poucos quilômetros de Havana, à beira-mar de uma praia deserta – um local hoje reservado exclusivamente a turistas e membros de elite do Partido. (ANDERSON, 1997, p.470; FONTOVA, 2009, p.70)
“A casa estava entre as mais luxuosas de Cuba”, escreve o jornalista Antonio Llano Montes. (apud BRAVO, 2004, p.97) “Até algumas semanas antes, a casa tinha pertencido ao mais bem sucedido empreiteiro de Cuba. Ela possuía um ancoradouro para iates, uma grande piscina, sete banheiros, uma sauna, uma sala de massagem, e muitas salas de televisão... O jardim da mansão era quase uma selva de plantas importadas, piscina natural com cachoeira, tanques cheios de peixes exóticos e viveiros das aves mais diversas. O lugar parecia saído das páginas d'As mil e Uma Noites”.