Por Reynaldo Rocha, um
brasileiro (*)
Exmo. Ministro Ricardo Lewandowski
Peço licença ao insigne ministro, escolhido entre milhões de
brasileiros, para escrever esta carta que sei que nunca será lida pelo
destinatário.
Não que creia que isso iria fazer qualquer diferença. Todos sabemos que
nunca alteraria uma linha no labirinto que o senhor construiu e nele insiste em
se esconder.
Não existem pressões. São cobranças. Ninguém pressiona devedores que se
negam a acertar as contas. Seja com o credor ou com a História. Ao contrário,
cobra-se daqueles que se recusam a assumir os ônus decorrentes dos próprios
atos, o acerto inerente aos homens de caráter e honestidade. Seja uma dívida de
R$ 1,00 ou uma decisão judicial.
O que levou o ministro a aceitar o cargo que ocupa na mais alta Corte
do Judiciário brasileiro? Uma dívida? Um compromisso de fidelidade? Ou o
coroamento de uma carreira que qualifica quem é escolhido?
Ao invocar como argumentos a extensão das provas colhidas, a
necessidade da análise cuidadosa e o trabalho derivado da leitura do processo e
apensos, o honrado ministro quer nos fazer crer que ─ profissionalmente ─ não
está à altura do cargo que ocupa? Ao menos, ao mesmo nível de seus pares, que
jamais utilizariam o mesmo tempo despendido por V. Exa.?
Os argumentos para aquilo que parece ser uma procrastinação são uma
confissão de despreparo para estar onde se encontra?
Não creio.
O Brasil já conviveu com Francisco Luis da Silva Campos, conhecido como
Chico Ciência. Advogado brilhante, foi redator da Constituição Polaca
(escuso-me em dizer o porque do apelido), dos Códigos Penal e de Processo Penal
(de 1941) e da CLT (1943), baseada nas leis do trabalho da Itália fascista. E
acima de tudo, por emprestar o brilhantismo reconhecido à confecção de alguns
dos famigerados Atos Institucionais (como o de número 2) que tentava dar
legitimidade a um movimento imoral. Embora legal. Dizia-se que Chico Ciência
era capaz de escrever uma Constituição nas coxas.
Ministro Lewandowski, não consigo avaliar o quanto o senhor é
brilhante. Deve ser. Não duvido.
Embora ─ aparentemente ─ muito lento em suas análises e votos. Ao menos
em alguns casos específicos.
Não creio que o ilustre jurista estaria disponível para justificar o
injustificável (como Chico Ciência) ou acobertar a quem a coberta sequer cobre
os pés.
Um jurista que é escolhido pelo notório saber jurídico para estar no
STF sabe que a primeira ─ e deveria ser a única ─ diretriz de atuação é somente
a da Justiça.
Quero crer que é o caso.
Eu imagino o que deve enxergar um ministro quando olha para a própria
história. Orgulho, sensação de reconhecimento e certeza do respeito de todos os
brasileiros. E receio por parte de criminosos, sejam estes quais forem. Quando
a equação fica invertida, também consigo imaginar a sensação que um homem
honesto ─ como o senhor é rotulado ─ deve conhecer.
Nestes anos em que o senhor analisava pacientemente o processo do
mensalão, perdi amigos. Perdi a saúde. Quase perdi a esperança. O mundo mudou.
Ditadores foram derrubados. Uma moeda única na Europa foi posta em confronto
com a realidade econômica de países até então sólidos. Artistas nos deixaram.
Crimes foram cometidos. Alguns, punidos.
Somente uma quadrilha continuou a rir de todos nós. A que é analisada
por V.Exa.
O navio italiano que naufragou na costa da Itália ─ o Costa Concórdia ─
por ter um capitão (Francesco Schettino) que ignorou avisos e rasgou a própria
biografia e história profissional, foi mais um dos tantos fatos acontecidos
enquanto V.Exa. analisava o processo do mensalão.
Entrou para a história como um insolente. O homem errado na hora
errada. Popularizou a expressão “Vada a bordo, cazzo!”. Não preciso traduzir.
Ministro Ricardo Lewandowski, faltam mínimas milhas náuticas (ou horas)
para que o naufrágio aconteça.
“VADA A BORDO!” Evito o cazzo. Por enquanto.
Com admiração (ainda),
Reynaldo Rocha, um Brasileiro.
-----------
(*) Publicado ontem pelo
Blog do Augusto Nunes, como título: “Carta
aberta de Reynaldo-BH para Ricardo Lewandowski: ‘Vada a bordo!’” . Esta
coisa do atraso do julgamento do mensalão (se ocorrer), pela não análise do
processo pelo referido ministro, parece uma piada de mau gosto. Ela junta-se a
tantas outras que nos fazem rir e chorar pelo destino do nosso país. Será que
eu agora seria acusada de direitista juramentada se dissesse que a culpa é do
Lula? Ou seria acusada de esquerdisda se dissesse que a culpa é do Maluf?
Agora ficou tudo mais
fácil. A culpa é dos dois, que sempre foram aliados e ninguém dizia. Agora vão
dizer que eu sou do PV. Se o Ministro Lewandowhisky
soubesse que ele terá o mesmo destino histórico do Chico Ciência de que fala a
missiva, talvez ele ainda tivesse tempo de correr com a caneta e entregar o
processo em tempo. Mas, eu sei que nem a carta do Reynaldo nem meu blog será
lido por ele. Seria uma pena que a quadrilha do mensalão continuasse sem
julgamento e o meu neto, quando tiver seus 20 anos, ouvir falar das ações de tal de Ricardo
Ciência.
Em tempo, o Reynaldo fez
bem em não traduzir o “cazzo”,
cruzes!!!. “Vada a bordo” quer dizer suba
a bordo. (LP)
P.S: Desde quando o texto acima foi escrito, o ministro, deve ter lido a carta e subiu a bordo, liberando a revisão do processo do mensalão. Resolvemos publicar o texto para mostrar como um pressãozinha popular pode funcionar quando se estar ameaçado de se tornar o Ricardo Lewandowhisky para o Lula. (LP)
P.S: Desde quando o texto acima foi escrito, o ministro, deve ter lido a carta e subiu a bordo, liberando a revisão do processo do mensalão. Resolvemos publicar o texto para mostrar como um pressãozinha popular pode funcionar quando se estar ameaçado de se tornar o Ricardo Lewandowhisky para o Lula. (LP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário