Eu não estou escrevendo
muito, embora continue percorrendo os sites e blogs que eu acho que são bons.
Nestas andanças encontrei no Blog do Roberto Almeida (original aqui),
no dia 06 próximo passado a seguinte postagem:
“O PARAÍSO DAS NOVELAS
A TV Globo exibe 4 ou 5 novelas por dia. Acha pouco. Se alguém liga o
televisor pela manhã, dá de cara com Ana Maria Braga entrevistando atores e
falando sobre novela. O tal de Vídeo show é na verdade o Vídeo folhetim. O
Faustão quase todo domingo está abrindo espaço para as estrelas dos tele dramas
globais, sem falar que o Fantástico também sempre traz alguma reportagem
discutindo algum tema "importante" levantado pela novelinha do
momento.
As novelas da emissora dos Marinho têm bom nível técnico e podem ser
vistas para relaxar, até porque não exigem nenhum esforço de inteligência.
Agora, esse abuso, essa "overdose de novela" é um absurdo, um
despropósito. A Globo substitui a realidade pela ficção, apostando na
imbecilização do povo brasileiro.”
A ela eu fiz o seguinte
comentário, que foi gentilmente publicado pelo Roberto, mesmo com nossas
discordâncias sobre o tema. Leio o comentário e eu volto ao tema logo após:
“Eu já sabia que o Roberto era um noveleiro global há muito tempo. Eu
sou noveleira desde as novelas de rádio. E para quem gosta de novelas como nós,
não temos alternativa. Nesse gênero a Globo é imbatível por muito tempo. E, como
defendo, a telenovela já subiu ao patamar de arte popular, pelo menos na Globo.
Dizer que a Globo está imbecilizando o povo porque faz da ficção uma
prioridade e que isto “imbeciliza” o
povo é a mesma coisa que dizer serem as manifestações e folguedos populares
também são imbecilizadores, porque no carnaval homem se veste de mulher ou no
natal colocamos neve em pé de mandacaru.
Meu caro Roberto, eu reconheço que é difícil de deixar de ver a Avenida
Brasil, e encarar aquela ficção de Brasil, como se aqui neste país estivesse
cheio de bandidos como naquela novela. Mas, quando ficar muito arreliado com
isto, faça como 2% dos telespectadores: saia da Avenida Brasil e vá para o
Programa do Ratinho, principalmente, se o Lula estiver lá falando aquelas
verdades categóricas que fogem totalmente da ficção e mostram nossa realidade
nua e crua. Me engana que eu gosto.
Lucinha Peixoto (Blog da Lucinha Peixoto)”
Esta volta ao tema é
apenas para desenvolver o raciocínio que fiz no comentário, sobre a comparação
entre a TV Globo e outros meios de comunicação e expressão.
No comentário, coloquei e
continuo defendendo que a tele novela é uma forma de arte popular que foi
levada ao requinte pela TV Globo. Isto é um elogio, e, também, apenas uma
constatação pelos níveis de audiência e pela ênfase que tem sido dada a este
gênero pela emissora. Num país onde homem não pode ser bailarino porque isto é
coisa de mulher, ou não faz exame de próstata porque isto é coisa de “baitola”, o Roberto dizer que as
novelas ajudam a relaxar já é um avanço enorme.
Embora eu não concorde
que a Globo só é novela, como tentou insinuar o Roberto, eu defendo sua ampliação
como gênero cultural, com tudo que há de bom e ruim nisto. A cultura de um povo
é sua forma de expressão mais legítima e não pode ficar presa e congelada ao
passado. Ela tem que ser atualizada pelo lado tecnológico também para cumprir o
seu papel de motivar o povo em sua saga na luta pela sobrevivência.
Quando rememoramos os
pastoris de outrora, quem não sente saudade daquela simplicidade com que eram
apresentados o folguedo, com suas músicas simples e quase sem os aparelhos
modernos de som? Quem não se lembra das quadrilhas de ponta de rua das quais
cheguei a participar em Bom Conselho e mesmo aqui no Sítio da Trindade? Mas
hoje isto não seria possível com a parafernália eletrônica que nos rodeia, e ,
principalmente, pelas mudanças sociais.
O mesmo ocorre com a arte
popular em geral e em particular com as teles novelas. Elas estão cada dia num
nível melhor de produção, e hoje, o Brasil pode até prescindir dos reisados,
pastoris, quadrilhas, bumbas-meu-boi, etc. mas, seria difícil tirar as novelas
do povo. E pelos índices de audiência, eles preferem as da Globo, igual a mim
que já sou povo e da classe C mesmo antes do Lula.
Dizer que as novelas
tentam imbecilizar o povo é tão verdadeiro quanto dizer que qualquer
manifestação cultural o faz. Neste sentido todos somos imbecis. Desde que o
mundo é mundo, a realidade não é algo tão bonito de se ver como parece, e, ao
tentar viver com ela, o ser humano necessita de seus contrapesos, e uma das
formas é a ficção e entre elas está a arte, tanto erudita quanto popular. E a
novela, que tenho certeza, é o gênero de arte mais apreciado pelo
ex-apedeuta-mor, o Lula, pois ele nunca gostou de ler, ainda é uma boa opção.
Eu penso que a postagem
do Roberto foi mais uma de suas implicações com a rede Globo, igual ao que ele
tem também com a revista Veja. No entanto, dentro de minha ótica, eu ainda
penso que o Lula não escolheu o Ratinho só por causa das trocas de rabadas
entre eles (Lula comeu rabada na casa do Ratinho e Ratinho comeu rabada na
Granja do torto, lembram?), mas sim porque ele sabia que se fosse entrevistado
pelo Louro José, ele não poderia levar o Haddad a tiracolo, praticando um crime
eleitoral.
Agora tenho que parar
porque está na hora de Cheias de Charme. Aliás, vejam o poder da Globo fazendo
uma pesquisa sobre o clip Vida de Empreguete na internet, nos rádios e noutros
meios de comunicação. Pelo menos a Vilma, minha faxineira, que chegou aqui em
casa cantarolando a música, não me pareceu imbecilizada, da mesma forma que no
passado alguma empregada chegasse em seu trabalho cantando Xote da Meninas.
Mudou o tempo ou mudamos nós?
P.S.: Este texto foi escrito antes, mas, diante de coisas da vida só hoje o publicou. Pensou que não ficou fora de época nem caducou. Fico devendo o clip das empreguetes que agora não encontro. Depois eu pago.
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