Por Luis Fernando
Veríssimo (*)
Faz cem anos que o
Titanic foi ao fundo e o aniversário do naufrágio está tendo quase tanta
cobertura quanto o próprio naufrágio. Há exposições sobre o navio e seu fim em
várias cidades da Europa e discute-se outra vez desde as minúcias do desastre,
como a desatenção do comando do navio aos vários alertas de icebergs na rota,
até seu significado maior.
Um jornal satírico
americano fez uma edição inteira lembrando o acidente e seus intérpretes, cuja
manchete principal era “Maior metáfora do mundo bate em iceberg e afunda”. Que
o trágico fim da maior coisa construída pelo homem até então era uma metáfora
ninguém discutia. Mas qual, exatamente, a metáfora?
O naufrágio do Titanic
marcava o fim tardio do século dezenove e sua confiança ilimitada no progresso
tecnológico. Como um castigo a mais pela pretensão do século que findava, dali
a dois anos toda a nova engenhosidade da era estaria engajada nas máquinas de
morte da Grande Guerra e a tragédia precursora do Titanic simbolizaria um adeus
à inocência.
Chamado de indestrutível,
o Titanic desafiara os deuses, como os titãs do mito, e, como os titãs, fora
destruído pelos deuses — metaforicamente.
Outra metáfora: nada
simboliza a divisão de classes como a divisão das classes num navio como o
Titanic, onde os viajantes do porão, inclusive as crianças, tiveram poucas
chances de escapar com vida. O Titanic também era o mundo do privilégio
ostensivo e da massa descartável metaforizado.
Cherburgo, na Normandia,
tem uma razão especial para lembrar o Titanic. Seu porto foi uma das duas
escalas feitas pelo navio depois de deixar Southampton. Estivemos há dias na
simpática Cherburgo — que também foi um porto importantíssimo durante a Segunda
Guerra Mundial e é a terra dos guarda-chuvas filmada por Jacques Demy, com
música de Michel Legrand.
Fomos visitar sua
exposição dedicada ao Titanic. Excelente.
No rádio do carro, não,
não Michel Legrand, mas, juro, “Ai se eu te pego”. Simbolizando, pensando bem,
nada.
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(*) Publicado no Blog do
Noblat em 31.05.2012. Penso que o Titanic não é a maior metáfora do mundo
depois do Lula e do Michel Teló. Ambos, representam metáforas maiores de
estadistas e cantores, estando no mesmo nível em suas respectivas áreas. (LP).
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