quinta-feira, 31 de maio de 2012

Automóvel e caminhão no Brasil são fetiches?





Por Ateneia Feijó (*)

Há brasileiros que embarcam em avião com destino a um país distante, em busca de um lugar “primitivo” para viver uma grande aventura. Geralmente são jovens de férias ou turistas a fim de emoções fortes. Ah... Se viajassem pelas bandas deste Brasil de ônibus, trem ou barco descobririam que os caminhos temerários estão aqui.

Não, não é brincadeira. Nosso sistema de transporte é absurdamente desconfortável e perigoso para a maioria dos viajantes.

No último domingo (27/05) O Globo publicou a primeira reportagem da série “O Brasil que não viaja de avião” realizada por duas duplas: Henrique Gomes Batista e Liane Thedim; e Domingos Peixoto e Márcia Foletto.

De cara fica explícito que além de investir pouco, o governo investe mal em infraestrutura. Afetando a competitividade do país e a qualidade de vida das pessoas.

Essa história, entretanto, começa bem antes: em meados do século passado. Ou melhor, desde a “era” Juscelino Kubitschek. Afinal, o presidente que construiu Brasília também impulsionou a implantação definitiva da indústria automotiva no Brasil. Inaugurou, em 1956, a primeira fábrica de caminhões (Mercedes-Benz) com motor nacional!

Onde? Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Foi daí que surgiu o maior parque industrial da América Latina, no Estado de São Paulo. Quer dizer, uma vantagem e uma desvantagem para os brasileiros.

A partir dele, o sistema de transporte neste país se tornou irracional. Por quê? Porque não houve um plano para integrar as estradas de rodagem a ferrovias e hidrovias. Elas simplesmente passaram por cima do que já existia e funcionava até direitinho.

Ou seja, todos os investimentos e incentivos foram direcionados à cadeia industrial automobilística, deixando a estrutura ferroviária ao léu.

Sem manutenção e renovação, trens descarrilharam e cidadezinhas que existiam em torno das estações acabaram morrendo junto com elas.

Se tivesse sido diferente talvez hoje fossem médias cidades. E as linhas férreas, modernizadas, um meio de transporte bacana beneficiando pessoas e empresas, facilitando crescimento com sustentabilidade etc.

Não dá para ficar no se, se... Mas nestes tempos ecológicos não daria para mudar a situação surrealista do transporte brasileiro?

Seria a indústria automotiva um fetiche?

Por que os técnicos do governo e a sociedade civil não se conscientizam de que é importante fabricar trens, barcos e navios? Construir linhas férreas, portos, eclusas. Metrô! Sem corrupção...

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(*) Publicado no Blog do Noblat em 29.05.2102. Fui lendo este texto e lembrando de minha infância em Bom Conselho, quando meus pais criavam coragem e pegavam a “sopa” para ir a Garanhuns. Foi lá que vi um trem pela primeira vez. Era um bicho feio danado, embora me diziam que ele não fazia mal a ninguém. Lembro até do apito, que pela primeira vez ouvido me deu muito medo. Fiquei pensando porque aquele trem morreu. Ora, se ele não fazia mal a ninguém, por que o mataram?

E hoje, só se fala em duplicação de rodovias. Há um vereador em Bom Conselho que quer se eleger tendo como promessa de campanha a duplicação da rodovia que vai de Garanhuns a Bom Conselho. É verdade, a indústria automobilística virou um fetiche. Os outros meios de transporte estão mortos. Por que não se pensa em reativar as ferrovias? Tarde demais? Caro demais? Eu mesma adoraria ouvir outra vez lá em Garanhuns, o apito do trem. Embora eu saiba que hoje, eles nem apitam mais. Mas, em sonho tudo pode (LP)

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