Havia no Rio de Janeiro centenas de ex-escravos, os chamados
negros forros. Luccock estimou em 1000 o número deles no ano de 1808. Eram diversas
as maneiras de um escravo conquistar a própria liberdade. Uma delas era
comprá-la mediante o pagamento de uma quantia previamente negociada —
geralmente igual ao valor que o seu dono tinha pago por ele. Esse dinheiro
poderia ter sido acumulado pelo próprio escravo, em trabalhos avulsos para
outras pessoas ou obtido mediante a ajuda de familiares ou mesmo uma irmandade.
A liberdade também podia ser concedida pela benevolência do dono do escravo.
Havia alforrias com prazo determinado. Por exemplo: o escravo deveria
permanecer cativo e prestar serviços até a morte do senhor. Depois disso,
estava livre. Essas condições às vezes eram registradas em testamento. Uma
terceira maneira era pela intervenção do governo, em casos de abandono, doença
ou maus-tratos.
Além disso, havia condições especiais, previstas em lei, que
autorizavam a alforria. Estava livre, por exemplo, o escravo que encontrasse um
diamante de vinte quilates ou mais, sendo que, nesse caso, o seu proprietário
receberia uma indenização de 400000
réis, quantia suficiente para comprar outros quatro novos escravos. O inglês
John Mawe descreve esse sistema de alforria por prêmio nas minas de diamantes
do Cerro Frio, em Minas Gerais, que visitou em 1810: “Quando um negro tem a
felicidade de encontrar um diamante que pese uma oitava (dezessete quilates e
meio), cingem-lhe a cabeça com uma grinalda de flores e levam-no em procissão
ao administrador, que lhe dá a liberdade e uma indenização ao seu senhor. Ganha
também roupas novas e obtém permissão para trabalhar por conta própria. O que
encontra uma pedra de oito a dez quilates, recebe duas camisas novas, um terno
novo completo, um chapéu e uma bela faca”. Também era considerado legalmente
alforriado o escravo que denunciasse seu dono por contrabando de diamantes.
Nesse caso, o próprio escravo receberia um prêmio de 200000 réis.
Uma curiosidade é que muitos alforriados chegavam a
enriquecer e se tornavam proprietários de escravos, terras e outros bens. Eram
casos relativamente raros, mas a simples existência deles torna o mundo da
escravidão no Brasil ainda mais surpreendente. O mais famoso é o da mulata
Francisca da Silva de Oliveira, a Chica da Silva do distrito diamantino de
Tejuco, em Minas Gerais. Celebrizada no filme do diretor Caca Diegues, de 1976,
Chica nasceu escrava, mas conquistou sua liberdade em dezembro de 1753,
concedida pelo contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, que a
comprara do médico português Manuel Pires Sardinha. Embora nunca tenham se
casado oficialmente, ela e João Fernandes mantiveram um relacionamento estável
de dezessete anos, período em que tiveram treze filhos. Entre os bens de Chica
havia um “significativo plantel de escravos”, segundo o historiador Ronaldo
Vainfas.
A alforria não era vista com bons olhos pelo poder público,
que considerava a escravidão uma instituição e um fator econômico a ser
preservado. A historiadora Leila Mezan Algranti cita o caso da negra forra
Clara Maria de Jesus, que pede a D. João a libertação do filho, Jorge Pardo,
escravo do padre João da Cruz Moura e Câmara. Alega ela que Jorge era filho de
um homem livre, tenente-coronel da tropa de linha em Angola, concebido quando a
mãe ainda estava no cativeiro. Clara Maria estava disposta a pagar 200000 réis
pela alforria do filho, mas o padre se recusava a fazer o negócio. O pedido foi
recusado pelo intendente geral de polícia, Paulo Fernandes Viana. Segundo ele,
“ninguém pode ser constrangido a vender seu herdamento” porque “um escravo bom
é um achado e uma propriedade preciosa”. No documento, Viana desaconselha dar
liberdade aos escravos porque o país não poderia correr o risco de ter uma
grande população negra livre. “Os males que da gente preta devemos esperar há
de vir (mais) pela de condição liberta que da cativa”, advertia. Termina dizendo
que não poderia atender ao pedido de Clara Maria porque “as razões políticas
são mais poderosas neste país”.
A liberdade não significava melhoria de vida. No cativeiro,
a posse e a manutenção dos escravos era regulada com algum rigor pela
legislação vigente. Seus donos tinham a obrigação de alimentálos, dar-lhes
moradia e assistência mínima para garantir sua sobrevivência. A lei previa que,
em caso de maus-tratos comprovados, o senhor do escravo poderia perder sua
propriedade, o que representava prejuízo financeiro. Livres, no entanto, os
negros forros ficavam entregues à própria sorte, marginalizados por completo de
qualquer sistema de proteção legal e social. Em muitos casos, a liberdade era
um mergulho no oceano de pobreza composto por negros libertos, mulatos e
mestiços, à margem de todas as oportunidades, incluindo educação, saúde,
moradia e segurança — um problema que, 120 anos depois da abolição oficial.
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(*) Reproduzimos hoje e nos próximos dias um trechos do
livro 1808 do jornalista e historiardor Laurentino Gomes, sobre a escravidão no
Brasil. Uma forma de não repetir os erros é sempre está lembrando do passado.
(LP)
Os negros escravizavam o seu próprio povo e tribos inimigas e vendiam aos portugueses. Isso as escolas e os livros didáticos omitem graças a ideologia marxista que infestam nossas escolas.
ResponderExcluirEu tenho esse livro e eé muuito interessante! Ele tem uma visão bem diferente da história ensinada no Ensino Fundamental, os detalhes buscados por Laurentino deixam a coisa toda bem mais pessoal!
ResponderExcluirse porventura estudares ou apreciares um pouco as intecoes esclavagistas veras que nao foram negros a escravizar visto que o reinado ja estava em paz e com uma democracia ja bem avancada, ora vejamos portugues chega ao reino do Ndongo com intencoes de comercio, comeca entao o sequestro de escravos, povos e tribos nao sabiam eis que eles incitam entao a desordem no seio de tribos onde um merece mais que o outro como: dividir para melhor reinar; tudo comeca e a desordem ja estava no seio dos tribos eis que surge entao uma forca capaz de enfrentar o imperio lusitano que nao era coisa facil, agora os livros foram escritos para obscurantir a verdadeira historia da escravidao atribuindo as culpas tambem ao africano, que somente queria comerciar. Abolicao da escravarura foi emancipada portugues continua com o trafico de escravos o ultimo navio negreiro saindo dos portos de angola com destino ao brazil,sao tome ainda foram recordados( sujiro-lhe a ver no youtube gente da banda em sao tome ele ainda la esta vivo e a falar de Angola), pra toda familia guerreira um abraco e a vitoria e certa.
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