Maio é um mês de muitas emoções. Começa com o Dia do
Trabalho, passa pelo Dia das Mães, continua com o Dia da Abolição da
Escravatura, que é também o dia da Virgem de Fátima. Além disso, é considerado
o mês das noivas. Dizem que a influência da Igreja Católica foi preponderante
na escolha desta denominação para maio, por ser o mês da consagração da Virgem
Maria, além da influência do dia dedicado às mães, e pelo fato, que não sabemos
se é causa ou consequência, dos casamentos serem realizados em maior número
neste mês. Alguns já dizem, que, por motivos mais “nobres”, férias e 13º salário, já se casa mais no mês de dezembro.
Porém, o nome continua no mês de Maio.
Tempos atrás, quando eu era uma moça casadoira, noivar era
quase uma obrigação. Casar sem noivar cheirava a pressa a que se submetiam os
noivos quando praticavam o que não deviam. Aliás, praticar o que não se devia é
uma questão moral e de costumes, e como tal, envolvida com todos nossos valores
religiosos. O que não se devia fazer numa relação a dois sempre variou no tempo
e no espaço. No caso do noivado eu fugi um pouco da regra geral, apenas
comunicando a meus pais que tinha noivado. Não foram pedir minha mão e até hoje
reclamo do meu marido por isto. Tenho que me explicar, antes que algum desafeto
ou mesmo moralista de plantão me acuse de libertinagem.
Fiquei em Bom Conselho até a adolescência, talvez um pouco
mais. Não namorei muito, talvez porque a música que eu mais cantava deve ter
influenciado minha vida: “Quem eu quero
não me quer, quem me quer mandei embora...”. Os rapazes da época, não sei
se por culpa minha ou deles só queriam xumbregar. E xumbrego comigo não,
gavião. Meu Deus, quando já se é uma mulher madura, eu disse madura e não
podre, temos compulsão de explicar tudo, já que vivemos muito para que mal
entendidos possam comprometer nossa reputação. Se minhas filhas me vissem falar
em xumbrego morreriam de rir, e diriam:
- Mãe, hoje ninguém xumbrega, a gente “fica”.
É isso ai, hoje elas "ficam", tempos atrás as moças xumbregavam. Havia muitas moças
xumbregueiras naqueles tempos, no entanto, meus preceitos religiosos me impediam
de fazer isto e meu pai me mataria se algum amigo dele lhe contasse que me
encontrou xumbregando com alguém. Se fosse mamãe que dissesse a ele talvez não
chegasse ao homicídio doloso, mas ao culposo, com a surra que levaria, sim. E
não pensem que meu pai era um monstro desnaturado ao ponto de matar a filha.
Todos eram. Colocavam a honra em primeiro lugar, e o amigo saber que a filha
estava xumbregando era a maior desonra, se só a mãe soubesse a desonra era
menor. Costumes e moral de uma época?
Atualmente, antes de noivar, as moçoilas “ficam” à vontade, depois namoram, depois
noivam e depois casam, às vezes, não necessariamente nesta mesma ordem. Depende
muito da classe social, nível de renda, grau de instrução, formação religiosa e
de outras variáveis. O que mudou muito dos tempos de outrora foi o período
envolvido nisto e o significado das palavras usadas. Entre xumbregar e “ficar” não vejo muita diferença e o
provaria se o nosso Blog só pudesse ser lido tarde da noite, entretanto, já sei
que ele já é leitura quase obrigatória nas “lan
houses” de Bom Conselho, então, acreditem. Namorar, Noivar e Casar é que
mudaram totalmente de sentido. Como estamos tratando do mês das noivas,
fiquemos neste termo.
Noivar antes era um sonho para nós mulheres talvez até maior
do que o casamento que seria o acordar para realidade. Era o ponto futuro do
casamento com mais certeza do que no namoro. Era a preocupação dos pais com o
dote, em minha geração, já restrito ao chamado enxoval da noiva. Quanto ao
dote, os machistas diziam que era uma forma de compensar o noivo por aceitar
carregar a "carga",
arrematando: o "burro" tem
que comer alguma coisa para levar a "carga".
Nossa vingança como mulher veio pelo nosso brio e não pela nossa praticidade.
Hoje nós, como mães ainda tratamos do enxoval e trabalhamos para ajudar o
"burro", mas dizemos a
nossas filhas: se o "burro"
der coices, não titubeie, dê um maior ainda naquele lugar onde lhe ensinei.
Voltemos aos encantos do noivado. As noivas sonham ainda, e como sonham. Mas,
um sonho diferente. De participação na vida a dois, na maternidade, mesmo
quando já levam uma criança no bucho, no amor, mesmo que saibam que é chama e
pode se apagar numa sala da justiça, no trabalho, mesmo que trocando o posto de
chofer de fogão para dirigir outros veículos mais complicados. Sonhos enfim.
O que falta mesmo aos noivados atualmente, é o que falta a
todos os atos humanos que eram possíveis no passado e não mais são possíveis
hoje. Antes tudo parecia acontecer até que a morte separasse. Hoje não se
espera a morte. Tudo acontece antes porque a morte ficou para depois. Pensamos
que temos tempo para “ficar” muitas
vezes, namorar mais ainda, noivar nem se fala já que o casamento se tornou
quase o xumbrego do passado. Vivi o suficiente para dizer que nada disso é
errado hoje e nem foi ontem, desde que as consciências de cada uma não doam. Eu
mesma noivei, casei e xumbrego com o mesmo homem há quase 30 anos. Estou feliz
neste maio: Mês das Noivas.
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(*) Publicado no Blog da CIT em 20.05.2009. Hoje, uma filha
minha diz que agora antes de casar normalmente se faz um “teste
drive”, para sentir a situação e ver se dará certo. Pelo jeito, igual como
os automóveis, e com o número de divórcios, não está dando muito certo não.
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