quinta-feira, 21 de junho de 2012

Erundina faz PT lembrar do PT anti-Maluf





Por Ricardo Kotscho (*)

Em menos de uma semana, a ex-petista Luiza Erundina teve dois gestos de grandeza. Primeiro, ao aceitar entrar como vice na chapa do partido do qual tinha sido expulsa. Cinco dias depois, ao deixar o posto por discordar da forma como o PT fechou a aliança com o PP num pomposo beija-mão que levou Lula e Fernando Haddad à mansão de Paulo Maluf.

"É demais para mim", protestou Erundina, ainda na segunda-feira, ao ver as imagens do sorridente encontro nos jardins daquele que já foi o inimigo público número um do PT. Para quem conhece esta nordestina arretada de opinião própria, era previsível o desenlace, como comentei na mesma noite no Jornal da Record News.

Primeira prefeita eleita pelo PT em São Paulo, em 1988, Erundina derrotou e depois foi derrotada por Paulo Maluf ao tentar a reeleição. Para ela, mulher humilde e partidária, não tinha problema nenhum aceitar ser candidata a vice indicada pelo PSB para um cargo do qual já foi titular, mas subir num palanque de mãos dadas com Maluf era algo que sua dignidade não tolerava.

Foi isso o que ela comunicou ao presidente do partido, o governador pernambucano Eduardo Campos, sem dar margens para negociações. Com ela, não tem negócio: Erundina é do tempo em que tudo tinha limites.

Aos 77 anos, a deputada federal Luiza Erundina, que eu conheço e admiro desde os primórdios do PT, sabe que neste mundo poucos podem muito, a maioria não pode nada, ninguém pode tudo.

O jornalista Frederico Branco, um dos meus mestres na velha redação do "Estadão", me ensinou uma sábia lição, quando eu ia fazer alguma coisa errada: "Meu filho, tem coisa que pode e tem coisa que não pode". Simples assim.

Ficar de gracinha com Maluf, por exemplo, não pode. O problema com ele não é só de diferenças políticas e ideológicas. Acima de tudo, é moral e, mais do que isso, policial. Procurado pela Interpol em todo o mundo, acusado do desvio de milhões e milhões de dinheiro público, o dono da mansão não serve de companhia para quem passou a vida o denunciando.

Com seus gestos de grandeza em dois atos, Luiza Erundina lembrou ao PT de hoje dos tempos em que seus líderes chamavam o ex-governador e ex-prefeito cevado pela ditadura de "ladrão" e "nefasto", e a militância ia às ruas com as bandeiras vermelhas para denunciar as práticas do malufismo.

Mais parecendo um coadjuvante da sua própria campanha, o candidato Fernando Haddad, que nunca teve uma militância partidária, sentiu na própria pele ontem à noite os efeitos da entrada de Maluf e da saída de Erundina.

Logo após a desistência da candidata a vice, num encontro com militantes petistas na associação dos moradores de Vila Rica, na zona leste, segundo relato do repórter Bernardo Mello Franco publicado na "Folha" desta quarta-feira, o próprio Haddad deu a notícia no microfone : "A Erundina falou que vai nos apoiar, mas não vai ser mais a vice".

A frustração foi geral, como se pode constatar nas declarações de alguns militantes citados na matéria.

Josefa Gomes, 75, pensionista: "A gente fica muito decepcionada, né? O povo daqui ama a Erundina. Maluf, não, pelo amor de Deus".

Maria de Fátima Souza, 64, confeiteira: "Se for para perder a eleição, a gente tem que perder de cabeça erguida. Não com o Maluf. Eu sou limpa. Você acha que vou dar o braço a ladrão?"

Este é o PT velho de guerra, que pensa como Luiza Erundina, e nunca vai aceitar Paulo Maluf.

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(*) Publicado no Blog do Kotscho em 20.06.2012. Eu nunca gostei muito do Ricardo Kotscho, pela sua parcialidade (outros diriam amizade, mas, em jornalismo tem este nome mesmo) em relação ao Lula, o que ele demonstra neste texto onde mete o  “pau” em sua atitude de aliar-se ao Maluf, sem nem tocar em seu nome. O Kotscho deveria continuar seguindo o conselho do jornalista que ele cita: "Meu filho, tem coisa que pode e tem coisa que não pode". E uma coisa, ele sabe, que para ser honesto, não poderia: “Tirar o do Lula da reta”, num episódio como este. Eu só posso dizer graças a Deus, pois o PT de Lula está mostrando sua cara, que é a cara do “cara”.

2 comentários:

  1. ERUNDINA PODE SER CONSIDERADA COMO UM EXEMPLO DA EXEMPLAR POLÍTICA BRASILEIRA. ELA É AQUELA QUE AINDA DEFENDE A LUTA DE CLASSES, A DESIGUALDADE SOCIAL E DEPOIS VAI DORMIR EM UMA MANSÃO, COM INTERNET BANDA LARGA, TV À CABO ALIMENTANDO UM TELÃO DE LCD, SENTA-SE NUMA BACIA SANITÁRIA FOLHEADA A OURO E, PARA NÃO PERDER O COSTUME, APOIA O QUENGO, NA HORA DE DORMIR, COM UM VELHO E EMPOEIRADO LIVRO DE MARX. ESSA PARAIBANA É UMA EX-PETISTA. ESSA GENTE NÃO PRESTA...

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  2. Concordo com Altamir Pinheiro. Erundina é mais um cacareco ideológico. Devia mesmo não ter aceitado nunca a condição de indicada para vice prefeita. Queria ver se o candidato lulista estivesse na frente nas pesquisas, ela sairia. Como bem disse Altamir, muita gente prega o socialismo depois de ter ,ou estar, mamando no estado. Afinal , a conta, o povaréu paga. E com gosto, pois ainda amam Lula e Dilma. Que povinho bom...Rafael Brasil.

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