Por Ricardo Kotscho (*)
Em menos de uma semana, a
ex-petista Luiza Erundina teve dois gestos de grandeza. Primeiro, ao aceitar
entrar como vice na chapa do partido do qual tinha sido expulsa. Cinco dias
depois, ao deixar o posto por discordar da forma como o PT fechou a aliança com
o PP num pomposo beija-mão que levou Lula e Fernando Haddad à mansão de Paulo
Maluf.
"É demais para mim", protestou
Erundina, ainda na segunda-feira, ao ver as imagens do sorridente encontro nos
jardins daquele que já foi o inimigo público número um do PT. Para quem conhece
esta nordestina arretada de opinião própria, era previsível o desenlace, como
comentei na mesma noite no Jornal da Record News.
Primeira prefeita eleita
pelo PT em São Paulo, em 1988, Erundina derrotou e depois foi derrotada por
Paulo Maluf ao tentar a reeleição. Para ela, mulher humilde e partidária, não
tinha problema nenhum aceitar ser candidata a vice indicada pelo PSB para um
cargo do qual já foi titular, mas subir num palanque de mãos dadas com Maluf
era algo que sua dignidade não tolerava.
Foi isso o que ela
comunicou ao presidente do partido, o governador pernambucano Eduardo Campos,
sem dar margens para negociações. Com ela, não tem negócio: Erundina é do tempo
em que tudo tinha limites.
Aos 77 anos, a deputada
federal Luiza Erundina, que eu conheço e admiro desde os primórdios do PT, sabe
que neste mundo poucos podem muito, a maioria não pode nada, ninguém pode tudo.
O jornalista Frederico
Branco, um dos meus mestres na velha redação do "Estadão", me ensinou
uma sábia lição, quando eu ia fazer alguma coisa errada: "Meu filho, tem coisa que pode e tem coisa
que não pode". Simples assim.
Ficar de gracinha com
Maluf, por exemplo, não pode. O problema com ele não é só de diferenças
políticas e ideológicas. Acima de tudo, é moral e, mais do que isso, policial.
Procurado pela Interpol em todo o mundo, acusado do desvio de milhões e milhões
de dinheiro público, o dono da mansão não serve de companhia para quem passou a
vida o denunciando.
Com seus gestos de
grandeza em dois atos, Luiza Erundina lembrou ao PT de hoje dos tempos em que
seus líderes chamavam o ex-governador e ex-prefeito cevado pela ditadura de
"ladrão" e "nefasto", e a militância ia às ruas
com as bandeiras vermelhas para denunciar as práticas do malufismo.
Mais parecendo um
coadjuvante da sua própria campanha, o candidato Fernando Haddad, que nunca
teve uma militância partidária, sentiu na própria pele ontem à noite os efeitos
da entrada de Maluf e da saída de Erundina.
Logo após a desistência
da candidata a vice, num encontro com militantes petistas na associação dos
moradores de Vila Rica, na zona leste, segundo relato do repórter Bernardo
Mello Franco publicado na "Folha" desta quarta-feira, o próprio
Haddad deu a notícia no microfone : "A
Erundina falou que vai nos apoiar, mas não vai ser mais a vice".
A frustração foi geral,
como se pode constatar nas declarações de alguns militantes citados na matéria.
Josefa Gomes, 75,
pensionista: "A gente fica muito
decepcionada, né? O povo daqui ama a Erundina. Maluf, não, pelo amor de Deus".
Maria de Fátima Souza,
64, confeiteira: "Se for para perder
a eleição, a gente tem que perder de cabeça erguida. Não com o Maluf. Eu sou
limpa. Você acha que vou dar o braço a ladrão?"
Este é o PT velho de
guerra, que pensa como Luiza Erundina, e nunca vai aceitar Paulo Maluf.
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(*) Publicado no Blog do
Kotscho em 20.06.2012. Eu nunca gostei muito do Ricardo Kotscho, pela sua
parcialidade (outros diriam amizade, mas, em jornalismo tem este nome mesmo) em
relação ao Lula, o que ele demonstra neste texto onde mete o “pau”
em sua atitude de aliar-se ao Maluf, sem nem tocar em seu nome. O Kotscho
deveria continuar seguindo o conselho do jornalista que ele cita: "Meu filho, tem coisa que pode e tem coisa
que não pode". E uma coisa, ele sabe, que para ser honesto, não
poderia: “Tirar o do Lula da reta”,
num episódio como este. Eu só posso dizer graças a Deus, pois o PT de Lula está
mostrando sua cara, que é a cara do “cara”.
ERUNDINA PODE SER CONSIDERADA COMO UM EXEMPLO DA EXEMPLAR POLÍTICA BRASILEIRA. ELA É AQUELA QUE AINDA DEFENDE A LUTA DE CLASSES, A DESIGUALDADE SOCIAL E DEPOIS VAI DORMIR EM UMA MANSÃO, COM INTERNET BANDA LARGA, TV À CABO ALIMENTANDO UM TELÃO DE LCD, SENTA-SE NUMA BACIA SANITÁRIA FOLHEADA A OURO E, PARA NÃO PERDER O COSTUME, APOIA O QUENGO, NA HORA DE DORMIR, COM UM VELHO E EMPOEIRADO LIVRO DE MARX. ESSA PARAIBANA É UMA EX-PETISTA. ESSA GENTE NÃO PRESTA...
ResponderExcluirConcordo com Altamir Pinheiro. Erundina é mais um cacareco ideológico. Devia mesmo não ter aceitado nunca a condição de indicada para vice prefeita. Queria ver se o candidato lulista estivesse na frente nas pesquisas, ela sairia. Como bem disse Altamir, muita gente prega o socialismo depois de ter ,ou estar, mamando no estado. Afinal , a conta, o povaréu paga. E com gosto, pois ainda amam Lula e Dilma. Que povinho bom...Rafael Brasil.
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