Por Mary Zaidan (*)
A eleição é municipal.
Mas nem parece. Quem manda nelas são caciques que pouco se interessam pelas demandas
locais, mas pelo quanto vencer em 2012 pode valer para 2014.
Mais do que a deplorável
opção pela política de resultados, com objetivos imediatos e importância zero
para ideias, muito menos para princípios, o que para eles importa é o futuro
próximo, os palácios estaduais e o paraíso do Planalto.
A começar por São Paulo,
onde o ex Lula se deu ao luxo de descartar a favorita Marta Suplicy e inventar
o ainda inexpressivo Fernando Haddad.
O PT de Lula interveio
também em Fortaleza e no Recife, nessa última pagando preço altíssimo. Ao
anular as prévias e impor Humberto Costa, perdeu o apoio do governador Eduardo
Campos (PSB), que preferiu lançar candidato solo, e viu um de seus mais
expressivos líderes, Maurício Rands, abandonar a legenda.
Rands, que fora vencido
na prévia petista pelo atual prefeito João da Costa, engoliu a derrota pessoal,
mas não suportou a agressão do PT nacional.
Eduardo Campos não brinca
em serviço. Com o PT, tem feito algo do tipo amigos, amigos, eleições à parte.
Saiu sem o PT em várias capitais e, em algumas delas, pronto para o confronto.
Em Porto Alegre, por exemplo, preferiu aliar-se a Manuela D’Ávila (PCdoB), que
tem o PSD na vice, do que ao PT de Adão Villaverde. Em Cuiabá, Mauro Mendes vai
bater de frente com o petista Lúdio Cabral.
Mas o pior dos imbróglios
se instalou em Belo Horizonte. Lá, depois da ruptura da aliança que elegeu
Marcio Lacerda (PSB), com PT e PSDB, o PT usou a mão forte e impôs o
ex-ministro Patrus Ananias, cassando o registro do candidato Roberto Carvalho,
atual vice de Lacerda.
Na outra ponta, o PSD,
por ordem do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, anunciou adesão a Patrus,
talvez para purgar o mal-estar criado junto a Lula ao apoiar o candidato tucano
José Serra poucos dias depois de iniciar negociações em favor de Haddad.
Só que em BH, o PSD
prefere Lacerda. Resultado: o partido de Kassab consta no registro das
candidaturas de Patrus e de Lacerda. Nem os folclóricos políticos mineiros José
Maria Alkmin e Benedito Valladares produziriam tal piada.
Enquanto isso, as
cidades, o mundo real onde as pessoas vivem, ficam relegadas a plano
secundário.
Afinal, que glamour têm
engarrafamentos, transporte público, postos de saúde, creches, corte de grama,
podas de árvore, varrição, lixo? São temas que passam longe dos palácios mais
cobiçados. E quando despertam algum interesse – as Delta da vida que o digam –
costumam ser por motivos inconfessáveis.
Resta-nos o voto, algo
que eles ainda não tomaram de assalto.
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(*) Publicado no Blog do
Noblat em 08.07.2012. Texto pequeno mas decente e verdadeiro. “Todo mundo só pensa naquilo”, como dizia
Dona Cacilda na Escolinha do Professor Raimundo. Tirando os próprios candidatos municipais, que juram que todos os
políticos de projeção nacional estão sabendo minuciosamente da realidade dos
municípios, estes querem mesmo é saber o que vão ganhar em 2014, a partir de
agora.
Todos estão se lixando
para nossa realidade local, de caos e desordem no trânsito, problemas sérios de
segurança pública, e a catástrofe da saúde. E poderia ser pior se eles não
quisessem aparecer como mentores do sucesso dos eventos de 2013 e 2014 no
futebol. E depois? Depois, como diz o Zezinho, a marolinha vai se transformar
em marolão e nos comer inteiros. Deus
queira que eu minta. Mas, só resta repetir a Mary Zaidan, implorando para que o
único instrumento que temos controle, o voto, seja limpo, sério, honesto e consciente. Mesmo sabendo que a grande maioria dos
eleitores, mesmo querendo não nos poderia ler, pois faltam-lhes o domínio das
letras, façamos o possível para que eles nos ouçam e entendam com quem estão
lidando (LP).
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