quarta-feira, 11 de julho de 2012

As cidades que se danem





Por Mary Zaidan (*)

A eleição é municipal. Mas nem parece. Quem manda nelas são caciques que pouco se interessam pelas demandas locais, mas pelo quanto vencer em 2012 pode valer para 2014.

Mais do que a deplorável opção pela política de resultados, com objetivos imediatos e importância zero para ideias, muito menos para princípios, o que para eles importa é o futuro próximo, os palácios estaduais e o paraíso do Planalto.

A começar por São Paulo, onde o ex Lula se deu ao luxo de descartar a favorita Marta Suplicy e inventar o ainda inexpressivo Fernando Haddad.

O PT de Lula interveio também em Fortaleza e no Recife, nessa última pagando preço altíssimo. Ao anular as prévias e impor Humberto Costa, perdeu o apoio do governador Eduardo Campos (PSB), que preferiu lançar candidato solo, e viu um de seus mais expressivos líderes, Maurício Rands, abandonar a legenda.

Rands, que fora vencido na prévia petista pelo atual prefeito João da Costa, engoliu a derrota pessoal, mas não suportou a agressão do PT nacional.

Eduardo Campos não brinca em serviço. Com o PT, tem feito algo do tipo amigos, amigos, eleições à parte. Saiu sem o PT em várias capitais e, em algumas delas, pronto para o confronto. Em Porto Alegre, por exemplo, preferiu aliar-se a Manuela D’Ávila (PCdoB), que tem o PSD na vice, do que ao PT de Adão Villaverde. Em Cuiabá, Mauro Mendes vai bater de frente com o petista Lúdio Cabral.

Mas o pior dos imbróglios se instalou em Belo Horizonte. Lá, depois da ruptura da aliança que elegeu Marcio Lacerda (PSB), com PT e PSDB, o PT usou a mão forte e impôs o ex-ministro Patrus Ananias, cassando o registro do candidato Roberto Carvalho, atual vice de Lacerda.

Na outra ponta, o PSD, por ordem do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, anunciou adesão a Patrus, talvez para purgar o mal-estar criado junto a Lula ao apoiar o candidato tucano José Serra poucos dias depois de iniciar negociações em favor de Haddad.

Só que em BH, o PSD prefere Lacerda. Resultado: o partido de Kassab consta no registro das candidaturas de Patrus e de Lacerda. Nem os folclóricos políticos mineiros José Maria Alkmin e Benedito Valladares produziriam tal piada.

Enquanto isso, as cidades, o mundo real onde as pessoas vivem, ficam relegadas a plano secundário.

Afinal, que glamour têm engarrafamentos, transporte público, postos de saúde, creches, corte de grama, podas de árvore, varrição, lixo? São temas que passam longe dos palácios mais cobiçados. E quando despertam algum interesse – as Delta da vida que o digam – costumam ser por motivos inconfessáveis.

Resta-nos o voto, algo que eles ainda não tomaram de assalto.

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(*) Publicado no Blog do Noblat em 08.07.2012. Texto pequeno mas decente e verdadeiro. “Todo mundo só pensa naquilo”, como dizia Dona Cacilda na Escolinha do Professor Raimundo. Tirando os próprios  candidatos municipais, que juram que todos os políticos de projeção nacional estão sabendo minuciosamente da realidade dos municípios, estes querem mesmo é saber o que vão ganhar em 2014, a partir de agora.

Todos estão se lixando para nossa realidade local, de caos e desordem no trânsito, problemas sérios de segurança pública, e a catástrofe da saúde. E poderia ser pior se eles não quisessem aparecer como mentores do sucesso dos eventos de 2013 e 2014 no futebol. E depois? Depois, como diz o Zezinho, a marolinha vai se transformar em marolão  e nos comer inteiros. Deus queira que eu minta. Mas, só resta repetir a Mary Zaidan, implorando para que o único instrumento que temos controle, o voto,  seja limpo, sério, honesto e consciente.  Mesmo sabendo que a grande maioria dos eleitores, mesmo querendo não nos poderia ler, pois faltam-lhes o domínio das letras, façamos o possível para que eles nos ouçam e entendam com quem estão lidando (LP).

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