quarta-feira, 18 de abril de 2012

Rituais e hábitos - Um pastoril da Democracia




No dia 16 próximo passado encontrei outro texto do Elton Simões (Blog do Noblat), que igual a Luiza (eita história para render!!!) está no Canadá, e ainda não voltou, e ao contrário dela, eu suponho, escreve divinamente. Eu mesma já publiquei outro texto dele (aqui) neste meu humilde blog.

Ele agora fala de eleição e de escolha. Não deu para fazer como fiz da outra vez e publicá-lo sem comentários. Então resolvi mais uma vez imitar o Zezinho de Caetés e seus pastoris, embora nem sempre entre um ato e outro compareça com meu cordão encarnado. Deixo-o cantando sua bela música sozinho, com seu cordão azul.
  
A gente sempre consegue planejar, mas raramente consegue prever. Do ponto de vista emocional, planejar traz conforto, segurança. Do ponto de vista prático planejar nos permite saber onde e como as coisas deram certo, ou errado.

Isto é um fato que sempre notei em minhas atitudes, que apesar de planejar muito, são tantas as vezes que as coisas não dão certo que ficamos imaginando onde erramos. E o que falta realmente para o planejamento dá certo é nossa capacidade de previsão. Por exemplo, se o Lula pudesse ter previsto sua doença, o candidato a prefeito de São Paulo seria a Marta Suplicy, e o Zé Serra ainda estaria brigando com o Aécio para ser candidato a presidente.

De uma maneira ou de outra, acho que o ser humano é incapaz de viver sem ter a ilusão de que ele controla, ou pelo menos influência, seu futuro.

E foi esta ilusão que levou o Lula outra vez a apoiar a CPI do Cachoeira. Depois da doença parece que ele perdeu o faro mesmo. Isto é bom para a oposição se não fosse tão iludida, ao ponto de pensar que a Dilma vai deixar a coisa correr frouxa. E quando falo na Dilma, estou me referindo apenas a boneca de ventríloquo através da qual o Lula fala. Ele não diz mais nada porque deveria admitir que cometeu um erro político, mas, isto mancharia sua reputação como deus.

Talvez para manter essa ilusão, desenvolvemos hábitos e rituais aos quais nos devotamos periodicamente. Hábitos têm caráter prático. Dão-nos previsibilidade. Evitam que a vida se passe em meio a um caos aparente. Ajudam todos os aspectos da vida social e prática.

É por hábito que dizemos bom dia; escovamos os dentes; acordamos na mesma hora; lemos o mesmo jornal; assistimos a um programa na televisão. Os hábitos são aquela força invisível que nos compele a fazer algo regularmente. Sem pensar. Sem refletir. Mas sempre tendo um objetivo prático como objetivo. São ações repetidas desprovidas de significado.

Estes hábitos podem ter até algum significado no início, como a mania do Lula dizer: “nunca antes na história deste país”, e que agora é um hábito. Dizem que pela manhã, junto com os hábitos mais corriqueiros de escovar os dentes, dar bom dia a Marisa Letícia e passar a mão no rosto, hábito que adquiriu depois que a barba caiu, dizer: “nunca antes na história deste país” alguém escovou os dentes tão bem, ou deu um bom dia tão bonito como eu dou.

Outro hábito adquirido nos últimos tempos, inclusive por vários jornalistas e blogueiros é repetir, como o Lupi, diante de um retrato da Dilma: “Dilma, eu te amo”. Tudo é dito sem pensar e sem refletir, mas, tem sempre um objetivo prático, que no caso é não poderem repetir isto diante de um retrato do Lula sem ficarem expostos ao preconceito machista do nossso país.

Rituais, embora também repetidos regularmente, são diferentes de hábitos. Rituais exigem crença, emoção e fé. São os rituais da vida que conferem significado a ela. Eles vestem as ações com o manto das ideias, sentimentos e propósitos.

Perfeito. O meu ritual de ir à missa aos domingos transcende o hábito. Minha emoção nunca é a mesma, mas é sempre crescente ao ouvir o sermão do dia, principalmente quando lá no púlpito há um sacerdote que nos perdoa os pecados mais escabrosos.

O ritual, que soube existe agora no Palácio da Princesas, do Coronel Eduardo reunir todos os secretários, enquanto seu porta-voz lê uma relação de prefeitos que ele quer fazer nos municípios nas próximas eleições, a que todos ouvem com um ar de contrição: Maurício Rands, Antônio Dourado,.... e por aí segue a lista para desespero do João da Costa e do povo de Garanhuns.

É pela busca de significado que rezamos; torcemos pelo clube do coração; comemoramos aniversário, natal e ano novo; almoçamos com a família. É essa coleção de pequenas e grandes ações, cada uma com significado diferente e pessoal, que emprestam sentido à existência. Rituais que nos fazem humanos.

Por exemplo, dizem que antes de sair casa para o trabalho, pelo menos aquelas que já fazem do sair de casa um ritual, as mulheres usam seus espelhos e sempre se perguntam: “Espelho, espelho meu existe alguém mais bonita do que eu?” E quando recebem a resposta de que que existe sim pois a Branca de Neve ainda não morreu, ou que Gisele Budchen  está viva, etc, etc. elas não se importam mais, pois, se a resposta for ao contrário, o ritual acaba no outro dia, e assim suas vidas não terão sentido.

Nada mais triste do que a transformação de ritual em hábito. Quando viver se torna a consequência de ações rotineiras que se repetem mesmo depois terem perdido o sentido. Neste momento, viver e sobreviver se tornam sinônimos.

E o ritual do espelho poderia se tornar um hábito, como dizem que se tornou no caso da nossa presidenta, que de tanto dar porrada no espelho, ele todo dia diz que não há ninguém bonita quanto ela, e que até a Cristina Kirchner morreu, e que a Ângel Merkel, nunca foi páreo para ela. Mas isto tem um preço. O ritual tornou-se um hábito e perdeu o significado. Agora ela não fez nem questão de encontrar a Michele Obama.

Na democracia, a eleição deve sempre ser um ritual. Quando a eleição é um ritual, votar é um exercício de liberdade. É a expressão dos desejos e anseios da sociedade. É a possibilidade e a responsabilidade de escolher e influenciar o futuro e se tornar parte das soluções ou dos problemas.

Entretanto, quando a democracia não funciona, eleições se tornam um hábito desprovido de significado. A democracia fica esvaziada de sentido. Eleições viram uma sucessão de gestos e palavras vazias periodicamente repetidas. Apenas um passo fútil, sem direção e sem sentido. Votar vira um fetiche.

Democracia é para aqueles que buscam sentido em suas ações. Eleição é ritual. Votar é para quem fez a escolha pela vida e não somente pela sobrevivência.

Com este desempenho do cordão azul é muito difícil competir. No entanto, como o deixei começar, eu termino. E o faço dizendo que quase estamos transformando nosso ritual democrático num hábito da pior espécie, onde a rotatividade do poder foi freada pela matreirice do governo petista, que quer, como num grande ritual, transformar nossa pluralidade democrática num samba de uma nota só, e da pior qualidade no mundo da música, como o são os sistemas de partido único, ao longo da história.

Não há como não tentar transformar em ritual nossa oposição sistemática ao que esta aí, sem transformar isto num hábito banal.

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