domingo, 8 de abril de 2012

Unidade na diversidade




Por Elton Simões (*)

Não gostaria de viver em um mundo onde todos concordam sempre com tudo. Gosto dos debates, das duvidas, e dos dilemas. Acho que o mundo seria muito mais feio se fosse uniforme, unanime e perfeito.

Admiro aqueles que discordam. Que tem ideias próprias. Que duvidam. Que criticam. Que defendem suas ideias ainda que elas não reflitam o que a maioria crê. Admiro aqueles que, em sua jornada, não permitem que dúvidas e dilemas se transformem em limitações. Gosto do diferente, do diverso e do choque dos dois. É a diversidade e o debate que permitem a superação das dificuldades e a construção de uma realidade melhor.

Sempre desconfiei da unanimidade. A unanimidade é inflexível porque impede a discordância. Busca a perfeição através da eliminação daquilo que considera imperfeito. Nada novo nasce dela. Ela elimina o diverso, combate o novo, mata a critica, e impede a transparência.

A unaminidade pode parecer confortável, mas pode ser mortal. Ela é a concordância sem resistência. Sem critica. Sem debate. Sem diversidade. Como se existisse espaço apenas para uma opinião, um ponto de vista, uma verdade.

Como se a unaminidade fosse inevitável. As grandes certezas coletivas são a véspera dos grandes desastres.

Onde há unaminidade, não existem dilemas, duvidas, e debates. Existe apenas uma versão sem cor, poesia ou beleza. Ela está presa ao passado. Tem compromisso com a preservação das coisas na maneira como estão. Não tolera a contestação. Sem contestação, os olhos não se voltam para o futuro. Onde falta debate, falta luz.

A unaminidade não permite a diversidade, a escolha. É apenas a ilusão de que, se todos acreditam, deve ser verdade. Ilusão apenas. Ainda que doce.

Duvidas, dilemas e debates são as luzes que permitem ver o que nos aguarda mais a frente. A diversidade é o combustível da chama que gera esta luz. Diversidade de pessoas, ideias, opiniões, conceitos, estilos de vida, enfim, de tudo.

Quando as circunstancias mudam, quando a vida pede, é a diversidade que nos salva. A salvação sempre vem na forma de ideias e conceitos novos. Vem das coisas e pessoas que ontem eram consideradas minorias diferentes e divergentes.

O que é considerado diferente hoje pode ser a solução dos problemas de amanhã. A diversidade é a grande reserva de recursos da humanidade.

Nelson Rodrigues um dia disse que toda unaminidade é burra. Não concordo. A unaminidade não é burra. Ela é apenas o resultado ou sintoma da cegueira coletiva.

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(*) Publicado em 02.04.2012 no Blog do Noblat. O título original é em latim: 'In varietate concordia'. Aqui colocamos sua tradução. O texto, para mim, é uma ode à democracia e à liberdade de expressão, por isto o publico neste Domingo de Páscoa, que desejamos felizes para todos, embora haja saudáveis controvérsias. (LP)

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