Semana passada estava fazendo um périplo pelos laboratórios
da cidade. A vida moderna, com a medicina moderna, torna esta atividade
obrigatória para quem está se aproximando da “boa idade”. E parece que só os médico devem considerá-la boa mesmo,
pois são eles que mais lucram com ela, depois dos planos de saúde, é claro. E
no Brasil, feliz de quem ainda pode pagar um plano para não cair na malha fina
do SUS. Malha fina porque, entrou nele, vira suco.
A esperança de vida dos seres humanos subiu muito nos
últimos tempos e já nos alertam que quem nascer por estas datas recentes, como
meus netos, terá esperança de vida de quase 100 anos, e daí para imortalidade,
é só esperar nascer em 2100. Eu, pessoalmente, não vejo muita vantagem nisto,
se a esperança de vida que a medicina nos der for inteiramente para zanzar de
hospital em hospital, de laboratório em laboratório ou de médico em médico.
Termina que, a esperança de vida boa vai se restringir à que tínhamos no século
XIX, ou anterior.
Chego a um laboratório e antevejo, com quase exatidão a
conversa, depois de passar numa maquininha e tirar uma senha, olhando a
expressão triste das pessoas que já estão sentadas e de quando em vez, olham a
sua para saber se serão atendidas no mesmo dia.
E chegando mais gente. O que nos deixa animada, pois sabemos
que há seres em pior situação. Quão pérfido pode ser o ser humano em determinadas
ocasiões. Depois de ouvir um som, ao qual prefiro a voz da Gabi Amarantos na
novela das domésticas, e ver que o número 152 é o meu, dirijo-me ao portão de
embarque, digo, ao guichê lá anunciado:
- Qual o seu plano de saúde? Carteirinha e RG.
- Tudo isto?
- É claro. Como eu poderia saber que a senhora é você
mesma?!
- Minha filha, onde nós estamos? Será que alguém mandaria outra pessoa fazer
exames médicos por ela?
- Estamos no Brasil, minha senhora. O pessoal manda gente
doente para fazer o exame por ela e depois faltar ao trabalho. Isto já
aconteceu.
- Pensando bem, você está certa. Há poucos dias o José
Sarney colocou um aparelho no coração, lá no SUS do Congresso, o Sírio Libanês,
só para não instalar uma CPI. E até ameaçou um médico (penso que era um
residente) que cismava em dizer que ele não tinha nada. Tá bom, tá aqui meus
documentos e o pedido do exame.
- Está em jejum?
- O quê?!
- Está em jejum de 12 horas, minha senhora?! Parou de comer
12 horas antes?
- Ah, sim! Desculpe minha filha, pois eu sou do interior e
lá em Bom Conselho quando diziam que uma mulher estava “em jejum”, queriam dizer que ela estava “desprevenida”, sem calcinha, se é que você me entende. Era um
vexame. Hoje virou moda. Você está em jejum, minha filha?!
- Não minha senhora. E a
senhora está?
- Estou sem comer há 12 horas?
- Que remédios a senhora está tomando?
- Tomo aquele de pressão, como é que é mesmo? Aquele para
colesterol, aquele para alimentar meus neurônios em decadência e....
- Tá bom, já tenho aqui em sua ficha. A senhora continua
tomando todos?
- Continuo, e espero que não aumente a lista depois dos
exames.
- Pronto, volte e aguarde a chamada do seu nome.
E eu volto para a sala, meu lugar já está tomado e tenho que
ficar em pé para tomar o lugar do outro que será inquirido em seguida. E fico
lá meditando, lendo alguma coisa que levei, e que agora é um livro que me foi
emprestado pelo Zézinho de Caetés, que é ótimo. Ele mostra com riqueza de
detalhes como foi a trajetória de Lula, de Caetés até um pouco antes dele
pousar no Sírio-Libanês, fugindo do SUS. (O que sei de Lula – José Nêumanne
Pinto), do qual retiro e medito sobre o seguinte trecho:
“É possível dizer que
Luiz Inácio da Silva nasceu no certo, na hora certa, na família certa.
....
O mundo que acolheu
Luiz Inácio em 27 de outubro de 1945 era completamente diferente daquele em que
os seres humanos eram definidos como senhores e escravos, proprietários e
servos, nobres e plebeus, ricos, remediados e pobres. O capitalismo
predominante, pelo menos no Ocidente, permitiu, como nunca antes em qualquer
regime econômico, a mobilidade social.”
Depois eu farei outros textos sobre este livro esclarecedor
cujo protagonista é o nosso Lula, que
hoje, sem colírio usa óculos escuros como ilustra a foto deste texto. Ele
deveria ser muito grato ao capitalismo, e o foi, embora sempre dizendo que era
socialista e dando tapinha nas costas do Fidel. Igualzinho ao meu conterrâneo
Marlos.
Mas, eu estou em exame, gente. Volto, e ouço a moça, com um
papel na mão dizer: Maria Lúcia..., e eu não dou nem tempo de terminar, corro
para ela, que muito solícita, neste caso, diz, muito gentilmente:
- Sente, coloque o braço aqui e feche a mão!
Eu obedeço com o rosto voltado para o outro lado, pois já
fui furada muitas vezes, mas, ainda hoje reluto em sê-lo, vendo a furada. A
moça é boa de seringa e quase nem sinto a picada. Só vejo o sangue jorrar
dentro de um vidro, e apenas me pergunto:
-Será que o sangue do Lula é azul?
P.S.: Não resisti e coloquei a mesma foto que saiu na AGD, e em outros blogs, do Lula e a Dilma de óculos escuros, mesmo porque ontem passei algumas horas com um igual assistindo a um filme 3D, mas, isto é assunto que conto depois.
P.S.: Não resisti e coloquei a mesma foto que saiu na AGD, e em outros blogs, do Lula e a Dilma de óculos escuros, mesmo porque ontem passei algumas horas com um igual assistindo a um filme 3D, mas, isto é assunto que conto depois.
Que beleza!
ResponderExcluirHá tempos não leio algo assim. Hilário e provocativo! Parabéns!