quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Navegar é preciso...




Quem diria que eu um dia me inspiraria no Mural do SBC para escrever aqui?! Hoje fui lá e encontrei um texto da Ana Luna cujo título é  “NAVEGAR É PRECISO” (Dei o mesmo título a este escrito, mas, em caixa baixa). Fora o estilo curto dela, há nele uma pesquisa sobre a influência da língua portuguesa pelo mundo afora, e que, num mundo onde a internet e o Google não existisse, seria de grande valia.

Quando eu estudava em Bom Conselho, e dependia da Biblioteca do Ginásio São Geraldo, onde havia apenas, de interessante, os 12 Trabalhos de Hércules do Monteiro Lobato, e queria saber da origem da palavra “tempurá”, só havia um caminho: dirigir-me á sala da Diretoria e procurar o Dr. Cirilo, que era nosso dicionário ambulante. Hoje, vou ao Google e teclo “tempurá” e lá está:

“A receita do tempurá foi introduzida no Japão por missionários portuguesesativos particularmente na cidade de Nagasaki fundada igualmente por portugueses, durante o século XVI. A origem mais aceita hoje da palavra tempurá baseia-se no fato que os Jesuítas não comiam carne vermelha durante a Quaresma, em latim "ad tempora quadragesimae", preferindo o consumo de vegetais e frutos do mar. Outras hipóteses da origem incluem a palavra tempero e o verbo temperar.
Hoje em dia ainda existe um prato em Portugal muito semelhante à tempurá, denominado peixinhos da horta, que consiste de pedaços de feijão-verde fritos envoltos num polme geralmente mais espesso que o da tempurá. Existem ainda algumas variações sobre este prato, usando tipos diferentes de legumes, tais como a abóbora.”

Pois é amigos, certos textos informativos atualmente, se tornam ociosos pelos avanços tecnológicos. Não chegam a ser cultura inútil, com a mesma força que tem a inutilidade de certas informações políticas que hoje vemos, mas, estão muito próximas.

Mas, como disse o grande escritor Fernando Pessoa, o mesmo que tornou famosa a frase do título do texto da Ana Luna, e do meu, “tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”. E aúltima frase do texto de Ana: “ORGULHA-TE, POIS, DO IDIOMA QUE FALAS!”, leva a uma meditação de outra ordem.

Em minhas leituras, para compensar minha pouca educação formal, e olhem que li muito mais do que nosso ex-apedeuta-mor e não desprezo a educação formal, eu descobri algo chamado de imperialismo. Quem viveu neste país a partir da década de 50 do  século passado, até seu fim, ouviu muito falar sobre isto. Era a época em que os americanos eram considerados mais inimigos do que hoje e para tentar acabar com seu imperialismo, escreviam nos muros e paredes: “Americanos, Go home!” Nem percebíamos que ao mesmo tempo que criticávamos seu imperialismo político e econômico, incentivávamos seu imperialismo linguístico, igual os nossos patrícios portugueses o fizeram na época do descobrimento, quando “navegar era preciso”.

Vejam em que deu! Ao invés de aproveitar o que os americanos nos traziam e a partir daí criar e superá-los, partimos para o que o Zezinho um dia comentou sobre a idiotia do latino-americano, que ainda hoje cismamos em ter quando damos crédito a uma tal de revolução bolivariana criada pelo louco Hugo Chaves. Nossa língua portuguesa vem a cada dia capengando, não pela influência do inglês que hoje somos obrigados a engolir com a tecnologia moderna, e sim pela falta de pessoas que dêem a ela a devida importância desde a mais tenra idade escolar.

Num país onde se manda ensinar errado a língua pátria de maneira oficial, dizendo que podemos usar “nós pega o peixe” em certas situações, porque nosso ex-presidente usava “menas coisas” e todo mundo aplaudia, é o verdadeiro crime que contra ela se comete.

Eu, nunca fui contra, nem nunca adverti ninguém por falar errado. Quando eu era criança até me habituei com a fala rústica, mas inteligente dos meus pais, e nem mesmo pude ver o que eles escreveriam pois isto eles não sabiam fazer. Mas, sem nunca constrangê-los publicamente procurei sempre fazer com que todos se expressassem melhor em nossa língua. E com os meus filhos também fiz o que pude, sem poder evitar que eles hoje ainda se expressem, “tipo assim, é isso aí mãe!”

Mesmo assim é inevitável que soframos as influências trazidas com a tecnologia e que devemos assimilar para a nossa língua. Quem sabe algum dia, quando a camarilha do “nós pega o peixe” deixar o poder, e tivermos educação de qualidade neste país, não seremos nós que navegaremos pelo mundo?! E se navegar é preciso, viver também é preciso, e sem a letargia que hoje nos envolve de não querer tirar a cabeça da terra em que a enfiamos, quando queremos escrever textos politicamente neutros que agradem gregos, troianos, portugueses e brasileiros, para sentir o som do falso aplauso. Para isto, realmente, “viver não é preciso”.

2 comentários:

  1. PRIMEIRAMENTE, GOSTARIA AQUI, DE PÚBLICO, PARABENIZAR A INTELECTUAL LUCINHA PEIXOTO POR NOS BRINDAR COM ESSE TEXTO POÉTICO, PROFÉTICO E BASTANTE ENXUTO, E BOTA ENXUTO NISSO!!! ADIANTO AINDA QUE, MESMO EU NÃO TENDO NASCIDO HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS, PORÉM, JÁ FAZ UMA PORRADA DE JANEIRO QUE EU ESTUDEI HISTÓRIA E LITERATURA QUANDO NAQUELA OPORTUNIDADE O MEU PROFESSOR QUE ERA GRADUADO NAS “DITA CUJA” E ALERTAVA-ME: “a frase afamada por Fernando Pessoa foi originalmente proferida pelo General Romano POMPEU”. A TÍTULO DE MELHOR ILUSTRAR MEU COMENTÁRIO, É BOM DEIXAR BEM CLARO QUE NAQUELA ÉPOCA, ROMA SE TRANSFORMARA EM UM IMPÉRIO DE DIMENSÕES GIGANTESCAS E EXISTIA A NECESSIDADE DE DESBRAVAR OS MARES DESSE MUNDÃO QUE AINDA NÃO ERA DO PT. FOI NESSE CONTEXTO QUE O GENERAL POMPEU, TENHA SIDO INCUMBIDO DA MISSÃO DE TRANSPORTAR O TRIGO DAS PROVÍNCIAS PARA A CIDADE DE ROMA QUE ESTAVA EM GUERRA. NAQUELES TEMPOS, OS RISCOS DE NAVEGAÇÃO ERAM GRANDES, EM VIRTUDE DAS LIMITAÇÕES TECNOLÓGICAS E DOS VÁRIOS ATAQUES PIRATAS QUE ACONTECIAM COM RELATIVA FREQUÊNCIA. FOI ENTÃO, QUE DE ACORDO COM O HISTORIADOR PLUTARCO, O GENERAL POMPEU PROFERIU ESSA LENDÁRIA FRASE: “Navegar é preciso; viver não é preciso". DAÍ, A VIAGEM FOI REALIZADA COM SUCESSO E O MILITAR ASCENDEU AO POSTO DE CÔNSUL E FOI MAIS PAPARICADO DO QUE O SEBOSO DE CAETÉS, AQUI, DE NOSSA PROVÍNCIA POR ESSE POVO TUPINIQUIM. POIS BEM, COM ISSO ESSE SIMPLES ESCRIBA QUE ORA VOS FALA NÃO QUER DIZER QUE O HOMEM DAS LETRAS E DA POESIA, FERNANDO PESSOA, TENHA USURPADO A TÃO LENDÁRIA FRASE. PORTANTO, NÃO ESTOU ACUSANDO-O DE PLÁGIO, MAU HÁLITO, LAVAGEM DE DINHEIRO, FALTA DE INSPIRAÇÃO NEM QUE TENHA PARTICIPADO DO MENSALÃO JUNTO COM DELÚBIO E ZÉ DIRCEU. EM ABSOLUTO!!! ATRAVÉS DE SUA RICA E VASTA BIOGRAFIA O POETA PORTUGUÊS MERECE O MÁXIMO DE RESPEITO E CONSIDERAÇÃO. PORÉM, CONTUDO, TODAVIA, HÁ DE SE DIZER QUE FERNANDO PESSOA, GENTILMENTE, APENAS ADENTROU EM CONTEÚDO ALHEIO...

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  2. Caro Guerrilheiro,

    Estava eu terminando um texto de minha permanente entrevista com a Vilma quando reli seu comentário. Fiquei muito alegre com a lição sobre a origem do dito também pelo Fernando Pessoa. E desde já agradeço o comentário, que tem mais importância do que o meu texto. Quando perguntam, porque eu não vou em seu blog eu respondo, porque hoje é sábado, lembrando do Vinicius.

    O que falo de dubiedade sobre o “Navegar é preciso, viver não é preciso”, é que uma colega minha dizia que ele não quer dizer o que todo mundo pensa que diz. “Preciso”, dizia ela, não tem aqui o significado de “necessidade” e sim de “precisão” de acertar o alvo na mosca, se é que me entende. O que, agora o Pompeu queria dizer era que a navegação era algo mais exato (preciso) do que viver, pois realmente, viver não é uma coisa exata, principalmente, na região em que vivemos com os jagunços do Timotinho nos rondando.

    Eu apenas digo que talvez tenha sido por isso que o Fernando Pessoa tenha tomado a frase emprestado (agora sei), pois poesia é que não é preciso, embora o mundo precisa de poesia.

    Obrigada pelo comentário

    Lucinha Peixoto (Deste blog)

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