sábado, 20 de agosto de 2011

Novela também é Ciência (Final)



  
Em 2006, as mudanças sociais e concorrência entre as diversas emissoras levam a uma nova mudança no que o brasileiro assiste no horário nobre. A trama Vidas opostas leva a favela à telinha e os dramas da segurança pública e poder paralelo das quadrilhas nos morros cariocas. A questão da violência, posta em segundo plano na dramaturgia da tevê, mas amplamente difundida nos filmes, como o premiado Cidade de Deus (2002), são a nova tendência televisiva. Isso se repete em outras novelas e séries, como Cidade dos homens (2005) e Duas caras (2008), mostrando um Brasil bem próximo, mas que permanecia não representado na tevê”. A partir de conflitos de gênero, geração, classe e região, a novela fez crônicas do cotidiano, que a levaram a se transformar em palco privilegiado para a problematização de interpretações do Brasil”, completa a pesquisadora paulista.”

Eu lembro de Duas Caras, e só pelo nome me lembro do atual dilema da presidenta, quando é forçada a decidir entre governabilidade e honestidade no trato da coisa pública. Este dilema não existe num país sério, nem para pessoas sérias. Sem honestidade não há governabilidade nenhuma, a não ser para os áulicos. Escolha a “cara”, presidenta, e espero, que escolha certo. Vamos lá:

A doutoranda em sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Daniela Stocco conta que as primeiras novelas de grande sucesso no país surgiram na virada dos anos 1960 para os anos 1970. “As primeiras a ter índices de audiência mais destacados e a gerar mais lucro foram Beto Rockfeller (1968), exibida na extinta Rede Tupi, e Irmãos Coragem (1970), na Rede Globo”, explica a especialista. “Mas é entre as décadas de 1970 e 1980 que se dá o ápice da audiência das novelas, quando se pode dizer que elas se firmam como gênero popular no Brasil”, completa.

Se, em seu auge, a audiência chegou próxima dos 100% dos televisores ligados, na década seguinte as telenovelas começaram a apresenta sua primeira crise. “A partir da década de 1990, esses índices (de audiência) vão caindo, o que se acentua na década de 2000. Mesmo assim, a novela Paraíso tropical, que não apresentou os mesmos índices de novelas anteriores, tinha ao menos 40 milhões de telespectadores por dia”, conta a pesquisadora, que, em seu mestrado, analisou a novela exibida no horário nobre em 2007.

Apesar de a audiência não ser a mesma de anos atrás, a ciência decidiu ocupar-se das telenovelas exatamente por seu importante papel na formação da sociedade atual. “Elas muitas vezes são vistas apenas como uma produção cultural menor, por fazer parte da cultura de massa e da indústria cultural”, conta Daniela.”

Não há como esquecer este período e lamentar que a novela ainda seja tão maltratada pelos “intelectuais”. Só falam em governo do povo, mas quando o povo gosta de algo, este algo é sempre taxado de baixo nível. Oh, meu Deus quanta hipocrisia.

Continuemos lendo o interessante texto do Max Miliano:

As novelas, a partir de 1969, passam a registrar os dramas da urbanização, das diferenças sociais, da fragmentação da família, da liberalização das relações conjugais e dos padrões de consumo. Atingem seu ápice quando abordam as consequências não planejadas da modernização. As novelas se tornam assunto por sua capacidade inusitada de incorporar, a uma forma industrial, elementos da cultura popular - como a literatura de cordel - e comentários críticos sobre os rumos da política. Novelas são organizadas em torno do movimento de relações amorosas frágeis e cada vez mais volúveis. Em obras como Irmãos Coragem (1970) ou Selva de pedra (1972), sexo antes do casamento resultava em gravidez e matrimônio obrigatório. Ao longo dos anos, o divórcio foi legitimado, antes mesmo de ser legalizado; o prazer e a independência femininos também. Em geral, houve uma expansão despolitizada do universo feminino e a valorização de uma ideia de “mulher forte”, que, deve trabalhar e pode almejar satisfação amorosa.”

É nesta fase onde a mulher começa a despontar como diferente de uma coisa que só servia para dizer “Xô Galinha”, “Sai prá fora menino” e “O jantar tá na mesa”. Eu nunca reclamei desta minha fase, mas depois descobri que não se pode parar no tempo. E dizer que as novelas não me influenciaram nisto, seria mentira pior do que a inventada pelo Timotinho de Bom Conselho de que eu não existia. Havia até os homens que tentavam impedir as mulheres de ver novelas, pois diziam que eram uma aula de “botar chifre” em homem. Quem já teve esta mentalidade, merecia também o enfeite na testa, Deus me perdoe. Voltemos a história da saga novelística:

Na década de 1990, a Rede Manchete se afirma com séries e novelas que aludiam ao universo rural, em chave ecológica ilustrada pela exibição de corpos nus e com o bordão “O Brasil que o próprio Brasil desconhece”. A emissora se torna competitiva, apresentando títulos como Dona Beja (1986), de Wilson Aguiar Filho, novela de época, bucólica e regada a nudez, e A história de Ana Raio e Zé Trovão (1990), de Marcos Caruso e Rita Buzzar, que explorava o universo country. Pantanal (1990), de Benedito Ruy Barbosa, se destaca ao propor explicitamente uma nova versão de identidade nacional: a fauna, a flora e a família no lugar do consumismo moderno e liberado das novelas da época. Pantanal foi gravada longe do eixo Rio-São Paulo, com planos longos e gerais de paisagens bucólicas cortadas por rios de águas límpidas e enfeitadas pela nudez feminina. Ela oferece alternativa ao ceticismo com que as outras novelas abordavam a modernização.”

Foi a fase que eu chamaria de Globo Rural das novelas mesmo que não foi a Globo que começou o movimento. Só dava bicho correndo pelo campo e rios calmos e serenos em contraponto com as tramas de crimes e traições.

Modernamente, com a sofisticação dos meios televisivos e a interpenetração entre TV e Cinema, as novelas ainda continuam influenciando nosso povo e sendo influenciadas por ele. Apesar de ser uma indústria com todas suas mazela de comércio e “toma lá dá cá” a televisão aberta e as novelas ainda são a principal diversão do povo brasileiro e, pasmem senhores, isto se espalha pelo mundo.

Eu não sei se estaria exagerando em comparar o cinema mudo que projetou os americanos no mundo, com a telenovela que pode nos projetar ainda mais. Eu já viajei um pouco, e onde cheguei sempre encontrei alguma novela brasileira. No dia em que ela se firmar na China, ninguém segura mais Jesuíno Araújo, que, como eu, está no cangaço para lutar pelo justo e pelo certo.
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P.S.: Depois do texto é que vi o final de Insensato Coração. Depois eu escrevo sobre ele. Mas, já desejo agradecer aos autores da novela por terem sido influenciados pela minha enquete, colocando a Natalie Lamour já como deputada. Ainda tem um tempinho prá votar e vou aproveitar para mudar meu voto. Em vez de Horácio Cortez, vou de Globo, voto com a Natalie.


LP

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