Estou devendo e agora começo a pagar minha postagem sobre o final de Insensato Coração, que nos prendeu por mais de meio ano, e também prendeu àqueles que curtem a arte popular da novela.
Deu o que tinha de dar: os maus são condenados e os bons acabam felizes até o próximo papel. Isto é novela gente! Não fiquem esperando que seus autores criem personagens com uma densa pscologia “a la Jorge Amado” ou “a la Machado de Assis”, pois TV vive de audiência, menos a TV Brasil é claro.
Eu fiz um enquete, minha primeira, e o número de pessoas votantes me surpreendeu. Foram 46 pessoas que foram votando e mudando de opinião ao longo do desenrolar do último capítulo. Eu fiz isso, com o meu voto. Comecei com o Léo, por ser o mais sujo da novela, até mesmo doente, migrei para o Cortez e terminei na Natalie Lamour.
Perdi a eleição, pelo resultado da enquete, onde ganhou o Horácio Cortez com 12 votos (26%), contra 11 votos (23%) do Léo e da Natalie. Quer dizer, chegaram bem juntinho e pelo desenrolar das coisas políticas no Brasil, eu continuarei votando em Natalie Lamour em 2014. Assim como o Tiririca, ela pelo menos tem vontade de estudar, o que o eterno apedeuta nunca teve.
No final da novela, todos viram, surgiu um partido político que cooptou a Natalie Lamour, o Partido da Moralidade Pública (PMP). Óbvio que, qualquer semelhança com partidos atuais, é mera coincidência. Talvez não seja coincidência, assim em termos de semelhança, é com o PT antes do poder. Hoje o partido só ficou com as Natalies que merecem.
O Zezinho de Caetés, que vive me azucrinando para escrever também em meu blog, e eu não deixo, pois ele é muito "liberal" prá meu gosto, me mandou um texto dizendo que não precisaria nem intróito para comentar o final da novela. Mesmo assim ele diz que não vê novelas. É um texto de um noveleiro chamado Flecha Ribeiro, que segundo o Zezinho foi publicado no Blog do Noblat, cujo título foi: “Viva Natalie Lamour!”. Eu achei ótimo e deixo vocês com ele, e vou tratar de outras coisas menos sérias.
“A caricatura não é nem tem a pretensão de ser uma representação da realidade que se vê.
Exagerar os traços de uma figura ou de um caráter, de um aspecto de personalidade, ou mesmo de um episódio, sempre foi recurso para aprendermos mais sobre nós mesmos e sobre o que nos cerca.
A galeria que a humanidade criou para isso é enorme: vai de Édipo a Fausto, de Pantagruel a Don Juan. Artistas como Chico Caruso vêm de longe.
De outro lado, sempre houve quem manipulasse uma caricatura de si mesmo para criar um tipo, e se fazer notar. Quando é bem sucedido vira ícone: como Madona, por exemplo. E outros, bem à nossa volta...
Mas a caricatura é sempre o mesmo estupendo instrumento, didático, que nos ajuda a compreender melhor o que se passa em torno de nós. Mais eloquente até que a própria realidade.
O novelista Gilberto Braga sempre foi um agudo observador de usos e costumes.
Nessa sua última obra, “Insensato Coração”, Gilberto coroou a carreira da esfuziante figura de Natalie Lamour com uma situação caricata: convidada por uma figura robusta, de ar respeitável e cabelos brancos, que se apresenta como membro de um partido político, Natalie aceita ser candidata e se elege deputada federal! Sua campanha, sua “plataforma”, sua performance são inesquecíveis!
Está bem: já aconteceu com o Tiririca. Mas esse episódio é longínquo, aconteceu no mundo lá longe, o verdadeiro.
Natalie é real. Foi personagem do nosso cotidiano. Toda noite ela estava na nossa casa: em solteira tentando cavar a vida, depois casada com o Cortês, e se virando com a grana em que botou a mão depois da prisão dele.
Conhecemos a trabalhadora senhora sua mãe, e o trapalhão do irmão dela. Era, por assim dizer, íntima.
A cena dramática do insólito convite é a perfeita caricatura do nosso sistema político. É muito, muito mais eloquente do que a eleição do Tiririca. Esta apenas aconteceu.
A caricata Natalie de Gilberto Braga não aconteceu, mas é de assustadora realidade.
De imediato, confirma a avalanche de descrédito e desconfiança sobre o que seria - sobre o que deveria ser - a representação da vontade popular.
Se faltava cair essa ficha, a eleição de Natalie Lamour resolve as dúvidas que ainda poderiam estar pairando: os interesses que os deputados representam nem remotamente têm a ver com os nossos.
E mais: se depender dessa gente nunca haverá reforma política que conserte essa situação. Jamais se viu quem serrasse o galho em que está sentado.
As e os “Natalie” jamais farão isso.”
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