sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Adivinhe quem vem para jantar?




O título deste escrito pode soar estranho para um jovem que frequenta hoje apenas as salas geladas dos cinemas modernos, que produzem um barulho infernal e nos mostram mais efeitos especiais do que  um bom roteiro. Mas, não deve ser estranho para o Roberto Almeida, meu cinéfilo preferido e meu adversário em política idem.

O título pertence a um filme que ganhou um Oscar em 1968 (melhor roteiro), e que eu assisti no velho e bom Cine Coliseu. Como meus neurônios já estão cansados, mais pelo trabalho do que pela idade (quando digo isto meu marido diz: me engana que eu gosto!), eu sabia que era bom, lembrava do tema principal, que era o racismo mas não me lembrava dos seus detalhes. Nestes casos, em nossa época digital, não há problema, recorremos à nossa memória auxiliar que é a internet.

Na grande memória, digo, rede, encontrei que o filme que conta a história de Joey Drayton (Katharine Houghton), uma jovem branca estadunidense que acabou de começar um romance com o renomado Dr. Prentice (Sidney Poitier ), um médico afro-americano que ela conheceu enquanto estava de férias no Havaí. Os dois planejam se casar e ela irá retornar com ele para sua casa na Suíça. O enredo do filme é centrado no retorno de Joey para a casa de sua família liberal de classe alta em San Francisco com seu noivo e a reação de seus pais e amigos ao saberem da notícia. Obama evitou o problema, e espero que tenha sido por amor.

De acordo com o diretor Stanley Kramer, ele e William Rose (o roteirista) intencionalmente quebraram vários estereótipos étnicos: o personagem do jovem médico foi criado com ideais tão puros e perfeitos para que a única objeção possível para que ele se casasse com Joey fosse sua raça, ou o fato de que se conheceram a apenas nove dias antes dos acontecimentos do filme. Stanley Kramer disse mais tarde que, os atores principais do filme acreditavam tanto na premissa que concordaram em atuar no projeto antes mesmo de lerem o roteiro. Spencer Tracy (o pai de Joey) estava terrivelmente doente e as companhias de seguro se recusaram a cobri-lo; Kramer e Katharine Hepburn juntaram parte de seus salários para que se ele morresse outro ator pudesse ser contratado. As filmagens foram alteradas para acomodar Tracy, que apareceu ao lado da Hepburn pela última vez.

Eu apenas me lembro dos meandros emocionais gerados pelo casamento inter-racial lá nos Estados Unidos, embora, com minha cor, embora não tão escura quanto a do Sidney Poitier, tive alguns problemas, embora o racismo nunca tenham me atingido de forma a poder afirmar que aqui ele exista como lá. Nem tanto ao mar nem tanto à terra.

Porém, alguém pode estar se perguntando ou mesmo afirmando, a Lucinha ficou sem assunto e agora quer imitar o Roberto Almeida em sua boa série sobre filmes. Não, não, meu caro perguntador ou afirmador. Este país está numa fase em que se pode faltar tudo, menos assuntos bons de escrever, pelo menos para quem faz oposição ao PT.

Podem até me acusar de estar associando mal ideias porque o que me levou a pensar no filme acima foi um jantar oferecido anteontem pela presidenta Dilma no Palácio da Alvorada, e: Adivinhem que veio para jantar? Foi alguém que já disse que nasceu com um pé na cozinha porque tinha ancestrais negros e que eu ainda admiro. O Fernando Henrique Cardoso.

Como vimos na mídia em fevereiro, num compromisso social, FHC solicitara à pupila do rival que concedesse audiência a um grupo de anciãos que integra, o “The Elders”, que é um grupo de velhos (eu ia dizer idosos, mas o politicamente correto deve ter seus limites) que vive tentando influenciar o mundo para o bem (embora nem todos, mesmo entre eles, concordem com o bem de cada um). Num gesto estudado com esmero, a presidenta cuidou de aproximar dois eventos,  o encontro dos velhinhos e inauguração de uma obra que o Lula iniciou, a ponte sobre o Rio Negro, e que o próprio apedeuta, antes de partir, mencionou a ela a vontade de estarem os dois juntos no evento, matando dois coelhos com uma cajadada só, acomodando-os na agenda em dias justapostos.

Na segunda, proporcionou a Lula uma inauguração-comício. Permitiu-se posar ao lado dele ostentando um cocar indígena. Nesta terça, franqueou a mesa do Alvorada para FHC e seu grupo de ex-líderes humanitários –do americano Jimmy Carter ao finlandês Martti Ahtisaari.

O que ocorre então? O petismo reage com assombro à aproximação de Dilma com um FHC que, na campanha, a chamara de “boneca de ventríloquo”. O tucanato espanta-se com a “rendição” de FHC à criatura de um antagonista que julga ter descoberto o Brasil em 2003. Alheia aos assombros e espantos, a presidenta empurra para dentro de sua biografia uma matéria prima escassa nos dias atuais: o espírito republicano. À sua maneira, a presidenta durona amacia sua Presidência. Retira de cena o excesso de ódio. Relaciona-se gostosamente com os dois ex-presidentes. Ao dar continuidade a um sem renegar os avanços do outro, Dilma leva ‘Imagine’ à vitrola. Quem poderia imaginar? (trecho ligeiramente adaptado de um do Blog do Josias de Souza).

Eu, que não sou besta nem nada, sei que isto é um jogo da presidenta para se livrar do apedeuta. Para fazer isto ela usa até cocar. Pois sabe o trabalho que vai ter daqui prá frente quando forem descobrindo um por um o que foi feito nos últimos 9 anos em Brasília. Eu não sei como ela vai explicar quando a imprensa voltar com força para a Erenice Guerra. Aí, eu pergunto, neste caso: Adivinhem quem vem para jantar? O Temer? Cruzes!!!
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P.S.: Como brinde para compensar meus leitores, porque neste fim de semana curtirei a serra de Gravatá, deixo-lhes com a música que é sugerida a Dilma colocar na vitrola. Linda!

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