domingo, 9 de outubro de 2011

Lições contra a "Normose"




Para os meus padrões de prolixidade literária, o texto do Gildo, sobre “Normose” é muito curtinho e eu vou citá-lo todo aqui, correndo o risco de, se o autor tiver, como eu, uma carga muito grande de comportamento “normótico”, ser processada por plágio. Embora eu tenha certeza de que corro um risco maior de ser processada por um ex-estudante de Direito da Bahia. Eis o texto do Gildo, que tem o título de “Normose”, publicado no SBC:

“Até que ponto seguimos na vida com um rumo certo?
Até onde vamos para atingir os nossos objetivos?
Quais limites estabelecemos para sobreviver às crises?
Como agir nas crises?
Como fazer para manter nossos relacionamentos afetivos abastecidos? E a motivação nos nossos trabalhos?

São tantas perguntas e tão poucas respostas.

A verdade é que estamos imersos em um mar de questionamentos e diversas formas de ver uma mesma coisa. Somos cobrados quanto à nossa postura diante das mais insignificantes situações. Parece que aos pouco as pessoas vão perdendo a sua espontaneidade e inserindo-se em um padrão sincopado de ser. Como se todos tivessem de seguir um modelo, mesmo não sabendo que modelo é este. Nota-se que cada vez mais a humanidade está sucumbida em uma visão etnocêntrica. O ser humano é impelido a fazer parte de um elenco de idéias, representações, valores, que constituem a “visão de Mundo”.

O ser humano não porta, ao nascer, inscrições genéticas para o seu comportamento. Aprendemos e incorporamos formas de pensar, de sentir, de viver, que nos são transmitidos socialmente através da educação, da família, da cultura, da linguagem. Assim introjetamos padrões de comportamentos que vão dar origem ao “senso comum”, que significa uma forma inconsciente e coletivizada de ver e viver a vida.

Jean Yves Leloup em 1998, criou o termo “normose” para se referir ao conjunto de normas, valores, estereótipos, hábitos de pensar e agir, que são aprovados por consenso pela maioria, em determinada sociedade, e que podem levar a sofrimento,doenças e até mesmo a morte. Como exemplo ele cita o hábito “social” de beber, fumar, consumir, o individualismo, a indiferença perante a violência na televisão, a destruição ecológica, as desigualdades sociais, a convivência com a miséria do outro, o comportamento bélico, hábitos nocivos de alimentar, etc. A “normose” é aquele hábito tido como normal com o qual convivemos de forma inconsciente, e que pode ser até letal, daí o seu perigo.

Pensemos nisso e procuremos sair da “normose”.”

Eu disse ontem, no Mural do SBC, que não gostei deste texto, porque me considero uma “normótica” contumaz. Gosto de novelas da Globo, sou religiosa praticante, adora ler e leio quase o dia todos nas horas vagas, gosto de ser mãe e principalmente avó e até sou machista certas horas, quando sinto prazer em fazer uma comidinha para o meu velho. Estes todos comportamentos cabem como uma luva na definição do filósofo que o Gildo cita para “normose”.

Eu fui um pouco injusta ao não gostar do texto não pelo seu aspecto literário, pois o Gildo até que escreve bem, mas por este motivo torpe de sofrer com a doença. Mas, tenho minha consciência tranquila de que sigo, há muito tempo, o conselho do conterrâneo para que saiamos da “normose”.

Nos últimos anos tenho saído do meu machismo inculcado pela cultura machista de Bom Conselho e procurado tanto superá-lo, que a Ana me xinga até de “homem”, e ela sabe que, para quem está neste processo terapêutico de sair da “normose”, ser xingada de homem é uma coisa cruel, pois ele é o inimigo a combater. Então, eu hoje não bebo, não fumo, não sou individualista, (e já fiz tudo isto), odeio a violência na televisão (embora seja contra que se censure as porradas que a Celeste leva do marido em Fina Estampa), já fui do PV verdadeiro e não o que está enquistado no governo do Vice-Rei Eduardo, etc. etc. Tudo isto já foi superado em minha terapia “anti-normótica”.

Dentro desta terapia, os meus analistas virtuais (não tenho dinheiro nem tempo para ter um de carne e osso) uma das grandes coisas que fiz, e que serviu muito para quase uma completa cura, foi escrever em blogs e murais. Mas, isto não é uma panaceia universal de cura. É preciso saber o que escreve, com o objetivo terapêutico.

Para que a escrita nos meios eletrônicos surta efeitos, você tem que identificar quem são os “normóticos” que lhe rodeiam e combater este comportamento. Por exemplo, desde quando comecei a escrever no Mural do SBC, desde a época do O Andarilho, notei um comportamento altamente “normótico” dos participantes, que se revelava numa tendência ao elogio mútuo, independentemente, do que era escrito. A regra era: Eu te elogio, tu me elogias, ele nos elogia, nós nos elogiamos, vós vos elogiais, eles nos elogiam.

Quando eu contei isto aos meus analistas eles identificaram logo: “normose” da braba. Então eu comecei a mostrar um pouco a verdade, com por exemplo, dizer que nem sempre, quando O Andarilho chegava balançando a pança e comandando a massa, ele estava fazendo um bem prá Bom Conselho. Por exemplo, que o Mural não pertencia ao Saulo e sim à comunidade. Outro exemplo, mais recente, que a Ana, mesmo sendo uma mulher inteligente, mas canta mal e que o conjunto UvaPassa não representa nossa terra. Ainda outro exemplo, por mais que o Pedro Ramos possa tocar bem, o Encontro de Papacaceiros não pode girar em torno dele, nem o Zé Quirino poderia deixar de ouvir as opiniões dos outros, para sua realização, etc. etc.

Enfim, orientada pelos meus analistas, eu comecei a aprender a discordar quando achava as coisas erradas, ao contrário do que o nosso gênero fez, “normoticamente” , durante séculos. Por isso já fui censurada, xingada, vilipendiada e até sofri recentemente, uma tentativa de assassinato, da qual, graças a Deus, me safei, mas colegas meus não conseguiram até agora se levantar, como o Diretor Presidente, que vive a vagar pelas ruas de Bom Conselho e do Recife, e não sei até quando.

Nossa, já está na hora de cuidar do almoço e já escrevi muito por hoje. Quando tiver um tempo continuo, e falo do outro texto do Gildo, como o qual fiquei chateadérrima porque tentei, tentei e tentei e não conseguiu me enquadrar nas categorias que ele citou. Serão que eu não tenho categoria? Depois eu volto ao assunto, tenham um bom fim de semana.

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