Feriado do Dia da Mulher. Durma-se com uma coisa destas!

Vereadora Ivete Silva

Ontem fui aos blogs e vejam a postagem que encontrei, na Casa da Cidadania do vereador Carlos Alberto (aqui):

“SINAL VERDE PARA PROJETO QUE INSTITUI FERIADO NO DIA 08 DE MARÇO...

Hoje foi apresentado a PL -005/2012 "INSTITUI FERIADO MUNICIPAL NO DIA 08 DE MARÇO, DIA INTERNACIONAL DA MULHER EM TODO ÂMBITO DO MUNICIPIO DE BOM CONSELHO E DÁ OUTRAS PROVIDENCIAS".

Após apresentação da PL - 005/2012, no expediente que foi facultado a palavras, Carlos Alberto pleiteou que as nobres legisladoras, (Léa Ramos e Ivete da Silva), um veemente apelo, no sentido de abraçar o mérito da propositura, que Institui Feriado Municipal no dia 08 de Março.

Ivete da Silva que preside a Comissão de Justiça e Redação, parabenizou a iniciativa e em seguida fez questão de dar seu parecer a favor pela aprovação da PL - 005/2012.

Em seguida a edil Léa Ramos expressou sua alegria, e falou da grande importancia de conceder a Mulher bom-conselhense, a oportunidade das conterrànias (sic) festejar de verdade o seu dia, e destacou a propositura de grande relevância.

O Vereador Petrúcio Borges parabenizou os vereadores Carlos Alberto e Gilmar Aleixo, pela iniciativa em prol da Mulher bom-conselhense, Borges suscitou a importância da Mulher bom-conselhense, e seu importante e relevante papel no suporte familiar.

Em seguida por unanimidade os parlamentares bom-conselhense (sic), deram sinal verde para sua aprovação, já na próxima Sessão Ordinária a ser realizada no dia 28.03.”

Apesar de alguns duvidarem, eu sou mulher. E não sou “mulher-macho”. Sou apenas uma mulher, e como digo no perfil do meu blog, apenas uma dona de casa interessada em política. E este interesse, para os retrógrados, que pensam que lugar de mulher é na cozinha, eu só posso ser homem. E quando falam do meu gênero, eu fico sempre de orelha em pé, esperando o som das besteiras dos homens, e também de algumas mulheres.

É com este espírito que vejo determinadas atitudes de certos políticos, principalmente, em épocas que precedem o dia em que eles, se sufragados nas urnas, continuarão por mais quatro anos a viajarem por este país buscando “qualificação”. Depois de criar até o Dia do Padre para obter o apoio da Igreja Católica, depois de criar o Dia do Pastor para ser apoiado pelos evangélicos (eu estou exagerando um pouco porque não estou com tempo de pedir uma audiência ao nobre vereador Carlos Alberto para ele me dizer de viva voz quantos dias foram criados por ele), agora o vereador Carlos Alberto propõe, não criar o Dia da Mulher, pois este já foi criado, mas fazer dele um feriado municipal.

Eu não ficaria tão atônita ou atarantada se minhas colegas de gênero na Casa de Dantas Barreto (que se eu seguisse a demagogia reinante proporia que ela se chamasse a Casa de Dona Lourdes Cardoso, pois ela fez muito mais por Bom Conselho) tivessem respondido na lata ao nobre vereador: “menos, menos, caro colega!”. Esta seria a única reação correta por parte de nossas mulheres diante de tal absurdo legislativo.

Que a mulher seja homenageada, elogiada, acarinhada, tudo bem. Mas, chegar ao ponto de parar as atividades produtivas de toda uma cidade por isto, já é demais. E ainda mais, partindo de um homem candidato e em ano eleitoral. Eu penso até que foi por este clima eleitoral que minhas colegas de gênero e mesmo os futuros colegas homens não foram contra a tão absurda proposta. Basta o Dr. Petrúcio Borges fazer um cálculo simples, partindo de sua profissão paralela, de médico, e pode até sentar com o Dr. Filhinho para fazer os cálculos, quanto ele perde num feriado municipal. E o Luizinho da Malharia, que parece não estava presente (pois não aparece no texto) em ter que fechar seu estabelecimento (será que ele tem uma malharia mesmo?), quanto prejuízo haverá.

Gente, um feriado municipal é uma coisa séria. E a própria prefeitura quanto deixará de arrecadar (por via direta ou indireta) num feriado? E ainda por cima terá que gastar para fazer festividades para homenagear nós mulheres. E, nos próximos anos, qual a pressão sanguínea que será recomendada para as mulheres, pois a de “12 por 8” já perdeu a finalidade?

Sinceramente, eu espero que no próximo dia 28.03, os nossos edis repensem muito bem a proposta que o vereador diz teve a adesão unânime da casa, e que, se passar, esta proposta, que a Mamãe Juju a vete, honrando a saia que veste. Mesmo assim, se nada for feito para impedir tal absurdo, que as mulheres, no dia da eleição se manifestem dizendo em alto e bom som: “Obrigada pelas homenagens, mas vamos trabalhar”.

Levantei-me agora para abrir a porta para o meu neto que chegou da escola, todo fardadinho e bonitinho, embora um pouco sujo de terra. Se ele soubesse o que está se passando e do meu desejo em um dia ser vereadora, e o que estão fazendo com a nossa cidade, ele diria: “Vovó, você é doida, é?” E eu iria responder o quê, mesmo sendo mulher, se ficasse calada ou apoiasse uma bobagem destas?

Aí eu pego o jornal e uma manchete me socorre: Ipojuca, Vereadores têm 8 meses de férias. Aquilo me bateu fundo eu fui ler a matéria, pois foi a mesma Ipojuca, que no campeonato dos gastos com diárias, tirou o primeiro lugar, nos roubando a nona posição, como já vimos (aqui). E fazendo isto, eu transcrevo abaixo o texto da jornalista Aline Moura, que complementa sua matéria (cujo título é “O melhor emprego do mundo em Ipojuca”) já perguntando, para não voltar, quantos dias os vereadores se reúnem em Bom Conselho? E agora com um feriado a mais, o cargo de vereador será o melhor emprego de Bom Conselho também? Talvez, mas eu não me gabaria por isto ao responder ao meu neto.

“O cargo de vereador exige preparo para fiscalizar o poder público e muita sola de sapato em visita às bases. A maioria das casas legislativas da Região Metropolitana do Recife, no entanto, funciona em ritmo bem mais lento que a de qualquer outro trabalhador, que, em média, cumpre 40 horas semanais de expediente. Das 14 câmaras de vereadores, apenas duas realizam sessões plenárias durante quatro dias por semana (Recife e Jaboatão dos Guararapes), com período de recesso de um a dois meses.

Além de Ipojuca, a maioria dos vereadores da RMR só precisa comparecer a oito sessões ao mês, sendo duas por semana. No município de Araçoiaba e Itapissuma, por exemplo, os vereadores só são obrigados a realizar dez sessões em cada período legislativo, totalizando 40 dias ao ano com presenças em plenário. Nestes municípios, segundo relato de vereadores e funcionários, o Legislativo pode ficar até quatro meses (ou mais) sem sessões alguma. Não chega a oito, como Ipojuca, mas é um tempo de recesso bem longo.

As justificativas são inúmeras, mas é bom lembrar que, em plenário, se votam os projetos mais importantes para o município e o local ainda permite acesso público do eleitor, nas chamadas galerias. O acompanhamento do cidadão inclusive poderia ser mais eficaz, porém a falta de transparência ainda é grande, mesmo nas cidades urbanas. Há câmaras da Região Metropolitana, por exemplo, que, além de realizarem poucas sessões, nem sequer disponibilizam informações através de sites, como é o caso de Moreno, Olinda e Paulista. (Diário de Pernambuco – 15.03.2012).”