terça-feira, 5 de junho de 2012

O naufrágio do Titanic, a maior metáfora do mundo





Por Luis Fernando Veríssimo (*)

Faz cem anos que o Titanic foi ao fundo e o aniversário do naufrágio está tendo quase tanta cobertura quanto o próprio naufrágio. Há exposições sobre o navio e seu fim em várias cidades da Europa e discute-se outra vez desde as minúcias do desastre, como a desatenção do comando do navio aos vários alertas de icebergs na rota, até seu significado maior.

Um jornal satírico americano fez uma edição inteira lembrando o acidente e seus intérpretes, cuja manchete principal era “Maior metáfora do mundo bate em iceberg e afunda”. Que o trágico fim da maior coisa construída pelo homem até então era uma metáfora ninguém discutia. Mas qual, exatamente, a metáfora?

O naufrágio do Titanic marcava o fim tardio do século dezenove e sua confiança ilimitada no progresso tecnológico. Como um castigo a mais pela pretensão do século que findava, dali a dois anos toda a nova engenhosidade da era estaria engajada nas máquinas de morte da Grande Guerra e a tragédia precursora do Titanic simbolizaria um adeus à inocência.

Chamado de indestrutível, o Titanic desafiara os deuses, como os titãs do mito, e, como os titãs, fora destruído pelos deuses — metaforicamente.

Outra metáfora: nada simboliza a divisão de classes como a divisão das classes num navio como o Titanic, onde os viajantes do porão, inclusive as crianças, tiveram poucas chances de escapar com vida. O Titanic também era o mundo do privilégio ostensivo e da massa descartável metaforizado.

Cherburgo, na Normandia, tem uma razão especial para lembrar o Titanic. Seu porto foi uma das duas escalas feitas pelo navio depois de deixar Southampton. Estivemos há dias na simpática Cherburgo — que também foi um porto importantíssimo durante a Segunda Guerra Mundial e é a terra dos guarda-chuvas filmada por Jacques Demy, com música de Michel Legrand.

Fomos visitar sua exposição dedicada ao Titanic. Excelente.

No rádio do carro, não, não Michel Legrand, mas, juro, “Ai se eu te pego”. Simbolizando, pensando bem, nada.

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(*) Publicado no Blog do Noblat em 31.05.2012. Penso que o Titanic não é a maior metáfora do mundo depois do Lula e do Michel Teló. Ambos, representam metáforas maiores de estadistas e cantores, estando no mesmo nível em suas respectivas áreas. (LP).

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