segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

As senhoras do Astoria





Por Maria Helena RR de Sousa (*)

É incrível, não é Maria Helena, que as pessoas não sintam que a filosofia política em Niemeyer tem tanta importância ante seu legado arquitetônico quanto o paletó puído de Beethoven teve na 9ª Sinfonia. José do Carmo Rodrigues (Obra-Prima de ontem)

Escrevo artigos para o Blog do Noblat desde agosto de 2005, a convite de seu titular. E antes disso já era frequentadora assídua, a ler artigos, crônicas, cartas, matérias, poesia, enfim, tudo que aqui era publicado. E a comentar, o que era extremamente prazeroso. Pleno estouro do mensalão, assunto era o que não faltava. Ou discussões.

Havia radicais de um lado e do outro. Às vezes isso parecia arquibancada do Maracanã em dia de Flamengo x Vasco. Ninguém diria que eram todos cidadãos do mesmo país que, em seu pleno juízo, deveriam estar unidos contra os malfeitores. Palavra ainda a ser criada...

Parecíamos mais Alemanha e França disputando a Alsácia. Chegávamos ao ponto do ridículo.

Mas os motivos eram ao menos nobres, quer dizer, os Lulas juravam, como juram até hoje de pés juntos, que Luiz Inácio da Silva tirara o Brasil da fome e da miséria, por isso merecia ser adorado, fizesse o que fizesse. E como ele ainda por cima não fazia nada errado...

O radicalismo continua, mas sinto certo artificialismo na galera, até porque os da oposição perderam a garra, já que não têm nem programa nem nomes a quem defender.

Talvez seja por isso que, adrenalina acumulada e maus bofes em níveis estratosféricos, a homenagem a Oscar Niemeyer tenha sido tisnada por palavras e pensamentos absolutamente deploráveis! Li aqui coisas do arco da velha, tipo:

que ele foi um benemérito que construía de graça para países comunistas; que aqui só mamava do governo; que foi um traidor do Brasil pois amava Cuba mais do que ao nosso país; que as curvas de suas obras não tinham nada a ver com o corpo da mulher, mas com as cúpulas do Kremlin!

Lembrei-me de uma cena inesquecível presenciada por mim há mais de 50 anos. Aqui no Rio, fronteira Ipanema/Leblon, havia um bom cinema, o Astoria. Que naquela semana exibia o filme russo Quando voam as cegonhas.

Filme romântico, uma linda história que me fez chorar baldes. Parênteses para explicar que antigamente ao fim da sessão as luzes se acendiam, a grande maioria dos espectadores saía e a sessão seguinte levava um bom tempinho para ser iniciada.

Eu saia com minha amiga quando ouvimos uma senhora dizer para a outra: Mas que filme chato! E a outra: Pudera! Russo não entende nada de amor!

Voltei-me para a dupla e ia recomendar-lhes que entrassem na Casa Reis ao lado do cinema e comprassem Anna Karenina, mas ao olhar para o semblante das duas, vi logo que seria inútil. De amor só entediam os musicais americanos ou as novelas mexicanas, claro.

Zé do Carmo, tenho a impressão que aquelas senhoras do Astoria hoje diriam: E Beethoven lá entendia de música, surdo e mal ajambrado?

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(*) Publicado no Blog do Noblat em 07.12.2012. O que a Maria Helena quer dizer com este artigo é que “o hábito não faz o monge”. Quando a aplicado a Oscar Niemeyer obviamente ela quer se referia sua condição de comunista por tanto tempo. Não é bom falar do mortos ainda quentes, pois nossa tendência é louvar os seu feitos, como medo que eles venham pegar no nosso pé. Mas, a homenagem que ele teve em Brasília, por parte do governo, refletiu, em grande parte esta condição.

O arquiteto era um homem admirável até em suas contradições. Ao mesmo tempo que nos deixou uma obra fantástica na arquitetura, manteve sua crença no comunismo mesmo diante de toda evidência empírica, que nos diz que o sistema não é para humanos. Ele até admitia isto, mas gostaria que o homem se transformasse. Neste ponto não era marxista, pois gostaria que isto fosse feito no Brasil pulando sua etapa capitalista. Este é o erro fundamental dos partidos que adotam um postura esquerdizante como o PT (embora, hoje, o PT está no limbo, nem é direita, nem de esquerda, nem de centro, é apenas imoral). Coitado Niemeyer, morreu acreditando nisto. Também, só conversava com o Fidel e com o Dirceu.

Mas, o pior de tudo é que nem podemos dizer que ele não teve tempo de perceber as mudanças no mundo. Se eu viver 104 anos, talvez, eu mude minha maneira de ser e me torne comunista também, mas por enquanto, ainda prefiro o capitalismo. Vamos ver.... (LP).

Um comentário:

  1. O COMUNISMO SEMPRE FOI E SERÁ O ÓPIO DE BOA PARTE DOS INTELECTUAIS. BEM ENTENDIDO: NA TEORIA, POIS NA PRÁTICA... QUE O DIGA OU A PROVA MAIOR É DO CASAL PIOLHO & LÊNDEA FORMADO PELA EMÍLIA E O MARLOS DUARTE QUE SAQUEARAM O DOM MOURA ATÉ UMAS "ZORA"!!!

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