Por Luis Fernando Veríssimo (*)
Sabe qual foi a primeira coisa que eu pensei vendo aqueles
animais trocando socos e pontapés no estádio, chutando a cabeça de “inimigos”
caídos e só não se matando por falta de armas, salvo pedaços de pau? As lutas
de “ultimate fighting” na TV. Nada a ver, eu sei.
Uma coisa é um espasmo coletivo de irracionalidade, a outra
o enfrentamento de dois lutadores preparados, com força equivalente e regras
estabelecidas. O que aproxima as duas coisas é a estupidez.
A mesma estupidez que parece dominar essa assustadora arena
de insultos e ameaças que é a internet e que, cada vez mais, no Brasil, também
domina o debate político e jornalístico, em que termos como “idiota” são muitas
vezes os mais suaves que se ouve ou que se lê. O clima é de embrutecimento
generalizado. Chutes na cabeça, reais ou figurados, são legitimados pelo clima.
Falemos, pois, das amenidades restantes. Da Fernanda Lima no
sorteio das chaves para a Copa, por exemplo. Da sua simpatia, da sua
competência, do seu inglês perfeito, do seu decote.
Não sei se já nasceu o movimento “Fernanda Lima 2014”, com
vistas à próxima eleição presidencial, mas me parece uma iniciativa natural. Já
elegemos uma mulher para a Presidência da Republica, o próximo passo lógico
seria eleger um mulherão. Onde é que eu assino?
Formidável, também, foi o cara que se apresentou para
interpretar para surdos os discursos em homenagem ao Mandela e, literalmente,
não sabia o que estava dizendo. Inventou uma linguagem de sinais própria, uma
espécie de paródia da linguagem verdadeira, e teve seus minutos de glória
internacional ao lado dos oradores.
Dizem que ele só foi descoberto porque alguns surdos
protestaram, não tinham entendido nada dos discursos. Um chegou a dizer que não
podia afirmar com certeza, mas achava que o falso intérprete tinha, sem querer,
insultado a sua mãe.
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(*) Publicado no Blog do Noblat em 15.12.2013. Eu gosto dos
escritos do Veríssimos (ideologia política à parte) porque ele é simples e
direto, e na grande maioria das vezes nos faz rir de um modo inusitado. Vejam
em quantos pontos importantes ele toca num pequeno texto. Sucessão
presidencial, lançando a Fernanda Lima para 2014, e querendo logo assinar um
manifesto. Eu sou mais eu.
Embora neste período de desterro de minha própria casa eu já
não sei qual será mais meu futuro político. Mas, quando vejo algum candidato
novo, fico alegre. Até agora, não me dei bem com nenhum.
O que adorei foi que ele tocou no caso do intérprete da
linguagem de sinais que deturpou o que os oradores falavam, durante o enterro
do Nelson Mandela. Quem sabe ele não seria o ideal para ser intérprete da
presidenta, e faria, pelo menos, os surdos entenderem o que ela diz? (LP)
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