terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O pecado é publicar




Por Mary Zaidan (*)

Controlar a mídia ainda que tardia. Essa parece ser a missão que o ex-secretário de Comunicação de Lula, Franklin Martins, elegeu para si.

Pregador incansável da tese que viu derrotada por mais de uma vez durante o período em que esteve no governo, e que a presidente Dilma Rousseff preferiu esquecer na gaveta, Franklin ultrapassa todos os sinais quando o assunto é ter a mídia nas rédeas.

Nem Dilma ele poupa. Na quarta-feira, ao falar no seminário Perspectivas para o Brasil, no Rio, disse que os políticos nada fazem sobre esse tema porque “têm um medo monumental da imprensa”. E criticou a omissão da presidente por ela não ter empunhado a bandeira da regulamentação.

Não é pouco para quem pretende coordenar a campanha de reeleição de Dilma e que cada vez mais é chamado para palpitar nas crises que, por deficiências gerenciais e um tanto de esquizofrenia política, se abatem sobre o governo.

A influência de Franklin não pode ser desprezada. Ainda que vencido na tentativa do controle social da mídia, conseguiu aprovar os princípios da regulação em diferentes instâncias partidárias e no Congresso Nacional de Comunicação. Quando no governo, abriu as burras para a criação da TV Brasil, que, depois de cinco anos, continua gastando os tubos para alcançar audiência que varia entre zero e 0,6%, no pico.

Agora incita plateias de militantes e torcedores. No Rio, convocou a turma para “tocar fogo na internet” e “fazer barulho” em nome da regulamentação. E não teve qualquer pudor em ludibriar os ouvintes ao dizer algo que só ele viu, ou melhor, finge que viu: “as manifestações de junho mostraram uma insatisfação brutal com o oligopólio da mídia neste país". Difícil imaginar que se referia à meia dúzia de vândalos que colocou fogo em um carro de reportagem da TV Record.

A imprensa sempre incomodou e continuará a incomodar os poderosos. Existe para isso, diria o genial Millôr Fernandes. Por ela, governos alimentam amor e ódio, rendem loas e críticas ferozes. Tudo bem entendido dentro do tabuleiro democrático. Mas só totalitários querem e defendem de público controlá-la. Desejam, como dizia Stalin, transformá-la na “arma mais poderosa do partido”.

A favor do ex-ministro de Lula há de se dizer que, se ele erra na receita, acerta no diagnóstico. Políticos realmente temem a imprensa. Têm um medo danado de ver reveladas as malversações, falcatruas e roubalheiras que se tornaram tão usuais no cotidiano da política.

Mais de 100 anos depois, para os que insistem em controlar a mídia continua valendo a escrita de Machado de Assis em Quincas Borba: "O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado".

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(*) Publicado no Blog do Noblat em 01.12.2013. Eu nem iria programar este texto da Mary Zaidan para hoje, no meio do festival de Olavo de Carvalho. Mas, ele é tão pertinente, que o faço. Pelo menos meus leitores têm o que ler nesta terça-feira, onde deverei está cuidando do lar. As restrições a imprensa livre foi sempre um apanágio dos regimes socialistas. Vocês viram agora que o Maduro, por decreto, antecipou o Natal na Venezuela e a mídia que falar mal, vai cantar com o passarinho Cháves, lá no céu. Continuem lendo a série de Olavo de Carvalho que vocês verão.

Hoje, a raiva do Franklin Martins, que é um representante de tudo que é repressivo e contra sua “revolução” particular é que existe algum resquício de imprensa livre, que o PT ainda não conseguiu comprar e pode atrapalhar seus planos revolucionários. E esta, está realmente publicando os pecados deste governo, que pode levar este país à falência como o está fazendo com a Petrobrás, para evitar que a inflação se mostre com os índices reais, e não com os manipulados pelo controle de preços.


Mas, se vocês chegaram até aqui, é porque já leram a Mary e ele explica melhor do que eu o que é o grande pecado. (LP).

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