Quando vou aos Blogs nesta minha nova fase “curta e grossa” , ou seja, de aprender a escrever pouco e dizer muito, eu fico procurando assuntos leves e variados. O Blog do Poeta é um manancial de tais assuntos. Eu nem vou falar dos estupros de animais pois, se escrevesse tendo eles como inspiração seria uma pecadora cruel.
Hoje foi diferente, e por muito tempo fiquei numa postagem do Poeta mais de 1 minuto. Ele publicou um poema do Vinícius de Moraes. Sim aquele mesmo que disse “as feias que perdoem mas a beleza é fundamental”, e eu penso que ele só poderia estar bêbado ou então não me conhecia.
Eu já havia visto lido o Poema publicado pelo poeta, Hora Íntima. É tão mórbido que é bonito. Lembrei o Augusto dos Anjos, cujo realismo é chocante mas tem lá sua beleza. Como o natal ainda está distante, por que não aproveitar para citar o Augusto do Anjos, que não bebia, e então talvez dissesse: “as feias que me perdoem, mas eu me inspirei nelas”, para fazer o poema que citarei chamado “Versos de Amor”?
“Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.
Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!
Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não estar pegando!
E a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!
Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Mársias - o inventor da flauta -
Vou inventar também outro instrumento!
Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo!
Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d'alma!”
Dizem que não faltava experiência de amores ao Vinícius, e quando ele pergunta na Hora Íntima:
“Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?”
É porque, igual ao Augusto, ele estava já para lá da última calma, seu coração já estava desfibrado e mole, como um saco vazio dentro d’alma. Enfim, o Blog do Poeta, agora também é cultura.
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