terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A virgem dos lábios de mel




Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
 
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. 

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

 Lembram dessa prosa rocambolesca? É do nosso escritor José de Alencar, nobre cearense que nos encantava quando jovens e hoje encanta meu meus filhos que são obrigados a lê-lo para fazer vestibulares ou as provas do ENEM.

Eu até que gostava do romantismo e de sua linguagem, que lia sem saber nem que um dia “romantismo” ia batizar uma escola literária e perder o seu glamour. Porém, este trechinho acima que copiei e colei da internet do livro Iracema do José de Alencar foi apenas uma cabeça de ponte para falar dele, cumprindo mais uma etapa da promessa de comentar aqui o livro do Leandro Nardoch, que nos mostra a história do Brasil não politicamente correta. Já o fiz em relação a outros episódios, sendo o último sobre o Machado de Assis (aqui), que se considerava “um negro de alma branca” e era metido a censor, apesar de sua qualidade literária reconhecida.

Hoje,  quem sobe ao cadafalso, ou ao seu devido lugar, é o José de Alencar. Vocês sabiam que ele foi contra a abolição? Isto não seria nenhuma novidade, porque muita gente o foi, e ainda hoje o é, de forma enrustida. O que não aconteceu com o nosso Imperador D. Pedro II que era contra a esta prática cruel. O grande problema é que sempre se tenta esconder os pecadilhos ou pecadões de determinadas pessoas, como se a história os escondessem para sempre. Se vocês estão pensando que estou pensando no Lula com a história do mensalão, acertaram em cheio.

O que não é normal e parece um samba do crioulo doido, e a forma com o se era levado a pecar naqueles tempos, e por que não no nosso tempo também. Em cartas descobertas recentemente, escritas ao Imperador o José de Alencar se junta aos que eram contra a abolição da escravatura no Brasil, por argumentos, no mínimo, estranhos aos seres humanos de hoje. Enquanto os abolicionistas defendiam o argumento que deveria parar o tráfico de escravos porque os negros formavam uma raça inferior com os quais não desejavam se misturar, a não pelo leite das escravas onde mamavam, os argumentos dos defensores da escravidão se mostravam politicamente corretos como o foi o escritor cearense, e defendia sua permanência mostrando a influência positiva do negro em nossa cultura.

Ou seja, para a raça negra só havia duas opões representadas na frase que representa falta de alternativa: “Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”. Segundo o Leandro Nardoch, os argumentos do José de Alencar iam na linha de esquecer qualquer atitude em relação á escravidão, como ela era praticada:

“Ele não defende o sistema escravocata por achar que os negros tinham um cérebro pior ou eram menos dotados por Deus, mas porque vê neles um grande potencial de crescimento e auxílio no progresso do pais.” Da mesma forma como já se defendeu a vinda de estrangeiros como mão de obra na metade do século passado ou a imigração de nordestinos para São Paulo.

Em sua defesa José de Alencar cita negros ilustres como Henrique Dias, que foi um herói na expulsão dos holandeses aqui em Pernambuco. Talvez hoje citasse Pelé e Gilberto Gil, para justificar a escravidão, pois estes dois com certeza já teriam comprado suas cartas de alforria, pela exuberância de sua raça vigorosa. Segundo José de Alencar, o trabalho forçado seria “uma educação pelo cativeiro”, ou seja, um modo de tirar indivíduos da selva e dar-lhes a acesso à instrução, e diz, em umas das cartas: “O escravo deve ser, então, o homem selvagem que se instrui pelo trabalho. Eu o considero nesse período como o neófito da civilização.”

Então vejam, meu amigos e minhas amigas a que ponto chega a barafunda da história. Os escravocratas defendiam os negros por acharem que eles eram importantes para nossa civilização, enquanto os abolicionistas eram contra eles, porque os achavam um raça inferior. Era a verdadeira crise de valores gerada por se pensar que a verdade política pode ser vista de uma forma simples. Enquanto alguns pregavam que se deveria tomar distância da influência estrangeira, o Partido Conservador e o José de Alencar usavam o argumento para defender a escravidão como se ela fosse uma instituição nacional. “A escravidão, para eles, fazia parte da tradição brasileira – era importante para a identidade nacional. Por essa razão, o país não deveria ceder às pressões abolicionistas da França e da Inglaterra, as duas grandes potências da época.”

Como diz um homem de TV aqui em Pernambuco: “Durma-se com uma bronca dessas!” E eu pensei logo no Lula. Ele disse que o mensalão era apenas um “caixa dois”, e que esta era uma instituição nacional, portanto, se voltasse àquela época seria o nosso José de Alencar. Depois pensei nesta horda de americanos que vivem pregando que a democracia é o melhor regime político, enquanto Lula adora o Chaves, adorava o Kadafi e ainda deve adorar o Almadinejad. Devemos resistir às pressões americanas para sermos politicamente corretos? Bem, se o Lula soubesse escrever, talvez escrevesse um romance chamado “Marisa, a virgem dos lábios de mel.” E seria um sucesso de vendas, entrando de imediato para a importante série do Roberto Almeida: “Grandes escritores.” 

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