Por Mary Zaidan (*)
Ninguém é dono da razão. E aqueles que teimam em sê-lo são
os que mais frequentemente a perdem. Por descuido, inépcia ou, mais comumente,
por soberba.
O governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), réu confesso
quanto aos males de o poder lhe ter subido à cabeça, que o diga. Mas nesse
quesito poucos são os que escapam.
A presidente Dilma Rousseff é hors-concours: ela sempre sabe
mais, sempre tem todas as certezas. Quando erra, o equívoco sempre é dos
outros, nunca dela. Mas, imitando a ficção, mais cedo ou mais tarde a
arrogância costuma se voltar contra o protagonista.
O dedo em riste da presidente até era tolerado nos tempos de
farta popularidade. Agora, pouco consegue, nem mesmo nos raros momentos em que
teria a razão como companhia. Uma das provas disso é a aprovação do orçamento
impositivo na Câmara dos Deputados.
O exemplo mais acabado do estrago que a soberba causa à
razão vem do presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Ainda que
na maioria das vezes tenha a razão ao seu lado, ele é expert em perdê-la.
A história se repetiu nesta semana quando, com linguajar
impróprio, Barbosa jogou no lixo a correta acusação que fazia de que o ministro
Ricardo Lewandowski estaria protelando o julgamento dos embargos do mensalão.
Mais do que perder o embate, o presidente da Corte Suprema deixou escapar a
razão, substantivo que pode fazer uma falta imensa nos movimentos seguintes do
caso.
O sentimento de ser proprietário da razão também dominou as
manifestações que chegaram a ser a maior aposta de mudanças no país. Após o
sucesso de junho, manifestantes de diferentes origens passaram a se sentir
acima de tudo e todos. E, assim, romperam os ditames da razão.
A invasão da Câmara Municipal do Rio mostra isso com
absoluta clareza. Se justiça há em se rebelar contra a contaminação por
vereadores governistas da CPI para investigar contratos da Prefeitura com
empresas de ônibus, nada justifica a ocupação do plenário e, muito menos, os
atos de vandalismo.
Goste-se ou não, os vereadores foram eleitos. A não ser que
se queira derrubar o regime em vigor, um grupo – ainda que carregue a razão nas
suas reivindicações – não substitui o voto da maioria.
Por definição, razão é bom senso. É a faculdade de
compreender, de raciocinar. Não raro, é prudência. Algo que, obrigatoriamente,
deveria ser observado por aqueles a quem o país delegou responsabilidades.
Na matemática, razão é a relação entre quantidades, conceito
também aplicável à democracia, regime em que a razão da maioria é expressa pelo
voto. Fora daí, nada é nem mesmo razoável.
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(*) Publicado em 18.08.2013 no Blog do Noblat. Quase sempre
transcrevo aqui os textos da Mary Zaidan, e, quase sempre concordo inteiramente
com eles, pela sua concisão e objetividade, o que nem sempre acontece com os
meus. Hoje, não concordo com tudo.
Não concordo que o Joaquim Barbosa ter usado uma linguagem
imprópria com o Lewandowski. A não ser que ela se refira que ele “pegou” muito leve com o chicaneiro-mor.
Não há uma pessoa neste país, e que se interesse pelo julgamento do mensalão e
por suas consequências políticas, que não tenha, no mínimo, pelo menos,
desconfiado das intenções chicanistas do Lewandowski. O que então o Joaquim
poderia dizer a ele diante de sua renitência ao fazer chicana. Nada? Dizer que
ele poderia falar até a consumação dos séculos, amém?
Soube também que ele o chamou de “moleque”, já nos bastidores do julgamento. E agora o caso é mais
grave, porque foi o Lewandowski, segundo a imprensa, que perguntou: “Você está pensando que eu sou moleque?”,
e o Joaquim apenas respondeu que o “achava,
sim!”. E quem já se viu, como eu, pela minha cor, ser tratada de “moleca” por brancos sem noção, sabe
quanto isto é grave, e nos aflora tanto sentimento, desde antes da Princesa
Isabel. Por isso acho que o agressor é o Lewandowski, que vem tentando provocar
os instintos mais baixos do Joaquim, com a perguntra, e ele apenas está
reagindo à agressão.
Dizem que Lula escolheu o Joaquim como ministro do STF, não
pelo seu saber jurídico, mas, sim por ser negro. Vindo de um apedeuta-mor como
o Lula eu até admito que seja passável se ele realmente ele fez isto. Mas, de
um ministro do STF, este tipo de provocação é um achincalhe e mereceu as
respostas que vem tomando na cara.
O que espero é que os outros ministros não decidam fazer
chicanas apenas para ser solidário com o chicaneiro-mor, e que mostrem ao Brasil
que o Joaquim, ao chamar o Lewandowski de moleque, está mesmo é lhe fazendo um
elogio, e assim agindo com toda razão. Pelo menos o grande público acha assim.
Nas pesquisas ele já tem mais eleitores do que o Coronel Eduardo, que tem os
olhos azuis. (LP)
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