segunda-feira, 23 de setembro de 2013

'Chatice crônica'




Por Nelson Motta (*)

“Parei minha moto no shopping, roubaram a tampa da válvula do pneu. Tinha uma ótima tesoura Tramontina para tosar meus cachorros, mas alguém a trocou por uma de pior qualidade. O médico me mandou tirar radiografia desnecessária só para gastar dinheiro do plano de saúde. Minha revista semanal sumiu na portaria do prédio…”

A prosaica semana de um leitor carioca de um bairro de classe média, tão banal e parecida com a de milhões de brasileiros, mostra como o roubo e a sem-vergonhice estão arraigados na nossa cultura, atrasando o crescimento do nosso IDH, por mais que se invista em educação, tecnologia e infraestrutura. Mas não estamos condenados a essa cultura que privilegia a mentira e a fraude, que aos poucos vai cedendo aqui e ali por força da lei, da policia e da Justiça, e aos trancos e barrancos o Brasil vai melhorando.

Há quem acredite que o Brasil está rico, poderoso, soberano, solidário, mas 43% dos alfabetizados não sabem ler, mais da metade das cidades não tem esgoto tratado, 1/3 das Câmaras Municipais, Assembleias Estaduais e Congresso Nacional estão nas mãos de processados ou condenados pela Justiça. O que esperar dessa gente ?

Ao contrário da cultura legal anglo-saxônica ─ baseada no pressuposto que o cidadão está dizendo a verdade e sabe que vai sofrer graves consequências se não estiver ─, no Brasil a ideia básica é que, em principio, todos podem, e devem, estar mentindo, daí a necessidade de tantas exigências de provas e documentos e assinaturas e autorizações e controles e fiscalizações, que aumentam a burocracia e, com ela, a corrupção. Somos o país do “minto, logo, existo”.

Só aqui há documentos que precisam de “firma reconhecida” e outros que exigem a presença física no cartório, como se umas fossem “sérias” e outras não, mas as fraudes não diminuem. Por essas e outras abrir uma empresa no Brasil leva vinte vezes mais tempo do que nos Estados Unidos ou no Chile.

A verdade, caros leitores, é que são vícios crônicos inspirando uma crônica chata, resultado de muito trabalho vão e de um grande esforço para não falar do mensalão. Paciência, semana que vem melhora.

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(*) Publicado no Blog do Augusto Nunes em 22.09.2013. Este é um retrato em preto e branco do nosso país. E agora de pois de nossa quarta-feira feira de cinzas de nossa justiça, o que tenderá a acontecer? Depois que descobrimos que a impunidade dos ricos é como chuva de janeiro que demora mas não falta? Em estou envergonhada e triste com a nossa situação moral e com nossas autoridades de todos os poderes. Embora pense que a política é uma forma de resolver nossos problemas, aqui, esta atividade está tão aviltada que eu já duvido de sua eficácia.

Nos últimos tempos, vivemos o vale tudo, e como diz o cidadão citado por Nelson Motta a falta de ética virou uma estratégia de sobrevivência. E quando isto acontece, as grandes civilizações morreram e deram lugar à barbárie. Hoje vivemos tão enredados nas teias do Estado, que desaprendemos a viver como indivíduos, de cuja capacidade depende o nosso progresso. Em qualquer atividade, nunca pensamos que somos capazes de sobreviver sem que tenhamos que recorrer às autoridades que nos rodeiam. E por que isto ocorre? Porque acabou nossa confiança no próximo e em nós mesmos. Se alguém se aproxima, temos razão em pensar que é um ladrão e não alguém que nos vem dar conforto e apoio. Vivemos na sociedade da desconfiança e da falta de moral e ética.

Eu nem apelo para os meus valores religiosos para entrar nessa discussão, mas, não hesito em proclamar a importância dos valores de todas as religiões, que se baseiam no respeito ao próximo e na solidariedade. Sem eles ficamos um pouco perdidos e escolhendo os valores morais de ocasião, que só nos levam ao relativismo nesta questão, o que é muito pernicioso.


Todo o texto do Nelson Motta, que pode ser resumido no ditado “quem rouba um pão é ladrão e quem rouba um reino é barão”, mostra que chegamos ao ponto de não indignação com os mínimos deslizes éticos, e eu penso, que depois do episódio da quarta-feira feira de cinzas do STF, estamos chegando a este ponto com os grandes deslizes. Já li hoje que um jurista, aproveitando a onda de namoro dos petistas com nossa Suprema Corte, já disse que o Zé Dirceu não cometeu crime nenhum. Ou seja, roubou o reino e ainda será um barão, enquanto o Marcos Valério vai mofar na cadeia. Ou seja, agiu por conta própria. Há realmente muitas coisas erradas nesse nosso reino. E o pior é a nossa leniência no sentido de aceitar que tudo é assim e deve ser assim. Realmente, a passividade da nação chega mesmo a ser chata. E qual seria a solução? Eu respondo a mim mesma: “A Política, estúpida! (Com P maiúsculo).(LP)

Um comentário:

  1. ESSES TEXTOS ESCRITOS PELAS DUAS PESSOAS NOS LEVAM ÀQUELA VELHA E CONHECIDA HIPOCRISIA FEMININA: VIVE FALANDO DE BELEZA INTERIOR, COM O CONHECIDO LERO-LERO DE, “O QUE VALE É A BELEZA INTERIOR E BLÁBLÁBLÁBLÁ”, MAS NÃO VAI À PADARIA OU ESQUINA DE CASA SEM MAQUIAGEM...

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