A Vilma minha faxineira, imaginem vocês poderia ser classificada dentro da nova classe média brasileira. Ela tem TV, geladeira, DVD, som e os filhos estão todos na escola. Juntos, seu companheiro e ela ganham uns R$ 2.000,00. Paga aluguel e recebe o Bolsa Família.
Eu já apresentei alguns casos aqui que se relacionavam com a vida dela, e tenho todo respeito por sua luta pela sobrevivência e até fico feliz em dizer que a Vilma hoje é classe média como eu. Em termos de renda monetária, eu e meu velho não ganhamos muito mais do que isto e passamos apertado, e muito mais apertado seríamos se os nossos filhos também não colaborassem. Então, por que eu não me inscrevo no Bolsa Família?
É porque simplesmente somos de distintas classes médias. Exagerando na imagem, eu diria que eu sou classe média de antes do Lula, e a Vilma é classe média de depois do Lula. E classe média de antes do Lula, mesmo quase ganhando a mesma coisa da de depois dele, fica com vergonha de entrar na fila para se inscrever para o programa. Ela fica achando que aquela ajuda é uma esmola e pode viciar o cidadão, porque ela está ganhando sem trabalhar. E sabe que seria pecado tirar o pão da boca da classe média de depois do Lula.
Mas a diferença não é só esta. A classe média de antes, hoje, tem casa própria, mesmo que tenha sido comprada pelo BNH, mas tínhamos que pagar, o total. Ela gostava de estudar e de colocar o filho na escola, para não passar os perrengues que ela passou. Ela se informava e votava com consciência, em pessoas que não lhe cobravam para votar nelas por esmolas dadas, nem vinham com enganação de que éramos incapazes para o trabalho ou que os ricos só servem para nos explorar.
Eu, certa época, já fiz até entrevistas informais com a Vilma e tentei transcrevê-las aqui no Blog, cometendo até um pecado pois sei que jamais ela irá ler ( aqui) o que eu disse, pois não sabe o que é internet, sites, mídia eletrônica e blogs. E se falarmos em leitura, ela não vai muito longe.
Anteontem fuçando pelos blogs, topei com uma entrevista feita pelo Augusto Nunes, para o site da revista Veja, que quando a vi, se a entrevistada não diferisse de forma radical, em termos de fisionomia, por exemplo, eu apenas a tivesse ouvido, eu diria que ele estaria entrevistando a Vilma.
Mas não era a Vilma. A entrevistada era Neili dos Santos Ferreira, nascida na Bahia, com 39 anos e dois filhos. Vilma é um pouco mais velha, tem três filhas e fez até o quarto primário, isto é, ainda poderia ser presidenta da república e ainda sobrava, comparando-a com Lula. Eu reproduzo aqui uma conversa (aqui) com ela que transcrevi num postagem para depois vocês compararem com a entrevista da Neili.
“- O que, D. Lucinha!?
- Deixa prá lá Vilma, apenas pensei alto e usei meu espírito jocoso.
- O que, D. Lucinha!?
- Ah! É verdade Vilma o Lula tá com câncer, e tem cura.
- Tem cura mesmo?! Eu soube que um tio da Iracema, minha vizinha sabe, teve uma coisa dessa, levaram ele prá Restauração e quando abriram a barriga dele, já era. Fecharam e mandaram de volta. Não durou 3 meses.
- Isto depende Vilma. Depende do estágio, ou, de como a doença já progrediu. Quando a pessoa não tem como saber que está com a doença e só vai ao médico na fase final, o caso fica mais sério. No caso de Lula dizem que estava numa fase média. Pode ter cura ou pode não ter. Mas, não espere que saibamos disso, até a cura ou até a morte. Político é como artista, vive do seu público e doença séria só é anunciada para encher teatro. Vamos ver o que ocorrerá.
- Mas, ele é um homem tão bom, paga em dia minha bolsa família, e agora posso até comprar lençóis novos, pois aqueles americanos contaminados eu não uso mais.
- Vilma, quem paga o seu bolsa família não é o Lula. Ele nem é mais presidente da república, agora é a Dilma.
- Mas não é tudo a mesma coisa D. Lucinha?!
- Talvez seja Vilma. Mas, mesmo assim quem paga seu bolsa família somos todos nós, que pagamos impostos.
- Pois o seu Gerson, que é do orçamento participativo, diz que é o Lula que paga, e que quem repassa o dinheiro é o João da Costa.”
Veja agora as entrevistas com a Neili e vejam se chegam a mesma minha conclusão de que a classe média pós-Lula é toda igual, do Oiapoque ao Chui, e de Nova Descoberta a São Paulo, tudo cabendo dentro do Bolsa Família.
Vocês ainda não tinham explicação para a popularidade da presidenta? São os 90 milhões de Vilmas e Neilis, da nova classe média. Eu mesma que tento ser correta mas, nem sempre posso ser “politicamente correta”, não gostaria de pertencer à mesma classe média com que sonha a presidenta Dilma e sonhou o presidente Lula, apesar de estar feliz com o progresso de ambas as entrevistadas. Eu me permito sonhar um pouco mais.
PARA SE CONSTATAR COM UMA MAIOR PRECISÃO, BASTA ENTRAR EM UM RESTAURANTE FREQUENTADO PELA CLASSE MÉDIA PARA PERCEBER ESSE FENÔMENO: AQUELES QUE ESTÃO SENTADOS VOTAM NULO OU EM BRANCO, E OS QUE ESTÃO DE PÉ E FAZENDO O SERVIÇO VOTARAM NO IGNORANTÃO DE CAETÉS OU ENTÃO NA MAIS NOVA AMIGA DE FIDEL CASTRO...
ResponderExcluirEntendo o porquê de o PT explorar tanto a pobreza (ops! 'classe média'). Ela dá votos, sustenta a gangue. Se acham a educação cara, vejam o quanto custa a ignorância. Muito bom o seu texto! Parabéns!
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