quarta-feira, 12 de junho de 2013

A república do "eu não sabia"




Por Mary Zaidan (*)

Nenhum governante deveria mentir. Muito menos institucionalizar a mentira. Oferecer-se ao público e, de cara lavada, dizer que não sabia o que todo mundo sabe que o dirigente sabia. Ainda que se dê o benefício da dúvida e se admita que por vezes governantes não saibam o que se passa embaixo de seus narizes, é impossível admitir o não saber como padrão.

Oficializada pelo ex-presidente Lula, a república do “eu não sabia” virou moda.

Lula jurou que foi traído, que nada sabia sobre o mensalão. No mesmo tom, disse ter sido “apunhalado pelas costas” pela sua ex-protegida Rosemary Noronha, que utilizava da intimidade com o presidente para traficar mimos.

Lula também não sabia das peripécias de José Dirceu, que fora o craque, o capitão de seu time, que, por sua vez, desconhecia que seu assessor Waldomiro Diniz tinha negociatas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Assim como José Genoíno assinou sem saber os empréstimos do Banco Rural que lastrearam parte do mensalão.

Quando era ministro da Fazenda de Lula, Antonio Pallocci chegou a alegar que não sabia dirigir em Brasília, e, portanto, não poderia ter chegado pilotando um Peugeot cinza na casa da alegria do Lago Sul, conforme o caseiro Francenildo denunciara. Mais: não sabia e jamais soube da quebra do sigilo bancário do caseiro.

A lista do “eu não sabia” é infinda.

Aloizio Mercadante não sabia da compra do dossiê na qual o seu assessor foi flagrado e muito menos que a ação ocorrera para beneficiar a sua campanha ao governo do Estado e a de seu chefe Lula, que não sabia do envolvimento do seu assessor Freud Godoy na lambança dos aloprados.

O ex-ministro Fernando Haddad, hoje prefeito de São Paulo, não sabia dos kits contra homofobia que chegariam a seis mil escolas, jogados no lixo depois de suspensos pela presidente Dilma Rousseff. Alexandre Padilha também não sabia da campanha “Eu sou feliz sendo prostituta”, veiculada por seu Ministério. Igualmente, Jorge Hereda, presidente da Caixa, não sabia que seus técnicos tinham mexido nas datas do pagamento do Bolsa Família, estopim para o boato de término do programa e para a corrida alucinada de beneficiários a agências, com quebradeiras e feridos.

Vendida por marqueteiros como exímia gestora, centralizadora e mandona, Dilma não foge ao figurino. É enganada toda hora. Nada sabia sobre as trapaças de Erenice Guerra, e, supõe-se, nada sabe das aprontações de auxiliares que ela própria faxinou e que agora renomeia.

Ninguém sabia que a refinaria de Pasadena (EUA) nada valia. Daí o equívoco de se pagar por ela U$ 1,18 bilhão. Uma conta que, ignorantes, não sabíamos.

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(*) Publicado em 09.06.2013 no Blog do Noblat. O texto da Mary Zaidan é impecável, embora incompleto. E não poderia ser diferente. Seria inimaginável que ela pudesse elencar todas as safadezas feitas pelo PT e apaniguados nos últimos tempos, simplesmente, por falta de espaço.

Se disserem ao Lula que as obras de transposição do Rio São Francisco estão paradas enquanto o povo desta região vê o gado morrer de sede, ele simplesmente dirá que não sabia, e agora quem deve saber é a Dilma. Esta alegará que não tem problema pois a conclusão da obra já está prevista para 2015.

Se dissermos que a inflação está de volta, mesmo que a Dilma tenha mandado recolher os tomates no campo para baixar o preço no supermercado, e dado incentivos para que as passagens de ônibus urbanos não subissem, quem não sabia éramos nós, como não sabemos nada, a não ser através de uma parte da imprensa que ainda teima em se manter livre neste país.


E é esta imprensa que está nos salvando da oposição que temos, que vive tropeçando nas próprias pernas, e sem rumo. Para se ganhar a eleição presidencial deste país, basta apenas informar às pessoas  o que elas devem saber e não sabem. Basta mostrar, por A mais B que se continuar o descalabro de gastos mal feitos e as políticas tortuosas, dentro em breve não sobrará nem para o Bolsa Família. Aí a patuleia desperta do seu sono no paraíso, porque poderá até perder suas bolsas escrotais (meu Deus me perdoe).

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