sábado, 26 de novembro de 2011

Mentiras são mentiras, nada mais que mentiras...




Outro dia contei, parece que aqui mesmo, a origem do meu blog ou como entrei na carreira solo de blogueira. Tudo deveu-se a um mentira, aparentemente, bem urdida pelo Dr. Filhinho, com assessoria especializada do Sr. Ccsta, em que diziam que eu não existia. Que eu era apenas uma criação do Zé Carlos, elevando este último à condição, segundo a Maria Caliel (que saudade, por anda a Maria Caliel?) de Deus.

Houve, no entanto uma coisa boa vinda desta mentira: O Blog da Lucinha Peixoto, esta que lhes escreve no momento. Eles não sabem o bem que me fizeram com a sensação de liberdade que tenho hoje. Escrevo a hora que quero, sobre o que eu quero e ainda já sei programar as matérias, e durmo quando quero na cama que escolherei, por que aqui sou amiga do rei. E já aprendi uns mentirinhas de blogueiros ao programar as matérias de forma que os leitores nunca saibam a que horas estamos escrevendo de verdade. Mesmo com estas mentirinhas, quando acontecem em minha vida, corro para o meu confessor, que já me absolve de longe, e eu de longe também, prometo não pecar, pelo menos até a próxima confissão.

No entanto, se vocês pensam que sentei hoje aqui só para falar de mentiras, acertaram em cheio. Hoje o Brasil é um país de mentiras e diante das quais, as minhas e as do Dr. Filhinho são apenas pecados veniais. Vejam a grande mentira nacional: o governo da presidenta Dilma. Quem poderá dizer que, até agora, realmente existiu algo que pelo menos perto do que possamos chamar de governo? Quando ela pousou de governante foi para oferecer a ajuda do Brasil aos países desenvolvidos, pois aqui nossos problemas acabaram. Que mentira que lorota boa!

Neste final de semana, mesmo antes de sair a nova edição da Veja, o terror dos ministros, já outro órgão de imprensa descobriu outra falcatrua. O ministro das cidades o Mario Negromonte já é responsabilizado por tornar a Copa do Mundo mais cara, ao avalizar um parecer apócrifo do seu staff. Mais uma mentira no governo, além daquela que o Lupi a ama, o que é uma mentira, pois depois vi uma declaração de sua mulher falando bem dele. O bom jornalista Sandra Vaia resume a mentira da vez:

O truque foi relativamente simples: havia no ministério um processo para a construção de uma linha rápida de ônibus em Cuiabá, ao custo de 500 milhões de reais.

O governo de Mato Grosso alterou o projeto para a construção de um VLT ( Veículo Leve Sobre Trilhos) que custaria 1,2 bi , 700 milhões a mais do que o projeto original.

Um parecer de 16 páginas produzido pela assessoria técnica do próprio ministério foi contra a construção do VLT não só por causa do custo, mas também por causa dos prazos e da falta de estudos comparativos entre as duas modalidades de transporte.

Com autorização do chefe de gabinete do ministro das Cidades, Cassio Peixoto, e com o aval do próprio ministro, o parecer contrário da área técnica foi substituído por um parecer favorável, que foi inserido no processo com o mesmo número de páginas do parecer original e com o mesmo número de nota técnica: 123/2011.”

Se é verdade que mentira tem perna curta, esta não chegou nem a sair do lugar por falta de eficiência ao mentir. Faltou a expertise do apedeuta, que nesta área dava nó em pingo d’água, ao ponto de querer nos convencer, antes de ficar doente é óbvio, que o SUS era melhor do que o Sírio-Libanês. Pelo menos deveriam ter mudado o número da nota técnica no Ministério das Cidades.

Mas, como odeio mentir, tanto por convicção religiosa quanto por achar que, mesmo sendo um mal necessário certas vezes, no final sempre algo sai errado, é que resolvi me aprofundar nos aspectos antropológicos da mentira neste artigo. E uma mentira cabeluda é se eu dissesse que o que vem a seguir é de minha lavra. Não senhores, não é. Como eu adoraria que fosse, e pudesse escrever com tanta erudição, mesmo sobre um assunto tão pecaminoso quanto a mentira. O texto que segue é do Roberto DaMatta, e que foi publicado no O Globo de quarta-feira passada, com título de “Mentira & politicagem”.  

Seria mentira uma realidade da política brasileira? Sobretudo neste momento em que o governo de dona Dilma constitui uma Comissão da Verdade, mas um dos seus ministros – justamente o do Trabalho que é o apanágio do seu partido (o dos trabalhadores) – mente de modo claro, aberto, insofismável e – mais que isso – com uma verve e um nervo dignos de um astro de novela das 8?

Fiquei deveras assombrado por sua ousadia e desenvoltura de ator, quando – perante o Congresso – ele diz não conhecer o empresário com quem jantou, andou de avião e contemplou – com um olhar digno de um Anthony Hopkins – um pedaço de papel com o nome da questionada figura, numa simulação dramática que era a maior prova de que mentia descaradamente.

Ou seja, para o governo é mais fácil resgatar o passado fabricado pelo autoritarismo do regime militar – um momento no qual opiniões conflitantes eram proibidas e que engendrou oposições à sua altura e igualmente fechadas; passando por alto pela Lei da Anistia – do que demitir um ministro mentiroso. Continuamos a refazer o que não deveria ter sido feito, e a não fazer o que o bom senso exige que se faça.

* * * *

Viver em sociedade demanda mentir. Como exige comer, confiar e beber – mas dentro de certos limites. Os americanos distinguem as “white lies” (mentiras brancas ou brandas) – falsidades sem maiores consequências – das mentiras sujeitas a sanções penais e éticas.

Pois como todo mundo sabe, a América não mente. Ela está convencida – apesar de todas as bolhas e Bushes – de que até hoje segue o exemplo de George Washington, seu primeiro presidente; um menino obviamente neurótico que nunca mentiu. Na América há todo um sistema jurídico que dá prêmios à verdade muito embora, num lugar chamado Estados Unidos, minta-se à americana. Ou seja, com a certeza de que se diz a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade. E que Deus me ajude! Foi o que fez, entre outros, Bill Clinton, quando negou ter tido sexo com a dragonarde Monica Lewinsky, porque o que eles fizeram no Salão Oval não estava na Bíblia.

* * * *

No Brasil não acreditamos ser possível existir sem mentir. Basta pensar no modo como fomos criados para entendermos a mentira como “boa educação” ou gentileza, pois como cumprir a norma de não discutir com os mais velhos sem enganar? Como não mentir quando a mulher amada chega do salão de beleza com o cabelo pintado de burro quando foge e pergunta: querido, o que é que você acha do meu novo penteado? Ou quando você confessa ao padre aquele pecado que você comete diariamente e dele se arrepende também cotidianamente, só para a ele voltar com uma volúpia apenas compreendida pelo velho e bom catolicismo romano? Como não mentir diante do seu professor, um Burro Doutor, que diz que sabe tudo, mas não conhece coisa nenhuma? Ou do amigo que escreve um livro de merda, mas acha que obrou coisa jamais lida? Ou para o netinho que questiona, intuindo Descartes: se existe presente, onde está Papai Noel?

Como não mentir se o governo mente todo o tempo, seja não realizando o que prometeu nas eleições, seja “blindando” os malfeitos inocentes dos seus aliados, seja dizendo que nada sabe ou tem a ver com o que ocorre debaixo dos seu nariz de Pinóquio?

* * * *

Numa sociedade que teve escravos, entende-se a malandragem de um Pedro Malasartes como um modo legítimo de burlar senhores cruéis. Mas não se pode viver democraticamente aceitando, como tem ocorrido no lulo-petismo, pessoas com o direito de mentir e roubar publicamente. Mentir para vender um tolete de merda como um passarinho raro ao coronelão que se pensa dono do mundo é coisa de “vingança social” à Pedro Malasartes.

No velho marxismo no qual eu fui formado, tratava-se de uma forma de “resistência” ao poder. Mas será que podemos chamar de “malfeitos” o terrorismo e o tráfico? Seria razoável aceitar a mentira como rotina da vida política nacional porque, afinal de contas, o “Estado (e a tal governabilidade com suas alianças) tem razões que a sociedade não conhece” ou, pior que isso, que o nosso partido tem planos que tanto o Estado quanto a sociedade podem ser dispensados de conhecer?

* * * *

No Brasil das éticas múltiplas (uma mentira e uma verdade para cada pessoa, situação, tempo e lugar), temos a cultura do segredo competindo ferozmente com a das inúmeras versões que, normalmente, só quem sabe a mais “verdadeira” é quem conhece alguém mais próximo do poder. Entre nós, a verdade tem gradações e lembranças. No antigo Brasil do “você sabe com quem está falando?”, dizia-se: aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei! Hoje, nos vem à mente uma velha trova mineira: “Tu fingiste que me enganaste, eu fingi que te acreditei; foste tu que me enganaste ou fui eu quem te enganei?

Com a palavra, os eleitos e os nomeados.”

Eu adorei cada passo deste escrito, desde a citação das novelas passando pelo Pedro Malasartes, de quem ouvi história fabulosas contadas pela minha mãe, até a trova mineira, que mereceria ser dita por mim àqueles que acreditaram nas mentiras ditas sobre mim:

Tu fingiste que me enganaste,
Eu fingi que te acreditei;
Foste tu que me enganaste ou
Fui eu quem te enganei?

E curtam o fim de semana,  pois agora vou para o supermercado. Olha a mentirinha! Escrevi isto ontem. Não quero fingir que enganei vocês.

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