Eu hoje iria escrever sobre outra coisa. Talvez até sobre a
sandice do Dandinho em nomear o Poeta como assessor de comunicação da Casa de
Dantas Barreto. Mas, quando vi passando o cortejo fúnebre o Hugo Chávez, eu
fiquei pensando que ninguém iria ler-me se eu escrevesse sobre outra coisa.
E até porque eu havia visto em uma destas redes sociais, uma
frase atribuída ao Cháves que dizia mais ou menos assim: "Jesus foi o primeiro socialista: ele dividiu o pão e o vinho, e
Judas foi o primeiro capitalista: vendeu Jesus por trinta moedas." E ontem
rebati um argumento, alhures que dizia que o Chávez era um católico praticante.
Se o fosse, com esta frase, deveria ser banido da Igreja.
Ele tenta apenas fazer um trocadilho do “amor pelo próximo” que o Jesus pregava,
com o socialismo pernicioso que tentou implantar na Venezuela, usando o
petróleo de todos os venezuelanos para bancar um projeto pessoal de poder
através do assistencialismo (qualquer semelhança com o lulo/petismo no Brasil
não é mera coincidência). E o Judas é bem representado por ele que está traindo
as futuras gerações de venezuelanos.
No entanto, eu resolvi, ao invés de continuar escrevendo
sobre Chávez, citar um jornalista que gosto muito, embora discorde dele em muitas
coisas relacionadas com nossa Santa Madre Igreja, e que é mais prolixo do que
eu (coisa rara, antigamente), sobre o mesmo tema, pois ele diz tudo. É um texto
do Blog do Reinaldo Azevedo, publicado hoje pela manhã.
Leiam tudo e vejam se muitas passagens gastas para Venezuela,
para assistir as exéquias chavistas, não poderiam ser poupadas. Mas, se eu
fosse STF não deixaria o Zé Dirceu ir para lá, porque ele certamente fugirá
para Cuba.
“Não! Chávez não era metade gênio e metade idiota. Era cem por cento
idiota, além de comandar um governo infiltrado pelo terrorismo e pelo narcotráfico
A morte de Hugo Chávez
revela que estamos vivendo dias um tanto sombrios. Os valores da democracia
estão em crise. Basta ler o noticiário para constatá-lo. Chego à conclusão de
que os idiotas e os simpatizantes de tiranias supostamente virtuosas estão no
comando de alguns veículos da imprensa, ainda que eles próprios dependam
vitalmente da liberdade. Por que escrevo isso? Vamos ver.
A antiga pauta de
esquerda — a revolução socialista — foi definitivamente aposentada. Assumiu, ao
longo do tempo, uma nova configuração, bem mais fragmentada. Vivemos sob o
signo da reparação das chamadas “injustiças históricas”: com os pobres, com os
negros, com os indígenas, com as mulheres, com os gays, com os quilombolas, com
a natureza… Escolham aí. A cada pouco surge uma nova “minoria” —
sociologicamente falando — disposta a impor a sua pauta como precondição para a
justiça universal. É evidente que não tenho nada contra a justiça, ora bolas!
Por que não seria eu também um homem tão bom quanto os ciclistas, por exemplo?
É claro que sou! É alguém me falar do bem, do belo e do justo, e estou dentro,
estou com os bacanas.
Se todo mundo quer um
mundo perfeito, não serei eu a ficar fora dessa festa. A questão é saber como
essas reparações todas serão realizadas no âmbito da democracia, de uma
sociedade de direito, que respeite os direitos individuais. Governar com
ditadura é fácil; com democracia é que é o “x” do problema.
Cansei de ler nestes dois
dias alguns raciocínios perigosos. Eles consistem basicamente na aceitação
tácita de que a melhoria de alguns indicadores sociais na Venezuela — e houve —
estão atreladas ao “modelo” inventado por Hugo Chávez. O desemprego, com
efeito, caiu de 14,5% em 1999, quando ele chegou ao poder, para 8% no ano
passado. Mas também chegou a 18% em 2003, no seu quinto ano de governo. Já a
inflação era de 29,9% em 1998, quando ele foi eleito pela primeira vez, e
chegou a 33% no ano passado. O seu menor índice foi em 2001, com 12%. O IDH
subiu de 0,656 para 0,735 em 2011 e passou, por exemplo, o do Brasil.
Não é segredo para
ninguém que Chávez usou o dinheiro farto do petróleo para empreender um forte
programa assistencialista. E é esse assistencialismo que garante a adesão
entusiasmada dos mais pobres a seu governo. Também é claro as ditas elites
tradicionais da Venezuela estavam entre as mais corruptas e socialmente
insensíveis do mundo — o que acaba facilitando a emergência de líderes com o
seu perfil. Vale para a Venezuela, a Bolívia, o Equador… Mas a rapacidade das
ditas-cujas justifica o modelo bolivariano?
Chávez tomou, sim,
iniciativas que minoraram o sofrimento dos mais pobres. Isso não está em
debate. A questão é saber por que ele precisava da ditadura. A questão é saber
por que ele precisava apelar a um regime de força. Essas perguntas não têm
resposta porque simplesmente a pantomima bolivariana era desnecessária. Lula
também tentou impor alguns instrumentos de exceção no Brasil. Não conseguiu —
não ainda ao menos. E nada impediu o petismo de levar adiante a sua lenda.
O presente que corrói o futuro
Chávez transformou a
Venezuela no, se me permitem, país da monocultura do petróleo. Estão lá 25% das
reservas mundiais do óleo. Enquanto ele for uma matriz energética — e será
ainda muito tempo —, é evidente que o país contará com dinheiro para manter as
políticas assistencialistas, ainda que produza muito menos do que pode. Notem:
essas políticas não são um mal em si. Mas para que futuro apontam quando se
tornam um fim em si mesmas?
Apontam para o
desastre. Chávez acabou com o que havia de agricultura de ponta na Venezuela,
por exemplo. O país não produz mais comida. Expropriou empresas estrangeiras,
espantou o capital privado e transformou milhões de venezuelanos em
estado-dependentes. Sem a diversificação da economia — impossível no regime
bolivariano —, assim continuarão. O petróleo responde por 50% das receitas do
governo e constitui quase 100% da receita de exportação. Nas palavras do
economista venezuelano Moisés Naim ao Wall Street Journal: “Nunca um líder
latino-americano perdeu tanto dinheiro, gastou tão mal os recursos e usou de
maneira tão incorreta o poder que lhe foi dado”. Na mosca!
Os tontos
Não, senhores! O
autoritarismo de Chávez não era uma espécie de mal necessário a justificar,
então, um bem — a saber: a redução da pobreza e a diminuição da desigualdade.
Esse e um juízo delinquente e está na raiz, diga-se, das exegeses malandras
sobre o 54 anos da ditadura cubana. Durante décadas, o suposto bem-estar social
de Cuba serviu para ocultar os crimes dos irmãos Castro. Pelo menos cem mil
pessoas morreram (17 mil fuziladas; as demais tentando fugir da ilha) sob o
silêncio cúmplice do resto do mundo para que se construísse por lá aquele
paraíso…
Mas os tempos — e
então volto ao ponto central deste texto — andam simpáticos às ideias de
reparação a qualquer preço. Se Chávez sucedeu as ditas “elites insensíveis” de
antes, então tudo lhe seria permitido, inclusive a violação dos fundamentos
mais comezinhos da democracia e, não custa notar, do direito internacional. Nem
mesmo se pergunta o óbvio: como poderia estar hoje a Venezuela se ele não
tivesse destroçado a economia do país? Os ditos programas sociais poderiam
estar em vigência, certo? Por que não? Talvez houvesse menos venezuelanos
trabalhando para órgãos estatais ou dependentes da ajuda oficial. Certamente o
povo seria mais livre.
Chávez distribuiu,
sim, parte da riqueza do petróleo por intermédio desses programas, com os quais
cevou o eleitorado. Mas roubou, e por muitos anos, o futuro do país, que terá
de ser reconstruído — a começar das instituições.
Exportador da “revolução” e importador do terror
Cumpre lembrar, ainda,
do Chávez “exportador da revolução”. Meteu as patas no Equador, na Bolívia e
até na Argentina. Enviou uma mala com US$ 800 mil para ajudar a financiar a
primeira eleição de Cristina Kirchner. Inspirou a tentativa de golpe em
Honduras e depois tentou articular, com a ajuda do Brasil, uma guerra civil
naquele país. Armou, isto ficou comprovado, os narcoterroristas das Farc, da
Colômbia, e se fez seu interlocutor privilegiado. Em Caracas, há uma praça com
o nome do fundador do grupo: Manuel Marulanda. Atenção! Quando o coronel tentou
dar um golpe na Venezuela, em 1992, os narcoterroristas lhe enviaram 100 mil
pesos — mais ou menos US$ 50 mil à época. No poder, o ditador repassou para os
bandidos estupendos US$ 300 milhões. As informações estavam no laptop do
terrorista morto Raúl Reyes.
É pouco? Chávez
celebrou acordos de cooperação militar E NUCLEAR com o Irã, e o Hezbollah,
movimento terrorista baseado no Líbano e que é satélite do país dos aiatolás,
estabeleceu uma base de operações na Venezuela.
As relações do estado
venezuelano com o narcotráfico também já estão mais do que evidenciadas. Em
abril do ano passado, o juiz Eladio Aponte Aponte, da Corte Suprema do país,
fugiu para a Costa Rica. Pediu para entrar no sistema de proteção que a agência
antidrogas dos EUA oferece aos delatores considerados importantes. Confessou
que, a pedido do governo, atuou para proteger o narcotráfico. Nada menos de
metade da cocaína que entra nos EUA tem origem na Venezuela. Leiam trecho de
reportagem de O Globo de 7 de maio de 2012
[o juiz] deu como
exemplo um caso no qual está envolvido um ex-adido militar venezuelano no
Brasil, o tenente-coronel Pedro José Maggino Belicchi. Segundo o juiz-delator,
Maggino Belicchi integra a rede militar que há anos utiliza quartéis da IVª
Divisão Blindada do Exército da Venezuela como bases logísticas para transporte
de pasta-base e de cocaína exportadas por facções da Farc, a narcoguerrilha
colombiana. O tenente-coronel foi preso em flagrante no dia 16 de novembro de
2005, com outros militares, transportando 2,2 toneladas de cocaína em um
caminhão do Exército (placa EJ-746).
Na presidência da
Suprema Corte, Aponte Aponte diz ter recebido e atendido aos apelos da
Presidência da República, do Ministério da Defesa e do organismo venezuelano de
repressão a drogas para liberar Magino Belicchi e os demais militares envolvidos.
Faz parte da rotina judicial venezuelana, ele contou na entrevista à televisão
da Costa Rica.
O general Henry de
Jesus Rangel Silva, citado pelo juiz-delator, comandou a Quarta Divisão
Blindada, uma das unidades mais importantes do Exército venezuelano. Desde
2008, ele figura na lista oficial de narcotraficantes vinculados às Farc
colombianas e cujos bens e contas bancárias estão interditados pelo governo dos
Estados Unidos. Em janeiro, o presidente Hugo Chávez decidiu condecorá-lo em
público e promovê-lo ao cargo de ministro da Defesa. “Rangel Silva é atacado”,
justificou Chávez em discurso.
(…)
Encerrando
Alguns indicadores
sociais da Venezuela melhoraram, sim. É obrigação dos governos. O mesmo se deu
em países que se mantiveram no rumo democrático. A ditadura, pois, foi uma
escolha de Chávez e de sua camarilha que independe dessa ou daquela medidas.
O cem por cento idiota
deixa um país com as instituições em frangalhos, com a economia combalida, com
uma inflação da ordem de 30%, infiltrado pelo terrorismo e pelo narcotráfico. O
homem que morre, reitero, merece piedade, como qualquer um. O ditador, no
entanto, nunca deveria ter existido. A América Latina está mais sã. Agora é
preciso desalojar, pela via democrática e pela luta política, a camarilha
criminosa que está no poder.”
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