Por Luiz Fernando Verissimo (*)
Cena: festa de aniversário de criança. Dois pais lado a
lado.
— Você é o pai da...
— Da Laura. Você?
— Do Miguel. Aquele ali com a espada, batendo na... Miguel!
Não se bate assim nas pessoas. Pede desculpa!
— Nós não nos vimos no...?
— No aniversário da Luiza.
— Certo. Estou me lembrando. Bolo de chocolate com amêndoas.
— Isso. E sorvete de creme
— Sou eu que sempre trago a Laurinha nos aniversários.
— Sua mulher já desistiu...
— Não. É que eu gosto.
— Sabe que eu também?
— São um inferno, claro. É preciso ter paciência. Mas tem
seu lado bom
— Exatamente. Eu... Miguel! Me dá aqui essa espada! Você
ainda vai quebrar alguma coisa!
— Eu sou tarado por brigadeiro de aniversário.
— Eu também! Brigadeiro e guaraná morno, tem coisa melhor?
— Notei que você pega dois brigadeiros cada vez que passa a
bandeja, mas não come. Põe de lado.
— Para comer depois dos cachorrinhos-quentes. De tanto vir a
festas de aniversário com o Miguel, desenvolvi uma técnica. Primeiro como os
cachorrinhos-quentes...
— Ou as empadinhas.
— Ou as empadinhas, ou os croquetes, e depois os brigadeiros.
Primeiro o salgado, depois o doce.
— O problema é que estas festas geralmente são
desorganizadas. Servem os doces antes dos salgados. Não há nenhum critério. As
crianças não ligam. A Laurinha não parou de comer brigadeiro desde que chegou.
Ela é aquela ali, com o vestido marrom. Era branco quando ela saiu de casa,
agora é marrom.
— Outra coisa. Só servem o bolo depois de cantarem o
“parabéns pra você” e assoprarem as velinhas.
— E nós aqui, namorando o bolo de longe. Do que você acha
que esse é...
— Meu palpite é morangos com nata batida.
— Mmmmm...
— Mas vamos ter que esperar.
— Paciência...
— Olha, acho que estão vindo as empadinhas. E croquetes!
— Até que enfim...
— Miguel, desce daí!
-------------
(*) Publicado no Blog do Noblat em 24.02.2013. Sempre gostei
do Veríssimo e agora, depois que viu a morte de perto, quase como eu, ele está
insuperável. Hoje transcrevo seu brigadeiros, não porque cansei de política,
mas, porque vivi experiência igual àquela que ele descreve de uma festa de
aniversário do Júlio, meu neto, mais velho.
Já são 4 festas, e com meus outros filhos pretendem
procriar, haja festas no futuro e eu espero ir a todas. A pergunta é se podemos
sair da mesmice destas festas e voltar aos bons tempos de Bom Conselho onde só
comemorávamos aniversário de casamento. Eu mesma só vim saber o dia em que
nasci quando fui estudar no Ginásio São Geraldo. Eu não sei se era por motivo
de economia ou se era devido aos afazeres dos pais a tentar fazer mais filhos,
e as datas eram tantas que eles nem gravavam. Minha mãe não teve muitos, no
entanto, também não comemorava meu aniversário.
Hoje é todo ano. E é a mesmice narrada brilhantemente pelo
Veríssimo. Quando muito foge-se da rotina vestindo o aniversariante de boi ou
de burrinha do carnaval. O certo mesmo são os heróis americanos. O Júlio já foi
o He-Man, o Superman, o Batman e este ano foi o Capitão América. E o César, no
seu primeiro aniversário foi o Homem de Ferro. Ele ainda hoje tem a máscara.
E talvez seja por isso que nossas crianças quando crescem
nem ligam mais para a mesmice política, e se adaptam tanto ao moderno “rouba mas faz” petistas, que agora se
transformou em no “nem rouba e nem faz,
só mentem”.
Me perdoem, prometi deixá-los sem política este fim de
semana, mas, não resisto, quando ouvi o Lula falando que começara a ler livros.
Lembrei agora, no próximo aniversário vou vestir meu neto de Pedro Malasarte.
Cruzes. (LP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário