quarta-feira, 3 de abril de 2013

Assim a escola cai





Por Ateneia Feijó (*)

Uma diretora de escola de ensino fundamental é xingada de vagabunda e socada no rosto por um aluno adolescente sem causar nenhuma indignação pública. É tragédia anunciada.

Se nada for feito, os valores que orientam uma sociedade civilizada estão ameaçados de extermínio. Parece exagero, dramalhão. Mas é realmente aterrador o grau de indiferença diante do desrespeito e da banalização de violência praticados por crianças e adolescentes contra seus professores.

Pior, não é de hoje. Essa indiferença está se transformando numa insensibilidade patológica, incapacitante para a compreensão do que é certo e errado; para a definição de limites.

Poucos são os que se detêm para analisar a causa de tanta agressão e desrespeito ao professor primário. Exatamente aquele que deveria figurar como alicerce da educação.

E o que provoca, afinal, esses conflitos quase corriqueiros entre esses alunos e seus educadores? O que desencadeia as ações violentas, repentinas ou não? O que faz com que esses profissionais de educação sintam-se cada vez mais como uma classe trabalhadora de alto-risco?

Quais os verdadeiros motivos das agressões? Aparentemente, elas são “apenas” respostas de alunos revoltados por terem sido contrariados ou repreendidos. E não é raro que apareçam mães reforçando a pancadaria moral ou física contra os “repreendedores”.

Geralmente, os agressores advêm de famílias desestruturadas e violentas há mais de uma geração (ricas ou pobres). Não têm noção do significado de sala de aula, nem da função do professor. Algumas até obrigam os filhos a irem à escola unicamente para não perderem o Bolsa Família.

Por outro lado, também existem aqueles professores despreparados, desiludidos, cansados, sem paciência ou vocação.

Fica claro, portanto, que a valorização do educador depende de como o Estado o reconhece, dando-lhe incentivo, capacitação, prestígio e proteção.

A reportagem especial “Escolas do medo” (O Globo 31/03), de Vera Araújo, Carla Rocha e Maria Elisa Alves, confirma que os casos de agressão nas escolas de ensino fundamental têm aumentado. Porém, 80% deles não são registrados nas delegacias devido à burocracia, ao medo.

Não, esta situação conflituosa não tem a ver com o mundo digital que costuma dar bastante trabalho aos professores, principalmente, do ensino médio. (Embora a garotada creia que informações soltas obtidas ali no Google equivalem a conhecimento.)

Na questão da violência abordada aqui, a internet ainda não entrou em sala de aula.

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(*) Publicado no Blog do Noblat em 02.03.2013. Para nós, mães e avós quatrocentonas (não sei a idade da Ateneia e não sei nem se é mãe ou avó, falo genericamente) é uma verdadeira lástima a forma como hoje são tratados os professores, por alguns alunos. Pergunta-se quais os motivos de tanta falta de vergonha no trato com os mestres. Para mim é falta de educação doméstica. A verdadeira educação começa no lar, na família.

Sou do tempo em que se chegássemos com as mãos inchadas de bolos de palmatória, minha mãe fazia inchar minha bunda de palmadas, porque sabia que eu tinha aprontado. E muitas vezes cheguei com uma orelha vermelha pelas mãos de D. Lourdes e com certeza a outra ficou assim pelas mãos de minha mãe.

Até sou contra a violência excessiva contra crianças, mas, só os excessos. Sou totalmente contra a Lei da Palmada pela interferência indevida nas relações familiares. Hoje, até aprovo um boa conversa com os meus netos, e minha filha já tem outra atitude com eles, mesmo assim não é tão liberal ao ponto de deixá-los intimidar qualquer professora e até mesmo a mim.

Isto também passa por uma boa educação religiosa. A religião, talvez por culpa mesmo dos religiosos, vem perdendo terreno na educação das crianças, muitas vezes pelo irrealismo que se propõe no trato com a doutrina. Não sou uma fundamentalista católica, mas, o catecismo me ajudou a praticar os evangelhos e ser uma pessoa socialmente com limites, embora mantendo minha criatividade crítica e personalidade das quais não abro mão.

Até me considero uma mãe liberal, como na política sou quase isto, com um pouco dos vícios da social democracia. Penso que os filhos tem que ter sua vida, mas, foi minha obrigação mostrar-lhes alguns limites, sem os quais eles e toda a civilização sofreriam. (LP).

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