Por BARBARA GANCIA (*)
Minha intenção hoje era falar dos índios. Mudei de ideia lembrando
da transamazônica de nãos que recebi de todos a quem perguntei: "E aí,
gostou de Xingu'?" (o filme, não o parque nacional que estão
esquartejando). Trata-se de um esforço que ninguém apreciou. A história dos
irmãos Villas-Boas não interessa. Brasileiro não gosta de índio.
Como desejo ser lida, disponho-me a agradar. Mas há limites.
Se pensa que vou descambar para a apelação, meu nobre leitor, e sair malhando
Obama Rousseff e suas ancas duras para a articulação política, errou feio. Vá
lá. Já que estamos aqui, só uma lasquinha: negão ruim de cintura como esse nem
se morasse no Alvorada, usasse tailleur de manga três quatros e tivesse
dificuldade em se locomover de salto -- como bem notou Thammy, filha de
Gretchen.
Por falar na Angela Merkel tapuia (eu sei, só daria para
comparar se a Angela Merkel estivesse em coma), há muito sinto como se um
bisturi me retalhasse as vísceras, tamanha a vontade de dizer a minha opinião
sobre essa história de médico que veio de jangada lá de Cuba (ah, não veio? Foi
de avião da FAB? Quem pagou?). Entendi: pergunte ao Fidel. Quer saber? A mim
pouco importa. Eu preciso é desabafar, senão tenho um treco.
Para começar, se, neste momento, eu me encontrasse em
situação de vítima da seca, no interior do interior da Paraíba, sol fritando a
moleira e moscas zunindo ao redor dos meuzôio (nesse contexto seria meuzôio
mesmo), baita dor de barriga e, ainda por cima, desidratada, nem que eu fosse
acolhida por um ser falando em papiamento que me auscultasse com um
estetoscópio trincado e me desse um copo de lavagem de porco para beber, creio
que acharia melhor do que não ter assistência.
Dito isto, passemos para o outro lado do balcão: já notou
que os médicos cubanos têm um discurso ensaiado? Pessoal parece ter sido
treinado para atendente do McDonald's. Todos estão "felices por estar acá
ayudando a Brasssil".
Ocorre que eu vou ficar devendo, mas não posso acreditar em
uma palavra do que dizem.
Tudo bem. Há quem prefira a ditadura cubana, torça pela
volta do Ahmadinejad e esteja morrendo de saudades as traquinagens de Kadafi.
Sem problema. Os EUA estão longe da beatificação. Repressão e liberdade de
expressão seletiva é com eles.
Diplomacia é teatro, o mundo todo é um palco e todos os
homens e mulheres, meros atores. Mas há de se medir o tom da dramaticidade.
Sair de cena abruptamente por conta de ato de espionagem para medir força é
perder oportunidade de negócio e de romper com maniqueísmo --resquício da
Guerra Fria.
E se a potência que nasce resolvesse forçar convivência? O
Brasil faz negócio com Angola, Venezuela, EUA... Por que não? Por que não
podemos vender nossas latas velhas para os EUA e também para o Afeganistão? É
verdade. Hoje, só a Argentina se dispõe a comprar automóveis "made in
Brazil", já ia esquecendo. Seja como for, não está aí a espionagem a
serviço do controle da transferência de tecnologia, ora bolas?
No fim das contas, quem se sacode são os médicos cubanos,
forçados a viver onde nenhum tapuia quis ir. Alguém perguntou se queriam vir
passar três anos no sertão? E ainda correm o risco de ter o mesmo destino de
seus conterrâneos, que tiveram asilo político negado durante o Pan do Rio.
Mente aberta, Dilma não liga de deixar ainda mais arredios
os já paranoicos EUA. Lembrando que, da nossa porta para dentro, gente como o
terrorista Cesare Battisti sempre pode contar com nossa hospitalidade. Política
externa de primeira é isso.
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(*) Publicado na Folha de São Paulo me 04.10.2013. Tempos
atrás, quando meu marido ainda podia fazer greve para melhorar seu salário,
aqui em casa, assinávamos a Folha de São Paulo. Uma das jornalista que adorava
era a Barbara Gancia. Confesso que o meu estilo de escrever, mantendo as
proporções entre uma verdadeira jornalista e uma jornalista bissexta como eu,
deve-se muito ao dela. Jocosa igual a ela, só eu. E num texto tão curto ela
toca em tantos pontos importantes para o Brasil que resolvi transcrevê-la aqui,
e ter e petulância de comentá-la um pouco.
E ela escreve, com sua ironia impagável, sobre o programa
Mais Médicos que se tornou a “joia da
coroa” do governo de nossa Angela Merkel tupuia (risos não contidos). O que
ele tenta dizer é que alguém que vive igual ao povo pobre brasileiro, lá nos
cafundós do Judas ou mesmo na terra do Dandan, lá no Logradouro dos Leões,
quando dizem que vai chegar um médico, ele recebe qualquer um que venha vestido
de branco e que tenha um estetoscópio pendurado no pescoço. Sua alegria é
incontida, e quem leva a fama por ter trazido a pessoa com jaleco branco recebe
o seu voto. Se a Nancy é médica ou não, sabe ou não dos seus problemas, é
secundário. Em último caso teríamos o efeito placebo.
Esta foi a jogada de mestre da Dilma, nos estertores de sua
baixa popularidade, e a conseguiu levantar com os médicos cubanos. E o programa
continua a trancos e barrancos depois de um ano de planejamento petista, isto
é, nenhum planejamento, a não ser esperar a hora certa para lançar algo que os
ajudem eleitoralmente.
Como o Bolsa Família já está esfriando em termos eleitorais,
porque já conseguiram desvinculá-lo, parcialmente, do pai Lula, e que agora os
bolsistas familiares já sabem que a Dilma não é o Lula, se vem com esta do Mais
Médicos. E ele está servindo para esconder todos os problemas a que o PT nos
leva, como, principalmente, nossa guinada fatal para o “chavismo”, (boa, Marina) que se continuar será um funeral para o
nosso país, com mais requinte do que o do Chávez, que pelo menos deixou em seu
lugar alguém “maduro”. Já nós, se as oposições não se acertarem, teremos uma
mulher que até agora está verde e não amadurecerá nem com carboreto. (LP).
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