Do Leandro Narloch:
“2.
Em 1963, o escritor
gaúcho Sergio Faraco, então um jovem estudante encantado pelo comunismo, foi à
União Soviética fazer um curso de filosofia e economia política. Seu quarto em
Moscou até era confortável, tinha aquecimento e uma boa escrivaninha, mas um
item do alojamento o levou à loucura, pelo menos segundo as autoridades
soviéticas. Na parede, um rádio com um único botão, de volume, reproduzia sem
cessar a programação em espanhol da Rádio Moscou. Faraco não conseguia dormir,
pois não era possível desligar o rádio. “O fio do aparelho era embutido na
parede e tive de arrancar-lhe o cofre para fazê-lo calar”, contou ele. Essa
transgressão, aliada a pequenas outras, levou o jovem a conhecer um lado oculto
do regime soviético: o uso dos hospitais psiquiátricos como prisões. As
autoridades o internaram à força no Hospital do Kremlin. Faraco ficou três
meses trancado e a base de tranquilizantes, até poder voltar correndo ao
Brasil. Sergio
Faraco levou quase 40
anos para conseguir contar essa história. Só a publicou em 2002, no livro
Lágrima na chuva – uma aventura na URSS.”
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