terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Poeta e o sistema de cotas raciais





Alguns dias atrás eu escrevi um recado no Mural da AGD, que é um meio rápido e eficiente para dar respostas a algumas excrescências que aparecem na mídia do Agreste Meridional, sobre um filme que o Poeta postou em seu blog e que eu reproduzo lá no fim, sobre as chamadas cotas raciais.

Para aqueles que não sabem,  o sistema foi uma forma encontrada pelo “progressismo desvairado” de fazer “justiça social” usando minha cor como escudo para não pensar em como elevar a “raça” negra a um grau de igualdade que lhe foi negado desde os primórdios de nossa história, com o devido esforço mental que o tema merece. O nosso problema é que quase não se pensa mais em nosso país, a não ser propor coisas, que sejam de fácil aceitação e de execução muitas vezes desastrosas para o país.

Ninguém está aqui para apagar a história do sofrimento negro durante a história do Brasil e do mundo. Sim, sofremos muito e meus ancestrais sofreram mais do que eu. O problema que surge com as soluções do tipo “discriminação positiva” como é esta da implantação de cotas raciais, é que algumas perguntas  ninguém faz pelo medo de que as respostas firam de forma contundente a justeza de sua proposta.

Quem foi o culpado pela escravidão? Só os brancos? Qual a participação dos negros em sua própria escravitude? E mesmo que isto fosse possível de se responder historicamente, isto é, no passado,  como estas perguntas seriam respondidas na atualidade? Será que meus filhos, porque nasceram mais brancos do que eu, devem pagar o pato porque meu tataravô foi escravo? O que hoje sei é que, através de minha própria luta, eu consegui ter uma família, que é quase branca na cor, mas nunca ousa levantar os olhos para outro branco e pedir-lhe favor para entrar numa universidade. E eles, como indivíduos, não podem ser discriminados ao ponto de perder o lugar numa numa delas, porque agora um seu colega de cor tem que ocupar sua vaga, mesmo que eles tenham mais capacidade. Graças a Deus eu os criei para serem homens e mulheres que através do seu esforço individual pudessem andar com suas próprias pernas, independentes de seus lábios grossos (minha filha diz que atualmente são até apreciados).

Eu não tive esta chance (de entrar na universidade), mas, não foi pela minha cor, e sim porque optei por outros caminhos. Afinal, ser dona de casa, mãe e agora avó, não me tirou a capacidade de me realizar como um ser humano, mesmo que ainda tente me realizar ainda mais procurando ver um dia o Brasil livre do “progressismo desvairado” e todos lutando para resolver seus problemas, inclusive daqueles de cor, mas, não como passe de mágica.

A consciência de que a cor da pele tem influência na ascensão social é um fato e que isto deve-se ao papel do negro na história também é um fato. Mas, meus filhos não participaram desta história e não é justo que hoje sejam discriminados pelos erros dos seus antepassados. Eles hoje não são servidos por escravos e nem tratam minha faxineira como escrava. Pelo contrário são muito amigos. Penso que a Vilma, minha faxineira é apenas escrava do Bolsa Família, pois se recusa a sair do programa mesmo que ela tenha sua situação regular onde trabalha (eu iria dizer que algum fiscal do programa não me ouça,  como se eles existissem, o que não é o caso; em Garanhuns, o que tem é um caçador de pobres para incluir no programa; alguém se lembra do caçador dos escravos na África?)

Não é verdade o que a moça negra diz no filme abaixo, de que toda doméstica é escrava ou seja tratada como tal. O que penso é que talvez, a própria mocinha, que parece ser uma boa atriz, não deve ter usado o sistema de cotas para entrar em alguma escola de teatro. Talvez o que ela queira é uma sistema de cotas para ser atriz na Globo, pois me parece que ela ainda não está preparada para tal. Eu prefiro a Camila Pitanga ou o Milton Gonçalves.

E se for para reparar injustiças históricas, ninguém foi mais injustiçado e vilipendiado do que o povo judeu. Mas, ao invés de lutar por cotas para estudantes judeus nas universidades do mundo este povo compensou a crueldade dos faraós antigos e modernos com sua inteligência e trabalho. Hoje tem o seu próprio país, apesar de que eu pense que eles são muito voltados para eles mesmos, com a ideia de raça, o que muitas vezes deu razão aos seus algozes.

Voltando ao filme abaixo, eu achei o texto de uma arrogância sem par, além de ser uma conclamação para ampliar o conflito racial no país, o que deveríamos repelir de todas as formas. O que deve predominar quando se pensa em desigualdade social é a mente voltada para a igualdade de oportunidades, e que deve ser construída passo a passo dentro de um regime democrático e de direito. Isto não se faz num passe de mágica. Mas, que tal começar com a ideia de que todas as crianças devem ter a mesma educação tornando-as aptas a lutarem pela universidade com os de qualquer cor por um lugar na universidade, daqui a pouco?

Eu tenho quase 60 anos (nunca fui tão explícita assim quanto à idade, mas, é por uma boa causa) e se hoje quisesse entrar numa universidade jamais apelaria para minha cor, discriminando alguns brancos, cujo crime foi terem nascido pobres. E jamais proporia um sistema de cotas para velhos, para me aproveitar dele (apesar de está doida para usufruir da meia entrada nos cinemas). Eu gostaria mesmo, se assim tivesse necessidade, era entrar no vestibular normal e mostrar que ser mulata não é só rebolar na Marquês de Sapucai (embora nada tenha contra, pois quem tem o que é seu, rebola onde quer), e sim também usar a cabeça e bater na bunda de branco que ousasse se achar superior pelo colorido de minha tez.

Mas, para manter meus padrões de não prolixidade, tenho que parar por aqui, mas, não posso deixar de tocar no assunto que li esta semana em algum lugar. Foi feita uma pesquisa pelo IBOPE que mostrou que 62% das pessoas apoiam o sistema de cotas. Isto não me surpreendeu nem um pouco. Pelo menos 99% do povo preferiram Barrabás a Jesus, e, nem por isso, eu achei a decisão acertada, assim como a popularidade do Hitler, do Lula, do Hugo Chaves e até do Fidel (se seguir os padrões de pesquisas cubanas) bateram recordes, e mesmo assim eu continuo pertencendo ao outro lado. O importante, é que num regime democrático que ainda estamos aprendendo a viver, as minorias também devem ser respeitadas, pelo simples motivo de que sem elas, não existiriam as maiorias, e sim um povo amorfo, como alguns querem tornar o povo brasileiro.

P. S.: Eu citei o nome do Poeta no texto porque eu vi o filme inicialmente em seu blog. No entanto, penso que ele ouviu o galo cantar e não sabe aonde. Talvez o que ele entenda deste debate é querer se aproveitar do sistema de cotas para entrar numa universidade sem saber escrever em português, o que não seria justo. Talvez, esteja tomando o lugar do Tiago Padilha, que escreve direitinho apesar de pertencer à blogosfera do Poeta.


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