"Atenção! O luar está filmando." |
Por Luis Fernando Veríssimo (*)
“O fantasma é um
exibicionista póstumo.”
“Pertencer a uma
escola poética é o mesmo que ser condenado à prisão perpétua.”
“Os verdadeiros
crimes passionais são os sonetos de amor.”
“A coisa mais
solitária que existe é um solo de flauta.”
“A verdadeira
couve-flor é a hortênsia.”
“A modéstia é a
vaidade escondida atrás da porta.”
“A vista de um
veleiro em alto-mar remoça a gente no mínimo uns cento e cinquenta anos.”
“Atenção! O luar está
filmando.”
“A alma é essa coisa
que nos pergunta se a alma existe.”
“Os clássicos
escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.”
“‘Le penseur’ do
Rodin... Coitado. Nunca se viu ninguém fazendo tanta força para pensar.”
“A natureza é
barroca, o sonho é barroco... O que teriam vindo fazer neste mundo as colunas
gregas?”
“O mais triste da
arquitetura moderna é a resistência dos seus materiais.”
“O crítico é um
camarada que contorna uma tapeçaria e vai olhá-la pelo lado avesso.”
“A expressão mais
idiota que existe é ‘adeusinho’.”
“Não sou mais que um
poeta lírico,/Nada sei do vasto mundo.../Viva o amor que eu te dedico,/Viva Dom
Pedro Segundo!”
As frases e os pensamentos acima não são nem do Millôr
Fernandes nem do Ivan Lessa, são de outro humorista brasileiro que também já
morreu: Mario Quintana.
Estão no livro “Do caderno H”, que a Alfaguara está
publicando junto com toda a obra poética do Quintana, uma compilação do que ele
escreveu, durante anos, na sua seção do “Correio do Povo” de Porto Alegre.
Quem já gostava do Quintana poeta vai gostar de descobrir
que ele era um dos melhores humoristas do seu tempo.
- - - - - - -
A Alice é um encanto, mas não posso deixar que o Zuenir
Ventura monopolize o gênero crônica-vovô. Também tenho histórias para contar da
Lucinda.
No outro dia o pai e a mãe dela brigavam com ela (alguma ela
tinha feito) e ela respondia à altura — e terminou, dramaticamente, perguntando
aos céus:
— Onde estão meus verdadeiros pais?!
------------
(*) Publicado em 27.01.2013 no Blog do Noblat. Eu até já
usei uma das frases do Mário Quintana em postagem anterior e foi retirada deste
texto do Veríssimo. É um escritor genial prestando homenagem a um poeta genial.
São frases simples mas que envolvem temas profundos e que produziriam artigos e
mais artigos de filosofia. Um exemplo: “Os
clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.”
Quem gosta de ler e não sofreu, nesta atividade, ao encarar a Divina Comédia ou
mesmo o Príncipe (um preferido meu)? E o Ulisses do Joyce? Que, contam, foi o livro que traumatizou o Lula na
infância, levando a seu ódio pela leitura e também por quem lê os clássicos,
como o Fernando Henrique?
Outra: “Atenção! O
luar está filmando.” Quem nunca foi namorada ao luar e sentiu aquela
sensação de estar sendo olhada? Embora hoje os anúncios de filmagem tenham
perdido toda a poesia. Estão em todos os lugares, desde os elevadores até as
repartições públicas. Não há nada menos romântico do que aquelas carinhas
idiotas que encabeçam a frase: “Sorria.
Você está sendo filmado”. Eu prefiro o luar e os Poetas (pelo menos aqueles
que fazem poesia e não os somente blogueiros).
Tenho algo a dizer sobre a última parte do artido do
Veríssimo que não tem nada a ver com os poetas, mas sim com os avós. Eu adoro
ler as crônicas-vovô de todo mundo. Em particular gosto das do Zé Carlos, pois o
conheço. O meu neto Júlio faz tanta bagunça e é tão espirituoso que eu penso em
escrever, um dia, uma crônica-vovó. Não, ele não me chama de Vovó Lulu, mas eu
adoraria que chamasse, porém, não chamaria minhas crônicas (e aqui não vai
nenhuma crítica) de Testemunhos da Vovó Lula. Poderia pecar por falso testemunho.
Quem sabe um dia, com outro título? (LP)
Muito bom seus textos, e suas postagens. É sempre bom "passear" no seu blog. Logo eu que não passo de um cavalo batizado em poesia. Com todo o respeito pelos equinos, que são uns animais muito bonitos. E não raras vezes mais inteligentes.
ResponderExcluir