Neste domingo fui ao cinema. Atirei no que vi e matei o que
não vi. Saí de casa para assistir ao filme “Lincoln”, e ao chegar lá,
descobrimos, eu e meu marido, que foi o pesquisador sobre horários (não confiem
na memória de alguém com mais de 60), que este filme só passaria à noite. A
primeira reação dele, para não gastar com minha entrada, que ainda é inteira,
pois ainda não sou coberta pelo Estatuto do Idoso, foi de querer voltar logo
para casa. Eu bati o pé e mesmo contra os meus princípios, fi-lo sentir que não
aguentava mais exploração de gênero. Tudo isto é jocosidade minha, pois ele não
ousaria tanto. E resolvemos assistir a
outro filme, que, será necessário que o “Lincoln” seja muito bom para que eu
diga que perdi alguma coisa em não assisti-lo, por enquanto.
Entrei na sessão onde passava Os Miseráveis. A história eu já conhecia pois li o romance muito
tempo atrás e já vi vários filmes tendo ele como base. No entanto, este é
simplesmente, primoroso como cinema e como espetáculo, pois, vi depois ele se
baseia num musical da Broadway, com o mesmo nome. E lá, dizem, o que passa é de
primeira.
Confesso que nunca chorei tanto em minha vida. Ou melhor,
nunca choramos tanto em nossas vidas, pois o meu acompanhante deve ter chorado
mais do que eu. Oh! velho frouxo! E olhava em volta de nós, os outros
espectadores tinham olhos vertendo lágrimas como cachoeira.
Isto pode passar a ideia de um sentimentalismo exacerbado, e
penso que estou certa, fazendo isto. E penso até que o romance, escrito na
época do romantismo, pelo Victor Hugo, e numa época difícil para o país, a
França, onde a história se passa, isto não seria uma novidade.
De início, quando vi que era um Musical de cabo a rabo,
pensei que iria ficar nauseada com a música excessiva, e em certos diálogos
cantados isto foi verdade, ficando com saudade de Cantando na Chuva. No
entanto, o tempo do filme foi passando (filme longo) e a história foi crescendo
e crescendo, as lágrimas correndo e correndo, e passou qualquer predisposição
com musicais que pudesse ainda ter.
Meu inglês nunca foi muito bom, mas, o inglês cantado pelo
elenco e tão claro que, no final, eu já estava encontrando as palavras
adequadas para a rima correta. Lógico, me valendo das legendas em português
para não perder nada da história, apesar de já conhecê-la.
Como todos já sabem, o romance e também o filme musical,
gira em torno do cumprimento do dever legal, por um lado, com o Inspetor
Jalvert, e a sensibilidade humana encarnada na personagem Jean Valjeant. Isto
dentro de uma descoberta daquela época e até hoje importante como fato político
de que a pobreza não era um fenômeno natural. Como sempre ocorre, não foi a
pobreza que descobriu isto, e sim alguns intelectuais bem aquinhoados que
resolveram lutar contra uma ordem já caquética e que se mantinha naquele
momento.
Apesar da diferente situação social existente nos dias de
hoje, na qual não nasceria mais um Marx com suas ideias, simplesmente porque o
conceito de classe social agora se refere a quem tem uma geladeira e a quem não
tem, é importante fazer um paralelo entre as duas realidades.
O que mais nos faz chorar no filme, além da música
envolvente e a grandiosidade dos cenários, mostrando Paris da época, é a brutal
vida dos pobres. Um petista naquela época proporia logo um decreto de Bolsa
Família. E como todo petista que se preza, ficaria de fora administrando e
usando os recursos para outros fins. Mas, este papel era feito pela Igreja
Católica através de suas instituições de caridade. Foi ela que transformou o
Jean Valjean num homem rico e protagonista de um grande gesto de sensibilidade
humana.
O principal dilema moral do filme, e que nos deixa muito
embaraçados do ponto de vista político de quem defende um sistema democrático
de direito, onde a lei seja igual para todos e que “dura Lex, sed Lex “, é que alguém (o Valjean), por ter roubando um
pão para matar a fome da filha, passa 20 anos presos, e é seguido
implacavelmente pelo homem da lei (o Jalvert). Só nos resta a esperança e quase
certeza de que os dilemas morais que nos aparecem, desta forma, possam ser
solucionados a partir do indivíduo e não só do Estado. A resposta que devemos
dar se nos perguntarem se, “deveria um
homem que roubou um pão naquela situação ser preso?” Talvez, fosse pegar um pão e
devolver ao homem da padaria, para que este não prestasse queixa à polícia, e
lutar para que o mesmo dilema não aparecesse mais na sociedade. A ideia
sentimentalóide de que ele não cometeu crime nenhum perante a Lei, sempre
deixaria o Renan impune. E eu não compraria vacas para dizer que os recibos de
Renan eram verdadeiros.
Ou seja há situações onde as organizações político/sociais
ainda falham em terem respostas absolutas. O que a Democracia nos dar é a
oportunidade de melhorarmos cada vez mais, unindo a ética à lei, embora, ache
que não chegaremos nunca a perfeição neste nosso plano terrestre. Por hora, só
nos resta chorar, e de preferência com a beleza de um filme que eu aconselho
que assistam.
Mas, mesmo que não consiga vê-lo agora no cinema, ainda
verei o “Lincoln” quando chegar aos
vídeos clubes. Quem sabe eu chore menos
e saia com mais soluções para os meus dilemas morais?
QUANDO PENSO QUE O ESTOQUE DE BLÁBLÁBLÁ SOBRE O POETA, QUE A LUCINHA PEIXOTO ESCREVE É PORQUE NÃO TEM MAIS O QUE DIZER OU ESTÁ ESGOTADO, ELA SE SUPERA. CINEASTICAMENTE FALANDO, NARRATIVA ESPETACULAR!!! COMO FOI DESCRITO NO ENREDO DO FILME: A LEI É DURA, MAS É LEI... SE O CARA MATOU COM UMA OU DEZ FACADAS O CRIME É O MESMO...
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