Forróbom (Foto do Blog do Tiago Padilha) |
Estava escolhendo sobre o que escrever hoje. São tantos os
temas que fica difícil escolher, quando queremos criticar os políticos
brasileiros. Perguntei-me: Será que algum deles fez um gesto sequer que eu
pudesse consistentemente elogiar, nos últimos dias? A cabeça rodou, rodou e
rodou e não encontrou. Então fiquemos nesta pasmaceira de falar mal deles, mesmo
atingindo eu mesma, senão não escrevemos nada.
Ontem, vendo o Jornal Nacional (ainda vejo a TV Globo, na
certa acompanhada de Marlos Duarte, porque para falar tão mal da emissora no
Facebook, ele deve ver a programação completa todos os dias) e vi que um
deputado havia chamado um avião da FAB para levá-lo ao Rio de Janeiro, dizendo
que iria a uma reunião com o prefeito de lá. Até aí tudo bem, apesar dele poder
muito bem ter pegado um avião de carreira, gastando muito menos. O problema é
que ele, ao ver-se senhor do destino com o seu cargo, chamou, para ir com ele,
um monte de parentes (não sei se levou animais juntos, mas nada o impediria de
levar o cachorrinho de sua noiva, para ela não ficar carente enquanto ele se
reunia com o prefeito).
Isto tem um nome que é recorrente no Brasil, desde que Pero
Vaz de Caminha arranjou emprego para parente, pelo simples fato de ser escrivão
da frota portuguesa. É o patrimonialismo.
Esta palavra feia é a coisa mais feia que se pratica no Brasil. Tomar o patrimônio
público, como se fosse privado. Eu lembro ainda que, no saudoso Blog da CIT,
que foi detonado por um boato maldoso do Dr. Filhinho, o Diretor Presidente
gostava muito de falar sobre isto, com viés crítico. Qualquer dia eu ainda vou
desencavar alguns dos seus textos e publicar aqui. Ele falava até de um jacaré
que existia num parque de Bom Conselho e que foi privatizado por um prefeito.
Bem, mas, voltemos ao presente. Esta distorção, que é o patrimonialismo, é a grande chaga do
nosso país. O político, quase sempre, se elege, não para servir ao público, mas
para se servir da coisa pública. Quando a Dilma teria condições de pagar mais
de 3 mil reais para fazer uma maquiagem? Garanto que a Magareth Thatcher, a
Angela Merkel fazem a sua própria, e não com a ajuda do contribuinte. Já a
Cristina Kirchner não sei.
Outra forma sutil de patrimonialismo
é se apropriar do cargo público para tirar proveito próprio em forma de
propaganda eleitoral subliminar. Este é um grande problema, e de difícil percepção.
Por exemplo, quando o governante vai inaugurar uma obra, gasta até mais do que
a obra para aparecer. O Lula fazia comícios imensos, cuja necessidade era
apenas para lançar sua imagem de orador histriônico e pai dos pobres.
E hoje, isto virou uma rotina e que é aceita de bom grado
por todos. Ora, dizem, se os governantes fazem, tem que mostrar o que fizeram.
Tudo funciona como se eles estivessem ali fazendo favor, e não fazendo sua
verdadeira obrigação de servir ao público, dentro do princípio da impessoalidade.
E agora eu pouso na minha terra. Tivemos o Forróbom e dizem
que foi um sucesso total, embora ainda eu ache que tem caroço debaixo deste
angu. O povo de Bom Conselho mais uma vez dançou, no sentido literal e no
figurado. E o que ficou? Ficou o Dandan, que vi declarar nos blogs que fará uma
festa melhor ainda no próximo ano. Ou seja, já começou a campanha pela
reeleição. E a custa de quem? Do Forróbom e do patrimonialismo sutil que ele proporciona. Não seria isto já
financiamento público de campanha?
E ainda mais, sem nenhuma oposição, o Dandan subiu ao palco,
se apropriou dos instrumentos dos músicos pagos com nosso dinheiro e começou a
campanha, fazendo o que ele sabe fazer melhor (pelo menos foi isto que
demonstrou até agora) que é tocar triângulo.
E eu, que faço uma oposição pacífica e ordeira, tenho que
aturar tudo isto calada? Para mim foi a cena que ficou do Forróbom, já que,
infelizmente, não pude comparecer ao evento, foi a foto mostrando o Dandan no
triângulo e outro prefeito tocando zabumba. E, da forma como este Brasil é
levado, não tenho outra alternativa para ser política em Bom Conselho. Terei
que aprender a tocar um instrumento. Já o escolhi e já estou em contacto com o
Padre Marcelo para ficar no lugar do Seu Gabriel, lá na Igreja: A Serafina. Se puder tocar pelo menos nos
dias de missa, é eleição certa.
Não sei se é verdade mas dizem que a ex-prefeita Judith já
começou a aprender sanfona, e orientar o Dr. Filhinho no reco-reco. Ainda bem
que ninguém quis o piston.
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