quinta-feira, 4 de julho de 2013

Patrimonialismo, triângulo e voto


Forróbom (Foto do Blog do Tiago Padilha)


Estava escolhendo sobre o que escrever hoje. São tantos os temas que fica difícil escolher, quando queremos criticar os políticos brasileiros. Perguntei-me: Será que algum deles fez um gesto sequer que eu pudesse consistentemente elogiar, nos últimos dias? A cabeça rodou, rodou e rodou e não encontrou. Então fiquemos nesta pasmaceira de falar mal deles, mesmo atingindo eu mesma, senão não escrevemos nada.

Ontem, vendo o Jornal Nacional (ainda vejo a TV Globo, na certa acompanhada de Marlos Duarte, porque para falar tão mal da emissora no Facebook, ele deve ver a programação completa todos os dias) e vi que um deputado havia chamado um avião da FAB para levá-lo ao Rio de Janeiro, dizendo que iria a uma reunião com o prefeito de lá. Até aí tudo bem, apesar dele poder muito bem ter pegado um avião de carreira, gastando muito menos. O problema é que ele, ao ver-se senhor do destino com o seu cargo, chamou, para ir com ele, um monte de parentes (não sei se levou animais juntos, mas nada o impediria de levar o cachorrinho de sua noiva, para ela não ficar carente enquanto ele se reunia com o prefeito).

Isto tem um nome que é recorrente no Brasil, desde que Pero Vaz de Caminha arranjou emprego para parente, pelo simples fato de ser escrivão da frota portuguesa. É o patrimonialismo. Esta palavra feia é a coisa mais feia que se pratica no Brasil. Tomar o patrimônio público, como se fosse privado. Eu lembro ainda que, no saudoso Blog da CIT, que foi detonado por um boato maldoso do Dr. Filhinho, o Diretor Presidente gostava muito de falar sobre isto, com viés crítico. Qualquer dia eu ainda vou desencavar alguns dos seus textos e publicar aqui. Ele falava até de um jacaré que existia num parque de Bom Conselho e que foi privatizado por um prefeito.

Bem, mas, voltemos ao presente. Esta distorção, que é o patrimonialismo, é a grande chaga do nosso país. O político, quase sempre, se elege, não para servir ao público, mas para se servir da coisa pública. Quando a Dilma teria condições de pagar mais de 3 mil reais para fazer uma maquiagem? Garanto que a Magareth Thatcher, a Angela Merkel fazem a sua própria, e não com a ajuda do contribuinte. Já a Cristina Kirchner não sei.

Outra forma sutil de patrimonialismo é se apropriar do cargo público para tirar proveito próprio em forma de propaganda eleitoral subliminar. Este é um grande problema, e de difícil percepção. Por exemplo, quando o governante vai inaugurar uma obra, gasta até mais do que a obra para aparecer. O Lula fazia comícios imensos, cuja necessidade era apenas para lançar sua imagem de orador histriônico e pai dos pobres.

E hoje, isto virou uma rotina e que é aceita de bom grado por todos. Ora, dizem, se os governantes fazem, tem que mostrar o que fizeram. Tudo funciona como se eles estivessem ali fazendo favor, e não fazendo sua verdadeira obrigação de servir ao público, dentro do princípio da impessoalidade.

E agora eu pouso na minha terra. Tivemos o Forróbom e dizem que foi um sucesso total, embora ainda eu ache que tem caroço debaixo deste angu. O povo de Bom Conselho mais uma vez dançou, no sentido literal e no figurado. E o que ficou? Ficou o Dandan, que vi declarar nos blogs que fará uma festa melhor ainda no próximo ano. Ou seja, já começou a campanha pela reeleição. E a custa de quem? Do Forróbom e do patrimonialismo sutil que ele proporciona. Não seria isto já financiamento público de campanha?

E ainda mais, sem nenhuma oposição, o Dandan subiu ao palco, se apropriou dos instrumentos dos músicos pagos com nosso dinheiro e começou a campanha, fazendo o que ele sabe fazer melhor (pelo menos foi isto que demonstrou até agora) que é tocar triângulo.

E eu, que faço uma oposição pacífica e ordeira, tenho que aturar tudo isto calada? Para mim foi a cena que ficou do Forróbom, já que, infelizmente, não pude comparecer ao evento, foi a foto mostrando o Dandan no triângulo e outro prefeito tocando zabumba. E, da forma como este Brasil é levado, não tenho outra alternativa para ser política em Bom Conselho. Terei que aprender a tocar um instrumento. Já o escolhi e já estou em contacto com o Padre Marcelo para ficar no lugar do Seu Gabriel, lá na Igreja: A Serafina. Se puder tocar pelo menos nos dias de missa, é eleição certa.


Não sei se é verdade mas dizem que a ex-prefeita Judith já começou a aprender sanfona, e orientar o Dr. Filhinho no reco-reco. Ainda bem que ninguém quis o piston.

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